Circuitos virtuais pretos

19 de outubro de 2020 Estudos

Quais são os monumentos que devemos derrubar no teatro? Essa foi uma pergunta enunciada por Grace Passô durante uma live do projeto Perspectivas 20, organizada pela Escola de Arte Dramática da Universidade de São Paulo (USP). Na ocasião, influenciada pela derrubada de estátuas realizadas por manifestantes de diferentes países do Ocidente, que foram às ruas contra a violência racial, policial e em protesto ao assassinato de George Floyd, a reflexão se rearticulou dentro do campo e da linguagem teatral, a partir de uma primeira associação feita por Passô, apontando que ações como essa levam a público o debate sobre as disputas de narrativa.

Nesse contexto, ao comentar a performance Frequência 20.20, realizada por ela na programação #EmCasaComSesc do Sesc São Paulo, e sobre aquilo que vem sendo elaborado artisticamente no meio virtual/digital, Grace Passô afirmou que tem percebido nessas produções um apego a certos elementos cênicos, os quais, muitas vezes, estão enraizados em códigos burgueses que nos impedem de experimentar e ativar processos de radicalização, como os realizados pelos manifestantes. Para a atriz e diretora, esse quadro, além de desenhar um apego estético e de linguagem, também manifesta hierarquias que estão historicamente situadas. Para ela, o gesto de derrubada, de ocupação ou de retomada do teatro possibilitariam repensar aquilo que já está posto em nossas convenções e repertórios, provocando deslocamentos em relação a esses padrões que comumente nos impedem de reinventar no atual cenário.

Quando fui convidada para escrever para esta edição da Questão de Crítica (RJ), um dos meus primeiros movimentos foi tentar articular algumas peças ou experimentos cênicos digitais que estivessem fora do circuito midiático hegemônico, nessa tentativa de deslocamento daquilo que entendo enquanto apego nos regimes estéticos, de produção e de fruição. Essa investida seria um pequeno gesto político possível, uma vez que já me parece evidente que essas pontes digitais construídas dentro do ambiente virtual têm (re)produzido certas hegemonias. Nas barreiras comuns aos meios digitais, nossas bolhas virtuais e algoritmos reforçam a construção de nichos específicos de circulação de informação, o que exige esforço para habitar outros circuitos.

O fato de estar articulando pensamentos sobre os teatros online a partir de Pernambuco ainda-já parece ser um contra-movimento. Daqui de onde estou, as obras, atividades e reflexões se manifestam dentro de suas particularidades e constelá-las junto a outros contextos que estão ao meu alcance faz um duplo movimento: articulá-las inseridas num mapa um pouco mais amplo e trazê-las para perto de experiências que, de alguma forma, têm passado despercebidas por certos espaços de reflexão sobre o que tem sido os teatros online.

Não venho aqui dar voz a ninguém (pois todas a têm!), nem pleitear representatividade. Mas esse me parece ser um dilema ético-político, uma vez que já é possível perceber que alguns regimes de discursos estão se perpetuando dentro do circuito de reflexões sobre o tema, mais uma vez demarcando lugares sociais específicos, deixando evidenciar quem está historicamente apto a traçar e enunciar reflexões sobre a linguagem teatral, agora sob as problemáticas que se manifestam dentro desta conjuntura, sobre seus impactos na criação, produção e circulação das obras, assim como na relação entre artistas-obras-espectadores.

Nesse movimento, essa seleção sobre quem fala, sobre o que se fala e como se fala, parece estar (re)configurando exclusões, as quais impactam diretamente as narrativas sobre as produções artísticas negras, dentro do período pandêmico. Onde estão essas obras? Quais pensamentos estão sendo (re)elaborados sobre os teatros negros nesse momento? Sob quais condições materiais e modos de sobrevivência estão atravessando as criações pretas?

Comecei a perceber, por exemplo, que algumas narrativas começaram a se edificar com uma gramática bastante específica, fundadas, mais uma vez, na hierarquia. Aqui parece ser uma das possíveis formas de manifestação do apego, como Passô havia sinalizado em sua fala pública. O gosto pelo novo, pelo pioneirismo e pela grandiosidade (re)começaram a tomar conta das leituras e da publicização das obras produzidas e veiculadas no ambiente virtual, como historicamente a mídia hegemônica e parte da crítica cultural o fazem. Já temos até mesmo narrativas fundantes, logo excludentes, referente às obras de teatro digital/virtual.

No blog do crítico e jornalista Miguel Arcanjo, o texto sobre o espetáculo A Arte de Encarar o Medo, da Companhia Os Satyros (SP), publicado em junho deste ano, tem a seguinte formulação:

“Trata-se da primeira grande produção teatral brasileira em formato digital online com numeroso elenco de 17 intérpretes do Satyros, a partir de dramaturgia de Ivam Cabral e Rodolfo García Vázquez, e direção deste último.” (grifo meu)

O espetáculo dos Satyros (SP) é um dos mais comentados pela mídia hegemônica. Veículos como Veja Rio, Estadão, Observatório do Teatro e o próprio Blog do Arcanjo, dedicaram mais de uma matéria ou entrevista sobre A Arte de Encarar o Medo. Mas o problema aqui não é a peça. É, na verdade, aquele negócio do “perigo de uma história única”, que a Chimamanda Ngozi Adichie nos falou no TEDGlobal 2009. O que está dentro do regime do visível, ao ser reiterado sob viés de unicidade, cria hegemonias e – não podemos esquecer – hegemonia é poder. Um outro exemplo desse tipo de elaboração discursiva, é o título da crítica publicada pelo mesmo jornalista, sobre o espetáculo O filho do presidente, do Teatro Caminho (RJ): O filho do presidente é feito histórico no teatro brasileiro.

Entre as principais plataformas de crítica teatral brasileiras como Horizonte da Cena (MG), Questão de Crítica (RJ), Ruína Acesa (SP), Farofa Crítica (RN), Teatrojornal (SP), Satisfeita, Yolanda? (PE) e Quarta Parede (PE), é possível perceber como o volume de textos críticos publicados reduziu consideravelmente durante o contexto de pandemia. Boa parte dos veículos citados estão se dedicando, de maneira mais assídua, à elaboração de agendas semanais ou diárias, divulgando peças e experimentos cênicos. A média de textos publicados nos sites e blogs mencionados está entre 1 e 5, o que dificulta produzirmos documentos e narrativas que escapem desse “circuito de um nome só”, o qual se (re)monta através do fetiche da (suposta) novidade e se alimenta do desejo pelo inaugural, deixando escapar outros mundos e formas de se fazer teatro neste aqui-e-agora.

Fazendo mais algumas pesquisas pela Internet, é fácil perceber que obras como Pandas ou Era Uma Vez em Frankfurt ou o projeto digital do Teatro Oficina são facilmente replicados. Alguns grupos e artistas, ou atrizes e atores do teatro comercial e da televisão como Lília Cabral, Marieta Severo, Paulo Betti, por exemplo, dispõem de um espaço amplamente consolidado na mídia, o que também facilita a circulação de suas obras nesse período. Mas, é justamente esse lugar instituído num tempo outro que reforça o percurso que aqui estou apontando enquanto problema. Se esse era mesmo um momento de nos repensarmos e nos reformularmos, por que ainda estamos reproduzindo os mesmos gestos de invisibilização e reforçando lugares anteriormente construídos?

Por acreditar na luz negra como outra possibilidade de ler o mundo como conhecemos, intuo ser urgente nos aproximarmos dessas poéticas, trazendo ao debate público algo que tem surgido no incômodo dentro de longas conversas e da dificuldade de encontrar registros sobre as produções artísticas negras no momento atual, assim como da percepção de como hegemonias também se formam e se atualizam a partir de formulações e estatutos que, sutilmente ou não, se repetem.

Aqui, estou considerando as performances negras online, se assim podemos chamá-las, a partir do lugar de autoria e me aproximando dessas produções enquanto obras que estão relacionadas às experiências das populações negras no mundo (que não são só sobre racismo e nem só afrocentricidade, mas também podem vir a ser). Nessa constelação artística de obras apresentadas em plataformas como YouTube, Zoom, Meets, entre outros, também apontarei alguns debates e cursos realizados por artistas e pesquisadoras pretas de várias linguagens, com foco no campo teatral e da performance, que estão circulando nesse contexto de pandemia.

Dos circuitos de saberes e possibilidades epistemológicas

Se estão havendo esforços de tradução, por parte dos artistas, de seus trabalhos que eram apresentados de forma presencial, espaços de encontros e de debates sobre as artes negras também passaram a ser reconfigurados na Internet. Esses foram os casos da Terça Crespa, do grupo Os Crespos (SP), e da Segunda com Griot, do Segunda Preta (MG). Pensados de maneira expandida, articulando não apenas artistas e demais trabalhadores do campo teatral, mas também da dança, da literatura, entre outros, ambos os projetos movimentaram o Instagram e o Youtube com suas convidadas. Além de traçar discussões sobre as cenas e artes negras, esses espaços fomentaram análises e especulações para as produções negras no cenário pós-COVID-19.

Se o primeiro se dedicou a se aproximar mais do formato que executavam antes da pandemia, o projeto Segunda Preta (MG) apostou em se conectar com as pessoas negras que, de alguma forma, abriram caminhos dentro do cenário artístico para os mais jovens. Articulando passados ao presente, a atividade contou com a presença de Hilton Cobra, Zebrinha, Dja Marthins, José Araújo, Macedo Griot, Eve Penha, Veralinda Menezes, Filó Filho, Ruth Pinheiro e Wilson Rabelo. O quadro Segunda com Griot, no Instagram, iniciou-se com Mestre Casquinha, conhecido por ter feito a preparação corporal, através da capoeira, dos atores do espetáculo Besouro Cordão de Ouro (2006).

Já o Confraria do Impossível (RJ) lançou o projeto Liga Nós, no Instagram, no qual realizaram lives convidando artistas das artes negras contemporânea que, junto a um dos integrantes do grupo, conversaram sobre temáticas do universo artístico, enquanto um(a) terceiro(a) convidado(a) registrava o encontro na modalidade escrita, construindo um conjunto de artigos a ser publicados digitalmente na Revista Liga Nós, pela Editora do Impossível. Entre algum dos convidados, estiveram Rodrigo França, Aza Njeri, Hilton Cobra e Márcio Libar.

Além das iniciativas promovidas por tais grupos, outros projetos, grupos e instituições, como o Centro Cultural de São Paulo, estão realizando lives, tanto no Instagram quanto no Youtube, convidando artistas e pesquisadoras pretas para compartilhar seus saberes e suas reflexões: Dramaturgia Negra no Brasil, por Dione Carlos (MG), na Biblioteca Mário de Andrade (SP); Produções das mulheres e a ancestralidade na cena teatral, por Naná Sodré (PE) e Onisajé (BA), na Conecta! (PE); Tempo Espiralar, Corpo Tela e Cenas da Performance Negra, por Leda Maria Martins (MG), em Perspectivas 20, da Escola de Arte Dramática da Universidade de São Paulo (SP); Teatro negro e representatividade, por Naná Sodré, em Conversando Pitangas, do Teatro Agridoce (PE); entre outros.

Dos circuitos pedagógicos: cursos e oficinas 

O projeto Escola de Teatro Preto iniciou suas atividades em maio de 2020, com mais de 900 inscritos. A proposta foi idealizada pela equipe de pesquisa, criação e produção do espetáculo Pele Negra, Máscaras Brancas, dirigido por Onisajé (BA). Integrando convidadas e convidados de diferentes poéticas e de diversificadas correntes de pesquisas acadêmicas, o primeiro módulo do curso online contou com a participação de Leda Maria Martins, Mônica Santana, Evani Tavares Lima, entre outros.

Já no seu segundo módulo, a iniciativa dedicou-se a apresentar espetáculos de teatros negros relacionando-os a um eixo de produção de cada obra. Com a temática visualidades, Diego Araúja apresentou QUASEILHAS, espetáculo produzido pela Plataforma Àràká; a aula-conferência sobre musicais negros teve participação de Elísio Lopes Júnior, de Ivone Lara: um sorriso negro, e Larissa Luz, de Elza, o musical. Ao todo foram 10 entrevistas, somadas às 15 aulas online ministradas por artistas, docentes e técnicos da Universidade da Bahia e de outras instituições do estado. Através do Google Classroom, foram compartilhadas referências bibliográficas para a mediação das conversas, e no Whatsapp, os(as) participantes poderiam fazer perguntas aos convidados durante a atividade. O terceiro módulo do projeto foi iniciado no segundo semestre de 2020, dedicando-se a traçar uma cartografia das performances negras brasileiras, a partir da publicização de obras e artistas negros, discutindo sobre questões que envolvem a criação, produção e circulação desses trabalhos. Transmitidas pelo YouTube, os encontros ainda podem ser visualizados no canal Estudos em Teatro Negro.

Apesar de não estar interessada em narrativas fundantes ou em marcos, é inegável que o projeto se destaca pela articulação de saberes que nos apontam possibilidades epistemológicas diversas para nos aproximarmos das cenas negras contemporâneas. Esses conhecimentos, além de nos auxiliar “a desenvolver novas chaves de (re)leituras dos teatros negros”, como já afirmou Guilherme Diniz, em Crítica da Razão [TEATRAL] Negra, no contexto em que esbarramos novamente com um cenário que se edifica sob a exclusão dessas produções, a iniciativa simboliza um esforço histórico de reafirmar e publicizar as narrativas e leituras pretas sobre as cenas teatrais brasileiras, abrindo e (re)criando espaço para os teatros e performances negras.

O Goethe-Institut Salvador-Bahia (BA), em parceria com o site Melanina Digital, criou a Sala de Dramaturgia Virtual, onde, por algumas semanas, as dramaturgas Maria Shu, Mônica Santana, Diego Araúja, Aldri Anunciação e Jhonny Salaberg escreveram coletivamente um texto inédito para teatro. O público pode acompanhar o processo por meio de um documento aberto no Google Forms, em que as artistas recebiam sugestões do público. Além disso, alguns debates públicos foram realizados durante o processo, criando outro espaço de troca entre artistas e público, nessa criação colaborativa. No fim da atividade, Ar-f-ar foi apresentado através de uma leitura cênica, com a presença das atrizes Laís Machado, Márcia Limma, Marina Esteves, Caboclo de Cobre, Filipe Ramos e Gustavo Melo. A apresentação ainda pode ser vista no YouTube, no canal Goethe-Institut Salvador-Bahia.

Dentro da modalidade de cursos/oficinas online, uma série de atividades formativas estão sendo desenvolvidas por artistas e pesquisadores negros de diversas regiões do país: Dramaturgia Negra: A palavra viva, ministrado pela dramaturga Dione Carlos (MG), através do Itaú Cultural (SP); Dramaturgia Afrodiaspórica: um foco na construção de narrativas negras, por Onisajé (BA), no programa Formação Continuada em Teatro: Conexões Contemporâneas, do Vila das Artes (CE); Dramaturgia dos Orixás, por Agri Melo (PE); Um mergulho no teatro antropológico, por Grupo O Poste (PE), através do edital #CulturaEmRedeSescPE; A cena que habita em mim, por Brunna Martins (PE); Olhares Negros na Identidade Teatral, por Alexandre de Sena (MG), dentro do projeto segundaPRETA (MG); Ilé èkó Ara Dúdú – Escola do Corpo Negro, por Marconi Bispo (PE), em Casa da Ribeira (RN); O ator total, por Samuel Santos (PE), do Grupo O Poste (PE); Teatro, memória e contemporaneidade de um teatro que reexiste, por Wallace Lino (RJ), da Cia Marginal (RJ), entre outras.

Além de possibilitarem a continuidade de pesquisas desenvolvidas por grupos, artistas e pesquisadores/as, essas iniciativas também demarcam o quadro de tentativas para contornar, por vezes, as dificuldades financeiras dos(as) realizadores(as), construindo possibilidades de subsídios para a manutenção de seus espaços físicos, como no caso do Grupo O Poste (PE), na campanha Apoie o Espaço Poste – Não deixe fechar, e/ou de si mesmos.

Dos circuitos de possibilidades poéticas (e políticas): sobre alguns projetos e festivais

Diante da impossibilidade dos encontros e da sensação de abismo provocada pelos instantes iniciais da quarentena, o campo artístico, num primeiro momento, começou a abrir seus pequenos museus, disponibilizando suas obras realizadas antes do contexto de pandemia, por meio de arquivos audiovisuais. Se num primeiro momento esses registros passaram a ser vistos como uma ameaça ao teatro, a discussão do que é ou não é determinada linguagem passou a ter outros contornos: Quem possui condições materiais para filmar seus próprios trabalhos? Como estamos produzindo nossos arquivos audiovisuais? Como estão sendo mediados esses arquivos?

Perguntas como essas atravessaram o curso Crítica de Artista | Crítica de Arquivo, ministrado por Daniele Avila Small, logo após a publicação do seu texto O fantasma do teatro. Além de dividir sua relação enquanto espectadora, para refletir sobre a questão da espectatorialidade, o texto de Small já nos apontava sobre a necessidade de olharmos para os arquivos de maneira menos reativa, “trazendo-os para o presente, recontextualizando-os, colocando-os sob a perspectiva desse aqui e agora em perigo em que estamos vivendo”, pensando-os também enquanto instrumentos pedagógicos potentes que nos possibilitariam conhecer outros mundos, fazer perguntas a eles, colocá-los em relação, sobretudo os arquivos contemporâneos. Nesse contexto de múltiplos movimentos e muitas dúvidas, três ações reuniram diferentes conjuntos de arquivos audiovisuais e promoveram ações que movimentaram o ambiente virtual: PAN – Potência das Artes do Norte, Cenas do Nordeste e FarOFFa no Sofá.

O PAN e o Cenas do Nordeste traçaram em suas propostas curatoriais a valorização das artes produzidas no Norte e no Nordeste brasileiro, respectivamente, contando com apresentações de obras de todos os estados de ambas regiões. Buscando minimizar os impactos causados pelo isolamento social, os festivais mobilizaram os olhares para os circuitos das artes da cena fora de eixos hegemônicos, como modos de articulação e reafirmação de outros territórios criativos no país. Além disso, ficaram marcados positivamente por seus eixos pedagógicos, que contaram com debates entre públicos e artistas após as exibições das peças e performances na Plataforma Zoom e lives temáticas no Instagram.

O FarOFFa no Sofá foi a versão digital do recém-criado FarOFFa – Circuito Paralelo de Artes de São Paulo. Diferente das duas primeiras iniciativas que foram idealizadas e tiveram sua primeira edição durante a quarentena, esse projeto possui maior estrutura financeira e rede de realização, o que favorece para que o evento tenha grande visibilidade, além de trazer na sua programação grupos, artistas e performances que já possuem maior reconhecimento dentro dos circuitos hegemônicos. Assim como o PAN e o Cenas do Nordeste, o festival também contou com a realização de debates no Zoom, através do programa KOMBI – Fragmentos de um imaginário tropical, voltado para a aproximação entre profissionais nacionais e internacionais das artes da cena, onde o público geral poderia participar como ouvintes. Apesar de não possuírem um recorte curatorial dedicado às cenas negras, todos os festivais contaram com artistas, performers e grupos de teatros negros, que serão referenciados e/ou brevemente analisados aqui.

Os solos Preciso Falar, da Palhaça Lola, da Cacompanhia (AM) e A mulher do fim do mundo, de Ana Caroline, da Cia Casa Circo (AP) convergem e divergem em suas poéticas para tratarem de experiências que atravessam os corpos negros femininos. Lola se divide entre passado e presente, representando diversas pessoas que atravessam sua infância até seu encontro com a palhaçaria, desenhando e escrevendo no linóleo, com giz branco, territórios que abarcam suas memórias, seus medos e seus sonhos. Se é a narração e a fala que marcam o espetáculo da Cacompanhia (AM), Ana Caroline utiliza-se da dramaturgia do corpo para investigar a si mesma e as suas próprias tragédias, ainda que evoque e celebre pela voz a memória de corpos negros que já se foram.

Em A mulher… o uso da sonoplastia e da iluminação acompanham os estados de presença da performer que, em seus movimentos circulares e em sua respiração demarcada, enfrenta a jornada da autopercepção, encarando as limitações que a sociedade impõe sobre o seu corpo. Enquanto Ana Caroline se apresenta de maneira mais turva ao público por meio de sua dança, a Palhaça Lola por sua vez demarca a urgência de escrever sua própria história na fala, desenhos e fotografias, fazendo-se mais transparente diante de quem a assiste. Ambos os trabalhos foram apresentados no PAN – Potências de Artes do Norte e trazem a necessidade de investigar, escrever e contar suas experiências a partir daquilo que atravessam suas subjetividades, suas existências.

No Cenas do Nordeste, as obras Negreiros, da Cia Lacasa (AL), Soraya Queimada, Filha da Violência, do Desacerto Coletivo (PB), Ancés, de Tieta Macau (MA), Por onde andam os porcos, de Kildery Iara (PE) e QUASEILHAS, de Diego Araujá (BA), foram apresentados, totalizando cinco espetáculos/performances entre os 19 espetáculos que integram o festival. O FarOFFa no Sofá contou com a presença de peças e performances negras como Alguma coisa a ver com a missa, da Cia Os Crespos (SP), Carta Aberta e Manifesto Antirracista, do Legitima Defesa (SP), Navalha na Carne Negra, de José Fernando Peixoto de Azevedo (SP), Traga-me a cabeça de Lima Barreto, da Cia dos Comuns (RJ), Quando Quebra Queima, do Coletivo Ocupação (SP), entre outros, somando um pouco mais de 10 obras de artistas pretos/as entre os mais de 100 espetáculos exibidos em seus seis dias de atividades.

Em QUASEILHAS (BA), a impossibilidade do estar junto tornou a dimensão vibracional da exibição do arquivo audiovisual do projeto de Diego Araúja fio condutor da experiência. Sobre as ilhas enquadradas na divisão quádrupla da tela, as memórias fragmentadas da Família Araúja são cruzadas às memórias dos alàrìnjòs (Laís Machado, Nefertiti Altan e Diego Alcantara), criando encruzilhadas visíveis e invisíveis no espaço, que se reúnem no canto, na contação e na trilha sonora produzida durante a experiência. Se não podemos compartilhar a estrutura de madeira, seu sistema hidráulico e as luzes dispostas no ambiente que nos insere na precariedade das casas de taipa, sem estetizá-la, é na fabulação, a partir do iorubá, idioma que, para muitos, é desconhecido (ainda que tenha marcado profundamente o vocabulário brasileiro), que os afetos se produzem, a partir de múltiplas narrativas diaspóricas, que nos são contadas em segredo.

As fotografias em audiovisual, projetadas em uma das espacialidades de QUASEILHAS, elaboram uma outra camada imagética no arquivo exibido, nos aproximando da criação de memórias construída pelo diretor, de sua família, produzindo um movimento contrário ao do que historicamente foi experienciado pelas populações negras, na ausência de registros de suas próprias imagens. Investindo na força da especulação, QUASEILHAS é aquilo que ainda não pode ser nomeado, dentro desta reduzida gramática colonial que nos constitui, pela fugacidade que lhe é inerente. QUASEILHAS é língua bifurcada, produzindo relações que se configuram dentro da plurivalência.

Em Navalha na Carne Negra (SP), a escolha de exibir apenas o material audiovisual produzido como recurso cênico na peça, sem a presença de sua encenação, tornou a experiência sufocante diante da violência que a dramaturgia de Plínio Marcos suscita e traz em sua complexidade. Os close-ups na personagem Neusa Sueli (Lucelia Sergio), a qual frequentemente é assediada e violentada pelo cafetão Vado (Rodrigo Santos), sem a possibilidade de vê-la em outros regimes de representação, movimentação e amplitude cênica, criaram infinitas doses de reiteração daquilo que inicialmente é posto como caminho para uma elaboração crítica sobre a realidade.

Na confusão entre a fragilidade daquilo que é produzido por este arquivo ou pela própria encenação, a qual investe nas elaborações dramáticas mais clássicas para racializá-la, é apenas o personagem Veludo (Raphael Garcia) que, dentro desse regime de imagens, consegue articular certo agenciamento em frente aos desmandos e assédios de Vado. Se a presença da videomaker, na peça, era a oportunidade de colocar as espectadoras ainda mais próximas da cena e de imergir na intimidade daquelas relações, exibir essas imagens fora de seu contexto inicial produz um estranhamento que convoca, de maneira reducionista (e injusta para o próprio trabalho), a brutalidade do cotidiano sem dar espaço para uma contranarrativa dentro de sua história.

Entre grupos e artistas pretas(os) estão surgindo também festivais e mostras dedicados às performances negras e transmitidas pelas plataformas de streaming. Em comum, boa parte delas apostam no teatro online/digital/virtual, diferente da exibição de arquivos audiovisuais. A Cia Os Crespos (SP) realizou a Pequena Mostra Virtual Os Crespos – 15 anos, no Teatro Arthur de Azevedo e fizeram transmissões pelo Facebook dos espetáculos Os Coloridos, Cartas a Madame Satã, ou me desespero sem notícias suas, Engravidei, Pari Cavalos e Aprendi a Voar sem Asas e Além do Ponto, que compõe a Trilogia dos Desmanches aos Sonhos, todos adaptados para a linguagem audiovisual.

Em Recife, o Grupo O Poste (PE) fez ensaios abertos de performances através do Instagram, no projeto Terças Negras, com a presença de diversos artistas da cidade como Naná Sodré, Camila Mendes, Kennyo Freitas, Brunna Martins, Agri Melo, Marcílio Moraes, Anna Carolina Nogueira, entre outros. A iniciativa se transformou em um conjunto de cenas que podem ser acessadas por meio de contribuição no Sympla, auxiliando na manutenção do espaço físico do Grupo. Além do Terças Negras, O Poste organizou, em parceria com a Rede Afrocentradas (PE), a 2ª edição da Mostra PretAção, que tem como objetivo fortalecer o trabalho de artistas negras da Região Metropolitana do Recife.

Na cidade de Fortaleza, o Centro Dragão do Mar Arte e Cultura, em parceria com o Nóis de Teatro (CE), promoveu o evento #SiaráQuilombo, por meio de uma ocupação do grupo nas mídias sociais da instituição. O projeto contou com artistas de diversas linguagens, promovendo live-performances e debates sobre temas relacionados ao universo artístico, com artistas de outros estados como Onisajé (BA) e Jé Oliveira (SP). Alguns grupos cearenses foram destacados pela curadoria, como o Iamís Kariris, Cia Anagrama, Grupo NED e a Cia Balé Baião.

A Confraria do Impossível (RJ) organizou o Sarau Resistência Preta Online, pelo seu canal no YouTube. A atividade contou com performances e intervenções de artistas como Elisa Lucinda, Digão Ribeiro e Tatiana Nascimento. O Coletivo Pandêmica de Teatro (RJ/RN) organizou o Festival Às Escuras – Mostra Online de Arte LGBTQIA+, contando em sua programação com performances como Clausura em Terra de Bich0, com Iná (RJ), Anatomia ou Por qual parte você me olha?, com Laís Castro (RJ), Bagaço (ação para uma pessoa engasgada), com Júlia Vicente (RJ), entre outros. A mostra também contou com visita-guiada online ao Museu dos Meninos (RJ), com Maurício Lima e Érica Malunguinho, e mesas de interlocução crítica, com a participação do pesquisador Guilherme Diniz (MG).

Dos circuitos elaborados no mundo virtual/digital: performances negras

Mesmo diante das infinitas conexões proporcionadas pela Internet, os algoritmos nunca proporcionarão uma visão total do que acontece no labirinto do mundo virtual. Elenco aqui aqueles espetáculos e performances que me chegaram, que me informaram, que fui atrás. Nesse processo, construo meu próprio circuito sabendo de seus limites e suas impossibilidades.

No projeto #EmCasaComSesc, do Sesc São Paulo, na modalidade teatro, entre as 60 apresentações que ocorrem desde o início da pandemia, pouco mais de 10 obras foram apresentadas por artistas negros. Entre esses trabalhos, estão presentes: Engravidei, Pari Cavalos e Aprendi a Voar Sem Asas, por Lucelia Sergio, da Cia. Os Crespos (SP), Traga-me a cabeça de Lima Barreto, por Hilton Cobra, da Cia. dos Comuns (RJ), Medeia Negra, por Márcia Limma, do Villavox (BA), Buraquinhos, por Jhonny Salanberg (BA), Eu e Ela: visita a Carolina Maria de Jesus, por Dirce Thomaz, da Invasores Companhia Experimental de Teatro Negro (SP), Fragmentos, por Felipe Oládélè, da Companhia Negra de Teatro (MG), entre outros.

Em Traga-me a cabeça de Lima Barreto, o enérgico quase plano-sequência de Hilton Cobra (RJ), que fora interrompido pelo low battery, traz a câmera para dentro da cena, que performa com ele. Investindo em planos médios, close-ups, plongée e contra-plongée, Lima Barreto retorna em vida para a sessão de autópsia eugenista que questiona como um cérebro de “raça inferior” poderia ter produzido tantas obras literárias, se o privilégio da arte é branco. Assisti ao espetáculo presencialmente e, o que se destaca no trabalho de Cobra, é o processo de tradução para o meio virtual. O grau de intimidade com seu personagem aumenta devido à proximidade da câmera e à forma como ele brinca com ela: joga para a televisão, puxa para perto de si, desdenha do público olhando firmemente para a lente.

O texto dramatúrgico ganhou ainda mais intensidade: optando por acelerar seus movimentos naquele pequeno cômodo em que tudo acontece, o grau de loucura de Lima Barreto se acentuou pelo ritmo das palavras enunciadas, e diferente da experiência no palco, tornou-se possível pulsar junto ao corpo, respiração e suor de Hilton Cobra, amplificando a experiência estética e o fervor de seus questionamentos em torno das questões raciais brasileiras.

No projeto #CulturaEmRedeSescPE, do Sesc Pernambuco, o artista Kennyo (PE), apresentou Em Livro Acontecido, performance elaborada a partir de um livro de poesia e outras histórias criadas pelo performer. Levando as palavras para o corpo, ele se movimenta ao som de suas elaborações literárias, jogando em cena uma presença que vibra, corre, ama e que duvida de suas próprias enunciações. Num eterno traquejo de desconfiança, Kennyo formula questões filosóficas, traz para sua companhia intelectuais como Frantz Fanon e Aimé Césaire, e escreve seus versos de questionamentos políticos em torno da racialidade, com papéis brancos e hidrocor vermelho. Acompanhando seus devaneios poéticos, o público é constantemente encarado pelo rosto e as palavras-navalha de Kennyo que, no final, nega a sua própria existência enquanto escritor ao som de um brega funk pernambucano, num tom quase de deboche, retornando a um certo estado de loucura que ele havia evocado no início de sua obra.

O grupo espanca! (MG), iniciou transmissões de performances online que ocorrem dentro do seu espaço físico, no centro de Belo Horizonte. Até então, foram apresentados os seguintes trabalhos: MARCAPASSO – em processo, de Suellen Sampaio, TRAGO NA FALA, da poeta-slammer Nívea Sabino e violento., de Preto Amparo. Apresentações musicais também compõe o projeto, que pode ser acompanhado pelo YouTube. No solo de Suellen Sampaio, a performer é filmada por três câmeras que captam, em planos diferentes, sua movência. Ao entrar em cena, Sampaio constrói seu próprio chão sobre um tapete azul: tijolo por tijolo, seu pequeno palco é materializado. As batidas sonoras, que se parecem com as do relógio, acompanham sua dança, que na maioria das vezes desobedece o ritmo imposto pela marcação da música. Em seus movimentos circulares e expansivos, Suellen caminha para um mergulho em si, se confronta e se reconstrói a partir de suas angústias, manifestadas através de seu corpo inquieto.

Na segunda parte da performance, é ao som do afrobeat do rapper congolês Baloji que Suellen Sampaio hesita, respira, acelera e descompassa. Com energia mais intensa, seu corpo intercala prazer e dor, as quais conferem dualidades aos sentimentos expressos por meio de sua dança. Tornando visível suas dores e colocando-se em vulnerabilidade, um áudio do Whatsapp, enviado por ela a alguém, durante um dos ensaios de MARCAPASSO, revela a sua dificuldade de falar de amor, incorporando em sua linguagem poética a dimensão processual da obra. Interseccionalizando o tema da sua experiência enquanto mulher negra, ela performa a partir de suas palavras, estabelecendo também um processo de cura de si enquanto ativa a auto-escuta. Na busca do amor próprio e do autoconhecimento, Suellen performa suas próprias mudanças, inseguranças e deixa emergir em sua obra a instabilidade e descontinuidade de quem se lança a transfigurar-se e a encarar a si mesma.

Entre outros trabalhos, estão circulando pela internet: Corpo de Mula, de Dani Câmara (SP); DeCorpo, de Brunna Martins (PE); Negra Palavra – Solano Trindade, do Coletivo Preto e Companhia de Teatro Íntimo (RJ); BISA, de Kelson Succi (RJ).

Curto-circuito

Depois de tantos caminhos e espirais, de um texto que nasce já dentro da impossibilidade, pois é ciente de não poder dar conta das questões de maneira universal e nem com pretensão de abraçar a totalidade, tendo em vista o próprio ritmo do ambiente virtual e a forma como as informações e produções se distribuem, acompanhar esse percurso textual é uma possibilidade de escapar das narrativas sensacionalistas e unívocas sobre os teatros online no Brasil, que, obviamente, estão muito além do que os apontados por circuitos da crítica cultural e da mídia hegemônica, seja dentro das produções negras ou não-negras. Dentro dessa necessidade particular de me aproximar desses circuitos pretos, se assim podemos chamá-los, é possível levar em consideração algumas questões.

Essas iniciativas, trabalhos e processos de criação são dos mais diversos, mesmo que boa parte deles ainda estejam muito associados aos arquivos audiovisuais do teatro, o que me faz pensar nas dificuldades (ou barreiras) de realizar essas produções, exceto aquelas que provém de iniciativas públicas, como editais emergenciais, ou de instituições financiadoras. Ao mesmo tempo em que parece ser evidente o crescimento dos espaços de pensamento e elaboração intelectual sobre as produções negras, de um outro lado parece que questões de ordem estruturais ainda são difíceis de se transpor e que isso se acentua no contexto pandêmico, o que fica evidente na discrepância da quantidade de trabalhos produzidos por artistas negros e seus referidos grupos. Como diluí-las?

É perceptível também que muitas das participações de artistas negros dentro do circuito de debates sobre teatros e performances online são associados à questão da visibilidade/representatividade, sobre silenciamento x lugar de fala, sobre empoderamento negro ou assuntos correlacionados, dentro de uma gramática muito específica do que seria considerado pautas negras ou antirracistas. Boa parte dos trabalhos aqui elencados parece repetir certas performances daquilo que nos tem sido possível ler, compreender, identificar ou esperar enquanto teatros negros, enquanto temáticas dentro do circuito das artes. Até meu próprio gesto, nesse texto, é falido nesse sentido, por se articular justamente com esse regime de visibilidade, trazendo ao debate público a questão da invisibilização das produções negras no contexto pandêmico.

Acredito que nossas rotas de fuga, dentro desse mundo em ruínas, já estejam sendo elaboradas e colocadas em prática, e que elas perpassam pelas formulações artísticas. Assim, tenho me perguntado como escapar desse vocabulário estético e temático – que compõe até mesmo esta crítica – a partir de outras formulações, que abdiquem de dar respostas ou de partir do Outro branco, dentro das violências e das expectativas do que pode performar (ou ser, ou estar) esses corpos pretos, e das próprias expectativas daquilo que se entende como performances ou teatros negros.

Quando Cinthia Guedes produz suas elaborações sobre cativeiro estético, a pesquisadora e performer nos questiona sobre como temos, seja nas ruas, nos movimentos políticos e nos circuitos artísticos, criado um regime visível que nos acomoda numa gramática que, além de nos aprisionar criativamente, não tem dado conta de estancar nossos problemas éticos-políticos ou, complementando, ao que podemos chamar de necropolítica. Diante desse movimento, que nos coloca sempre em resposta a algo ou alguém, ou de prontidão a performar-se negro numa dança (ou corporiedade) que seja possível nominar dentro da gramática colonial que nos constitui, me pergunto como sair desse redemoinho.

Depois desse desejo de resposta (de que esse texto também, de alguma forma, se alimenta), poderíamos então jogar de outro jeito, inclusive naquilo que escapa, que é invisível e também não-nominável dentro da gramática posta? A visibilidade, talvez, seja um dos outros apegos que temos que, se não abrir a mão, repensar. Jogar fora da transparência pode provocar curto-circuitos. E por que não deixar queimar?

Lorenna Rocha é crítica de teatro (4 Parede) e cinema (Sessão Aberta). Licencianda em História (UFPE), pesquisa sobre dramaturgias negras brasileiras. Idealizou o projeto ‘Cobertura Crítica’, onde ministra oficinas de iniciação à crítica teatral com Rodrigo Dourado (PE).

Foto em destaque: Shai Andrade. Espetáculo: Quaseilhas da Plataforma Àràká.

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A Questão de Crítica – Revista eletrônica de críticas e estudos teatrais – foi lançada no Rio de Janeiro em março de 2008 como um espaço de reflexão sobre as artes cênicas que tem por objetivo colocar em prática o exercício da crítica. Atualmente com quatro edições por ano, a Questão de Crítica se apresenta como um mecanismo de fomento à discussão teórica sobre teatro e como um lugar de intercâmbio entre artistas e espectadores, proporcionando uma convivência de ideias num espaço de livre acesso.

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