Autor Questão de Crítica
Vol. XIV nº 73, junho a dezembro de 2022
A edição do segundo semestre de 2022 da Questão de Crítica foi realizada com a importantíssima colaboração dos participantes da campanha da revista com o Foco In Cena no Apoia.se. Recebam nossos afetuosos agradecimentos!
Além desta edição, o final de 2022 trouxe também a inauguração de uma nova atividade: o Escuta Aqui, programa de conversas ao vivo que acontece toda terça-feira às 10h no canal da Questão de Crítica no YouTube com Daniele Avila Small e Luciana Romagnolli. Agradecemos a parceria da Luciana, que deu essa ideia e tem colaborado muito para o amadurecimento do canal como uma via dinâmica de debate crítico.
A nossa bissexta seção de traduções ganhou uma importante colaboração, o manifesto palcoFuturo, redigido por um grupo de pesquisa de Harvard, com o título: Um manifesto para o palco futuro: performance é um direito humano. A partir de uma série de encontros, o futureStage – um projeto de pesquisa global dedicado a investigar desafios atuais e perspectivas futuras para o desenvolvimento de casas de espetáculos para a ópera, o teatro e demais artes performativas – reuniu um time internacional e interdisciplinar de pesquisadores e especialistas para identificar e mapear tais mudanças, endereçando-se tanto aos problemas quanto às oportunidades que aparecem com novas configurações de palcos, cidades e públicos. Ao comparar e analisar as melhores práticas e as ideias seminais entre diversas áreas, o grupo pretende produzir anualmente um manifesto/relatório como referência e inspiração para governos, instituições culturais e organizações artísticas no mundo. O texto aqui publicado é um primeiro relatório.
Na seção de conversas, encontra-se a versão original em português de uma entrevista feita por Daniele Avila Small e Lorenna Rocha com Diego Araúja, artista multidisciplinar da Plataforma Aràkà, da Bahia. A entrevista intitulada Tempo crioulo, tempo criativo, foi feita em março de 2022 a convite da Critical Stages, revista da AICT-IACT (Associação Internacional de Críticos de Teatro), que publicou a conversa em inglês.
Nas seções de estudos e críticas, aparecem reflexões sobre espetáculos apresentados nos estados do Rio de Janeiro e de São Paulo, em cartaz nas capitais ou na programação de festivais. É importante observar a importância dos festivais na retomada das atividades presenciais no Brasil depois da pandemia e nesta edição a Questão de Crítica dá atenção a festivais de dimensões e propostas bastante diversificadas.
Daniele Avila Small faz uma reflexão sobre a primeira edição do Festival Mutuá, em “Mutuando saberes no percurso da experiência”. O festival realizado em setembro de 2022, é organizado pelo Polo Sociocultural Sesc Paraty para promover um encontro entre as artes cênicas e os saberes populares. No texto, além de abordar a proposta mesma do festival, ela também faz breves apontamentos sobre as peças que compuseram a programação pensada por Daniela Carmona, Dudude Hermann, Fabianna de Mello e Souza e Maira Jeannyse.
Em “Negro-vida em oposição ao Negro-tema”, Viviane da Soledade se dedica a comentar cada um dos espetáculos do 8° Festival Midrash de Teatro. Idealizado por Nilton Bonder, esta edição teve curadoria de Vilma Melo e Natasha Corbelino, reunindo 20 peças e ações formativas em maio de 2022 no Teatro Café Pequeno, no Leblon.
Presente nesta programação, Turmalina 18-50 recebe uma atenção especial de Viviane da Soledade, que analisa o espetáculo em “Camadas biográficas entre idas e vindas temporais”. A peça conta a trajetória de dor e de lutas contra o racismo por parte de João Cândido Felisberto, Almirante Negro, líder da Revolta da Chibata ocorrida em 1910. João Candido foi morador de São João de Meriti, mesmo território da Cia Cerne, autora do trabalho.
Mas além da atenção dada a estes dois festivais locais de Paraty e do Rio, a Questão de Crítica traz textos sobre espetáculos nacionais e internacionais de dois festivais de SP, o Mirada – Festival Ibero-Americano de Artes Cênicas de Santos e a MITsp – Mostra Internacional de Teatro de São Paulo.
Em “A árvore metálica do vale de cada pessoa”, pode-se ler uma crítica de Lívia Machado para a peça Vale da estranheza, do grupo suíço Rimini Protokol, um monólogo feito por um robô-réplica do escritor e dramaturgo alemão Thomas Melle, também autor da peça e do livro O Mundo às Costas, inspiração para o espetáculo. A peça veio para o Brasil para integrar a MITsp no primeiro semestre de 2022.
Do Mirada, Daniele Avila Small, que foi fazer a cobertura crítica a convite do festival, escreve sobre duas peças peruanas e uma peça de São Paulo. Em “O recurso”, a crítica reflete sobre o teatro como recurso de elaboração de si, a partir da montagem de Hamlet com atores e atrizes com Síndrome de Down e direção de Chela de Ferrari, diretora artística do Teatro La Plaza. “De uma espectadora à distância” aborda a peça Discurso de promoción, do celebrado Grupo Cultural Yuyachkani, a partir dos riscos que a peça dirigida por Miguel Rubio Zapata corre ao encenar o que deseja criticar. Em “Que ele sofre”, ela se dedica a pensar sobre a reiteração das narrativas de sofrimento de vivências de mulheres a partir da peça O que o meu corpo nu te conta? do Coletivo Impermanente, com direção de Marcelo Várzea.
Da programação carioca, ela escreve sobre Uma peça para Fellini, projeto idealizado pela atriz e diretora de teatro Marcia do Valle com o diretor e produtor de cinema Cavi Borges. O espetáculo presta uma homenagem franca e afetuosa ao cineasta italiano e à presença do teatro nos seus filmes. A peça acontece no foyer do Estação Net Rio, em Botafogo, tendo feito parte das ações contra a ação de despejo que ameaçou a continuidade deste espaço tão importante para o cinema nacional na cidade.
A seção de críticas abriga ainda uma crítica de Gabriela Mellao, escrita em um intervalo de colaborações para a Revista Bravo!, sobre a peça mais recente de Gerald Thomas, F.E.T.O. (Estudos de Doroteia Nua Descendo a Escada), espetáculo criado a partir de Doroteia, de Nelson Rodrigues. Segundo Gabriela, Thomas se apropria da maternidade perdida como metáfora para falar sobre a morte – ou o renascimento – da arte, do homem, do país, de um mundo regido por guerras, pela fome, pelo desencanto, em que o desejo se tornou um impulso apático e humanidade, uma qualidade em extinção.
Questão de Crítica – revista eletrônica de críticas e estudos teatrais
ISSN 1983-0300
Vol. XIV nº 73, junho a dezembro de 2022
Vol. XIII nº 72, setembro a novembro de 2021
A edição de 2021 da Questão de Crítica, nosso nº 72, traz mais uma vez, como no ano anterior, alguns textos dedicados à prática do teatro no contexto da pandemia, abordando ações reflexivas, espetáculos online para o público adulto e para o público infato-juvenil, ações realizadas no espaço urbano, outras abordagens dos arquivos audiovisuais da cena contemporânea e outras poéticas de reinvenção, realizadas por artistas que antes se dedicavam apenas às atividades presenciais.
É importante observar que nossas atividades em 2021 contaram com o apoio fundamental dos assinantes da nossa campanha no Apoia-se, realizada em parceria com o Foco In Cena, site do fotógrafo mineiro Guto Muniz, que reúne um imenso repertório de trinta anos de fotografia de espetáculo à disposição do público. Nossos apoiadores nos animaram a dar início a algumas atividades formativas no canal da Questão de Crítica no YouTube, que agora reúne o acervo dos registros em vídeo dos eventos realizados pela revista, que antes estavam no Vimeo.
Neste ano, demos início a uma série de conversas ao vivo, intituladas Trajetórias e Pesquisas, em que artistas (em um primeiro momento, mulheres do teatro do Rio de Janeiro) apresentam seus projetos e inquietações a partir de seus percursos criativos. Nossas primeiras convidadas foram Elsa Romero, Aurora dos Campos e Juliana França.
Na revista, nossa ênfase continua sendo nas críticas de peças, na qual publicamos textos de diversos pesquisadores e artistas. Mas, nesta edição, publicamos uma resenha de um livro de teatro, algo que muito nos interessa e raramente conseguimos fazer. Luah Guimarães escreve sobre Stanislávski e o trabalho do ator sobre si mesmo, de Michele Almeida Zaltron, publicado pela Editora Perspectiva – uma indispensável referência para artistas e professores de teatro.
A seção de estudos traz ainda uma reflexão histórica sobre as mudanças da fotografia de cena, desde o final do século XX até o momento da pandemia, em que as artes da cena mergulharam em uma vertiginosa revolução digital. Em seu artigo, Guto Muniz se pergunta sobre o lugar da fotografia de cena na documentação deste período e divide conosco alguns resultados de sua prática diante das telas, no teatro e na dança.
Na seção de críticas, Viviane da Soledade escreve sobre o infanto-juvenil Nuang – Caminhos da Liberdade, com direção e dramaturgia de Tatiana Henrique. A peça é baseada no livro homônimo de Janine Rodrigues e foi criada no Rio de Janeiro para ser apresentada em plataformas virtuais. No final do ano, Nuang fez apresentações em Angola, a convite do FESTECA – Festival Internacional de Teatro do Cazenga.
Leandro Fazolla, criador do canal de crítica de teatro Cadernos Cênicos, no YouTube, também escreve sobre uma peça voltada ao público infanto-juvenil, O príncipe desencantado. O musical de temática LGBTQIA+ é livremente inspirado no romance inglês Koning en Koning (Rei & Rei), de Linda de Haan e Stern Nijland, e em experiências pessoais do autor e diretor Rodrigo Alfer. Fazolla, em São João de Meriti, assistiu à obra apresentada em São Paulo pelo registro em vídeo compartilhado pelo YouTube.
Daniele Avila Small escreve uma crítica de Meu filho só anda um pouco mais lento, texto do dramaturgo croata Ivor Martinic encenado por Rodrigo Portella em um momento crítico da pandemia. Para lidar com restrições das medidas sanitárias necessárias, o diretor criou uma instalação em forma de labirinto com cenas em televisores em uma sala de exposição do Oi Futuro, no Rio de Janeiro.
Andrezza Alves escreve críticas de dois espetáculos. Um deles, realizado ao vivo pelo Zoom, o outro, presencialmente em um teatro de Lisboa. Se eu falo é porque você está aí é uma palestra-performance do Teatro do Concreto, grupo de Brasília. A peça, dirigida por João Turchi e Francis Wilker, foi criada especialmente para a Complexo Sul 2020, estreando no final de 2020 no Palco Virtual do Itaú Cultural, transmitida das ruas do Distrito Federal. Em 2021, o grupo se apresentou mais duas vezes, no Escala Cultural, festival da cidade paranaense de Maringá, e no FILTE – Festival de Teatro Latino-Americano da Bahia. Já Coleção de espectador_s é um projeto da artista portuguesa Raquel André realizado na Sala Garret no Teatro Nacional D. Maria II, em que ela reúne relatos de onze espectadores e espectadoras que compartilham suas experiências na condição de estar diante de uma peça de teatro ou de alguma outra obra de arte.
Maria Lucas nos oferece dois textos sobre ações diferentes. Ela faz uma crítica da obra em processo Wonder! Vem pra barra pesada, realizada nas comemorações do Dia da Visibilidade Trans, em 2021, do projeto CASA 1. O projeto homenageia a multiartista brasileira Claudia Wonder. Ela também destrincha cada um dos encontros proporcionados pela plataforma Pandêmica, em que diferentes profissionais das artes abordaram aspectos do teatro online como direção, dramaturgia, atuação, música e produção.
Lívia Machado, do Rio de Janeiro, se dedica a pensar, a partir de uma discussão sobre cinema, sobre Cada vez que alguém diz “isso não é teatro”, uma estrela se apaga, do grupo mexicano Lagartijas Tiradas Al Sol. A obra veiculada no canal do Cena Contemporânea, festival internacional de teatro de Brasília, no YouTube em 2020, se tornou uma referência para a reflexão sobre as práticas do teatro pela internet – e sobre as investigações de linguagem do teatro em geral.
Bruna Testi, de Niterói, faz uma reflexão sobre a versão online de Mata teu pai. O solo de Débora Lamm dirigido por Inês Viana no Rio de Janeiro está disponível no canal do Sesc SP no YouTube, no projeto #EmCasaComSesc. Na sua versão presencial, a peça circulou bastante pelo Brasil e tem o texto de Grace Passô foi publicado pela Editora Cobogó.
Dodi Leal escreve, desde Porto Seguro sobre uma sobre duas formas breves apresentadas no Palco Virtual do Itaú Cultural, no âmbito da mostra dedicada às relações entre arte e ciência. As duas criações são da cidade de São Paulo. Das águas que atravesso: um diário de vida que ancoro, com direção de Jhoao Junnior, é um diário fílmico sobre os apontamentos de doulagem da paliativista Renata Meiga. Ela acompanha pacientes terminais, dando assistência à sua passagem. Já O futuro não é depois: uma performance palestrativa sobre Cazuza e Herbert Daniel, é um trabalho realizado por Fabiano Dadado de Freitas e Ronaldo Serruya, que no final do ano veio a estrear presencialmente como um solo de Serruya no Centro Cultural São Paulo. Ambos têm se dedicado à pesquisa sobre o HIV nas artes, e têm compartilhado saberes no curso Como eliminar monstros, que teve diversas turmas online nos últimos dois anos, quando a pandemia da COVID-19 lançou novos olhares sobre a epidemia de AIDS da segunda metade do século XX.
O processo de criação deste último trabalho, com sua história pregressa e seus desdobramentos, é também o tema do texto de Ronaldo Serruya, publicado na seção de processos, com o título “Ancestralidade positiva – um resgate das existências que escapam”.
A seção de processos conta ainda com um artigo de Julia Naidin sobre o trabalho mais recente do Grupo Erosão, sediado na Praia de Atafona, no distrito de São João da Barra, que se situa quase na divisa do Rio de Janeiro com o Espírito Santo. O projeto Museu Ambulante foi realizado presencialmente na cidade e seu registro audiovisual se tornou um documentário que já participou de alguns eventos, entre eles, o FILTE-Bahia.
Juracy de Oliveira, diretor da Pandêmica, compartilha aprendizados e questionamentos levantados nos encontros com artistas de teatro no curso online Teatro e Virtualidade, realizado em julho de 2021, no qual estiveram presentes integrantes dos grupos Carmin, Clowns de Shakespeare, Teatro de Extremos, entre outros. Sediado no Rio de Janeiro, o artista de Fortaleza reuniu experiências de diferentes cidades.
Henrique Fontes, diretor do Grupo Carmin, de Natal, escreve sobre as implicações da criação de A frasqueira de Jacy, uma versão online, mais curta e realizada com outros aportes, do espetáculo Jacy, que foi apresentado pelo grupo em diversas cidades do Brasil.
Glauber Coradesqui faz uma reflexão oportuna sobre o registro em vídeo de Cancioneiro Terminal como um arquivo inventado. O Grupo Mexa estava prestes a apresentar seu trabalho na MITsp em março de 2020 quando as restrições aos espaços fechados começaram a ser colocadas em prática na capital paulista e o grupo precisou apresentar o trabalho em um espaço aberto. A lida com este processo e sua documentação é exemplar do turbilhão de mudanças que se desencadearam desde aquele momento para artistas da cena.
Em 2022, seguiremos por aqui!
Se você aprecia o trabalho da Questão de Crítica, faça parte dessa história colaborando com a gente no Apoia-se! Com essa campanha, firmamos uma parceria com o Foco in Cena, unindo nossos esforços pela memória e pelo pensamento sobre as artes cênicas no Brasil. Junte-se a nós e ajude a compartilhar! apoia.se/qdc-fic
Questão de Crítica – revista eletrônica de críticas e estudos teatrais
ISSN 1983-0300
Vol. XIII nº 72, setembro a novembro de 2021
Vol. XII nº 71, junho a dezembro de 2020
A 71ª primeira edição da Questão de Crítica reúne textos escritos e/ou finalizados durante a pandemia da COVID-19. Em meio a um número imenso de mortes e uma situação política revoltante, aqui tentamos de algum modo dar continuidade à reflexão sobre as artes da cena e às formas possíveis de se fazer teatro sem o convívio presencial, de carne e osso, por assim dizer.
Publicamos alguns textos sobre teatro online, que trazem perspectivas distintas sobre essa prática e sua repercussão. Alguns deles foram produzidos ainda no primeiro semestre de 2020. Patrick Pessoa escreve uma crítica de Onde estão as mãos esta noite?, solo de Karen Coelho com texto de Juliana Leite e direção de Moacir Chaves. Daniele Avila Small faz a crítica de 12 pessoas com raiva, da plataforma Pandêmica Coletivo Temporário de Criação, texto de Reginald Rose adaptado por Juracy de Oliveira, que também assina a direção. A atriz Nicole Cordery escreve sobre o processo criativo de Pandas ou Era uma vez em Frankfurt, peça de Matei Visniec adaptada para o Zoom com direção de Bruno Kott, na qual ela atua.
Na seção de traduções, Gyl Giffoni e Yenny Agudelo apresentam a versão para o português do artigo da pesquisadora mexicana Shaday Larios sobre a relação entre o espaço doméstico e o teatro de bonecos no contexto da pandemia intitulado Casa e teatro de objetos: Intimidade do espaço doméstico em tempos de distanciamento.
Em um segundo momento, Lorenna Rocha escreve um artigo de fôlego intitulado “Circuito virtuais pretos“, mapeando criações online de artistas negres no Brasil e se posicionando diante da repercussão de tais trabalhos. Maria Lucas lança seu olhar sobre a vídeo-performance Gaia, de Nina da Costa Reis e Eduardo Ibrahim, apresentada no YouTube pela Pandêmica, que, ao longo de 2020, se tornou uma importante plataforma de realização das artes cênicas na Internet.
Essa edição conta ainda com dois textos sobre Marcha a ré, realização do Teatro da Vertigem que assumiu a forma de um cortejo de carros em marcha a ré na cidade de São Paulo e de uma obra audiovisual dirigida por Erick Rocha. Por um lado, Antonio Duran, integrante do grupo, escreve sobre o processo de criação e, por outro, Luiz Fernando Ramos escreve sobre a ação de uma perspectiva crítica.
Viviane da Soledade analisa um espetáculo estreado em dezembro de 2019 no Rio de Janeiro: Hoje eu não saio daqui, criação mais recente da Cia Marginal que aborda a presença de imigrantes angolanos na Maré, realizada no Parque Ecológico da Maré, como parte do projeto Refúgio.
A seção de conversas traz um projeto de Ivana Menna Barreto. A série de entrevistas Histórias do Corpo é um projeto de conversas sobre histórias do corpo no Brasil, assim no plural, porque são muitas as suas versões, e muitos também os caminhos para onde apontam. Sem perder de vista as contaminações de outras culturas, a colonização, as insurgências e lutas nelas implicadas, as histórias são contadas por artistas, pesquisadores, e artistas-pesquisadores, porém sem uma preocupação com a história cronológica de causa e efeito, no sentido do que vem antes e o que deveria vir depois. Buscamos ouvir algumas experiências com certo recuo no tempo, para deslocar e colocar em perspectiva acontecimentos do passado que ressoam no presente. Publicamos conversas com Ana Teixeira, André Masseno, Christine Greiner, Verusya Correia, João Carlos Ramos e Marilza Oliveira.
No final de 2020, a Questão de Crítica realizou em parceria com o Complexo Duplo a segunda edição da Complexo Sul – Plataforma de Intercâmbio Internacional. Publicamos aqui o texto de uma das palestras apresentadas nesse evento online, o ensaio de Daniele Avila Small “Palestra-performance, crítica de artista”. Essa e as demais palestras e conversas da programação estão no canal do YouTube do Complexo Duplo.
Por falar em You Tube… Depois de 10 anos no Vimeo, abrimos um canal no YouTube e, em 2021, realizaremos ações por lá. É só se inscrever no nosso canal e acompanhar!
Questão de Crítica – revista eletrônica de críticas e estudos teatrais
ISSN 1983-0300
Vol. XII nº 71, junho a dezembro de 2020
Vol. XII nº 70, novembro de 2019 – maio de 2020
A edição de número 70 marca os 12 anos da Questão de Crítica como um período incerto, de tentativa de retomada, mas também de muitas dúvidas. Essa edição compreende textos publicados entre novembro de 2019 e maio de 2020, ou seja, entre um final de ano em que se torna cada vez mais perceptível o imenso desmonte da cultura no Rio de Janeiro, e o início do processo de isolamento social, tendo em vista a pandemia do novo coronavírus.
A seção de críticas começa com um texto de Juliana França, feito a convite da revista, para marcar a breve temporada de Gota d’água {preta}, montagem paulista do Coletivo Negro, no Sesc Ginástico no Rio de Janeiro. Resgatando uma apresentação vista em julho de 2019 e um texto escrito mas não publicado na época, Caio Riscado escreve sobre Mão, que tem direção de Renato Linhares.
A convite da MITsp – Mostra Internacional de Teatro de São Paulo e do British Council, Daniele Avila Small foi ao Festival Internacional de Teatro de Edimburgo em agosto de 2019 para fazer uma cobertura do Fringe e do Edinburgh Showcase do British Council. O artigo aqui publicado aborda diversos espetáculos, incluindo duas peças que estiveram na MITsp 2020, O pedido e Burguerz. Está disponível também em inglês, na seção de traduções.
Como um recorte da sua participação como crítica convidada do 34º Festivale, publicamos dois textos de Daniele Avila Small: uma crítica da peça Festa de inauguração, trabalho do Teatro de Concreto, de Brasília; e uma crítica de um espetáculo que já tem quase 20 anos de estrada, Hysteria do Grupo XIX de Teatro. Mesmo que indiretamente, essa peça se relaciona com a criação mais recente de uma das atrizes do grupo, Janaina Leite, autora e diretora da peça-palestra Stabat Mater, que também recebe crítica nessa edição. A crítica de Stabat Mater também tem uma versão em inglês.
Ainda na seção de críticas, Rui Pina Coelho escreve sobre Osmarina Pernambuco não consegue esquecer, espetáculo de Keli Freitas encenado no Teatro D. Maria II, em Lisboa, enquanto Daniele Avila Small escreve sobre uma leitura do texto de Keli Freitas, realizada por seu parceiro de criação nesse projeto, Alex Pinheiro, com direção de Inez Viana. A leitura fez parte da programação do Tempo Festival em novembro de 2019.
Renan Ji escreve sobre Três maneiras de tocar no assunto, solo de Leonardo Netto, que assina a dramaturgia. A peça, que tem direção de Fabiano de Freitas e foi viabilizada por financiamento colaborativo, estreou no Rio de Janeiro no Teatro Poeira e estava no início da temporada em São Paulo quando os teatros foram fechados.
A seção de processos traz dois textos. A cenógrafa Aurora dos Campos escreve sobre um trabalho realizado na cidade do Porto, onde vive atualmente. Três percursos e um desvio para um mesmo fim é um projeto de percursos performativos que funcionam com instruções para serem vivenciados por um grupo de participantes e é parte de uma pesquisa da autora sobre a dimensão da ficção no quotidiano e em ambiente urbano. Luiza Rangel, diretora, atriz e professora, escreve sobre a experiência de criação de Fale sobre mim em parceria com um grupo de alunos e alunas adolescentes de uma escola municipal localizada no Conjunto Urucânia, periferia da Zona Oeste do Rio.
Na seção de estudos, Daniele Avila Small especula sobre o papel do teatro filmado no contexto atual a partir do registro audiovisual de Hamlet, montagem de 2006 do The Wooster Group com direção de Elizabeth Le Compte, realizada em diálogo com um registro histórico de uma montagem da mesma peça com direção de John Gielgud e tendo Richard Burton como protagonista. Renan Ji tece relações entre artes cênicas e pedagogia em diálogo com espetáculos que estiveram no Brasil em março de 2020 na MITsp, logo antes do início do isolamento social.
Quanto ao Prêmio Questão de Crítica, que desde 2012 realizávamos no primeiro semestre de cada ano, decidimos não mais fazê-lo, pelo menos por um tempo. A premiação demandava um trabalho não remunerado contínuo, ao longo de todo o ano, que não tivemos mais como sustentar. Lembraremos com carinho das oito edições que conseguimos realizar e agradecemos muito a colaboração de todos os membros do júri, artistas e técnicos que contribuíram com a realização das festas de premiação, que nos trouxeram tantas alegrias. Esperamos ainda proporcionar outros encontros, de outras maneiras, assim que possível.
Fotos em destaque: Osmarina Pernambuco não consegue esquecer – leitura (divulgação); Osmarina Pernambuco não consegue esquecer – espetáculo (Filipe Ferreira); Stabat Mater (André Cherri) e Gota d’água {preta} (Sérgio Silva).
Questão de Crítica – revista eletrônica de críticas e estudos teatrais
ISSN 1983-0300
Vol. XII nº 70, novembro de 2019 – maio de 2020
Vol. X nº 69, 2018
Em 2018 a Questão de Crítica completa 10 anos de atividades. Comemoramos duas vezes. A primeira, com um encontro na MITsp – Mostra Internacional de Teatro de São Paulo, realizado no Instituto Goethe, no qual pudemos relembrar a nossa história e falar dos planos para o futuro. A segunda comemoração foi no nosso Prêmio Questão de Crítica, realizado na última edição da festa Mise-en-scène, no Vizinha 123, no Rio de Janeiro.
Estamos revendo a dinâmica e a periodicidade de publicação da revista, experimentando publicar textos sem esperar que se feche uma edição, como estávamos fazendo antes. Essa edição, que está se formando aos poucos, conta com artistas convidados para escrever sobre seus próprios trabalhos ou sobre trabalhos de seus colegas, seus contemporâneos.
Na seção de processos, Rodrigo Portella escreve sobre o processo criativo da peça Tom na fazenda. Fabiano de Freitas escreve sobre Balé Ralé, o mais recente espetáculo do seu grupo, o Teatro de Extremos. Phellipe Azevedo escreve sobre Arame farpado, espetáculo criado no contexto do curso de Artes Cênicas da UNIRIO. Francis Wilker, Glauber Coradesqui e Giselle Rodrigues escrevem sobre uma experiência do grupo Aisthesis em Lisboa, em um intercâmbio com a coreógrafa Vera Mantero.
Além disso, dois artistas foram convidados a partilhar suas experiências em atividades pedagógicas da MITsp. Sara Antunes escreve sobre a oficina com a pesquisadora espanhola Victoria Perez Royo e Carlos Carretoni divide suas experiências na oficina realizada com o encenador polonês Krystian Lupa.
Diego de Angeli escreve sobre a proposta de criação dramatúrgica de A tríplice fronteira, projeto que envolve 5 artistas do Brasil, da Argentina e do Paraguai. A reflexão envolve dois textos, um publicado na seção de processos, que aborda mais diretamente os aspectos da criação, e outro publicado na seção de estudos, que fala sobre as premissas dramatúrgicas de um texto de Pier Paolo Pasonini, intilulado Calderón.
A seção de estudos traz ainda uma resenha do livro O teatro negro em perspectiva: dramaturgia e cena negra no Brasil e em Cuba, de Marcos Antônio Alexandre, por Soraya Martins e Anderson Feliciano, e um artigo do crítico e dramaturgo Rui Pina Coelho, de Lisboa, sobre o trabalho de Tiago Rodrigues, do Mundo Perfeito, estrutura sediada na mesma cidade.
Na seção de conversas, a atriz Tainah Longras entrevista a atriz e diretora Ana Kfouri, que fala sobre a proposta do CEAK, espaço inaugurado este ano no Cosme Velho, no Rio de Janeiro.
Caio Jade, do MONART – Movimento Nacional dos Artistas Trans, escreve sobre representatividade trans.
Na seção de críticas, Mariana Nunes escreve sobre Preto, da companhia brasileira de teatro; Tatiana Tibúrcio escreve sobre Traga-me a cabeça de Lima Barreto, solo de Hilton Cobra dirigido por Fernanda Julia; e Patrick Pessoa escreve críticas das peças Irina, de Raquel Iantas, Um animal que ronda, dirigida por Joelson Gusson, Tripas, de Pedro Kosovski, Há mais futuro que passado – um documentário de ficção, com direção de Daniele Avila Small, e Colônia, solo de Renato Livera com direção de Vinicius Arneiro.
Foto da home: Guto Muniz | Foco In Cena no Instituto Goethe – SP na programação dos Olhares Críticos da MITsp 2018.
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Vol. X nº 69, 2018