Vol. XIII nº 72, setembro a novembro de 2021

30 de novembro de 2021 Editoriais

A edição de 2021 da Questão de Crítica, nosso nº 72, traz mais uma vez, como no ano anterior, alguns textos dedicados à prática do teatro no contexto da pandemia, abordando ações reflexivas, espetáculos online para o público adulto e para o público infato-juvenil, ações realizadas no espaço urbano, outras abordagens dos arquivos audiovisuais da cena contemporânea e outras poéticas de reinvenção, realizadas por artistas que antes se dedicavam apenas às atividades presenciais.

É importante observar que nossas atividades em 2021 contaram com o apoio fundamental dos assinantes da nossa campanha no Apoia-se, realizada em parceria com o Foco In Cena, site do fotógrafo mineiro Guto Muniz, que reúne um imenso repertório de trinta anos de fotografia de espetáculo à disposição do público. Nossos apoiadores nos animaram a dar início a algumas atividades formativas no canal da Questão de Crítica no YouTube, que agora reúne o acervo dos registros em vídeo dos eventos realizados pela revista, que antes estavam no Vimeo.

Neste ano, demos início a uma série de conversas ao vivo, intituladas Trajetórias e Pesquisas, em que artistas (em um primeiro momento, mulheres do teatro do Rio de Janeiro) apresentam seus projetos e inquietações a partir de seus percursos criativos. Nossas primeiras convidadas foram Elsa Romero, Aurora dos Campos e Juliana França.

Na revista, nossa ênfase continua sendo nas críticas de peças, na qual publicamos textos de diversos pesquisadores e artistas. Mas, nesta edição, publicamos uma resenha de um livro de teatro, algo que muito nos interessa e raramente conseguimos fazer. Luah Guimarães escreve sobre Stanislávski e o trabalho do ator sobre si mesmo, de Michele Almeida Zaltron, publicado pela Editora Perspectiva – uma indispensável referência para artistas e professores de teatro.

A seção de estudos traz ainda uma reflexão histórica sobre as mudanças da fotografia de cena, desde o final do século XX até o momento da pandemia, em que as artes da cena mergulharam em uma vertiginosa revolução digital. Em seu artigo, Guto Muniz se pergunta sobre o lugar da fotografia de cena na documentação deste período e divide conosco alguns resultados de sua prática diante das telas, no teatro e na dança.

Na seção de críticas, Viviane da Soledade escreve sobre o infanto-juvenil Nuang – Caminhos da Liberdade, com direção e dramaturgia de Tatiana Henrique. A peça é baseada no livro homônimo de Janine Rodrigues e foi criada no Rio de Janeiro para ser apresentada em plataformas virtuais. No final do ano, Nuang fez apresentações em Angola, a convite do FESTECA – Festival Internacional de Teatro do Cazenga.

Leandro Fazolla, criador do canal de crítica de teatro Cadernos Cênicos, no YouTube, também escreve sobre uma peça voltada ao público infanto-juvenil, O príncipe desencantado. O musical de temática LGBTQIA+ é livremente inspirado no romance inglês Koning en Koning (Rei & Rei), de Linda de Haan e Stern Nijland, e em experiências pessoais do autor e diretor Rodrigo Alfer. Fazolla, em São João de Meriti, assistiu à obra apresentada em São Paulo pelo registro em vídeo compartilhado pelo YouTube.

Daniele Avila Small escreve uma crítica de Meu filho só anda um pouco mais lento, texto do dramaturgo croata Ivor Martinic encenado por Rodrigo Portella em um momento crítico da pandemia. Para lidar com restrições das medidas sanitárias necessárias, o diretor criou uma instalação em forma de labirinto com cenas em televisores em uma sala de exposição do Oi Futuro, no Rio de Janeiro.

Andrezza Alves escreve críticas de dois espetáculos. Um deles, realizado ao vivo pelo Zoom, o outro, presencialmente em um teatro de Lisboa. Se eu falo é porque você está aí é uma palestra-performance do Teatro do Concreto, grupo de Brasília. A peça, dirigida por João Turchi e Francis Wilker, foi criada especialmente para a Complexo Sul 2020, estreando no final de 2020 no Palco Virtual do Itaú Cultural, transmitida das ruas do Distrito Federal. Em 2021, o grupo se apresentou mais duas vezes, no Escala Cultural, festival da cidade paranaense de Maringá, e no FILTE – Festival de Teatro Latino-Americano da Bahia. Já Coleção de espectador_s é um projeto da artista portuguesa Raquel André realizado na Sala Garret no Teatro Nacional D. Maria II, em que ela reúne relatos de onze espectadores e espectadoras que compartilham suas experiências na condição de estar diante de uma peça de teatro ou de alguma outra obra de arte.

Maria Lucas nos oferece dois textos sobre ações diferentes. Ela faz uma crítica da obra em processo Wonder! Vem pra barra pesada, realizada nas comemorações do Dia da Visibilidade Trans, em 2021, do projeto CASA 1. O projeto homenageia a multiartista brasileira Claudia Wonder. Ela também destrincha cada um dos encontros proporcionados pela plataforma Pandêmica, em que diferentes profissionais das artes abordaram aspectos do teatro online como direção, dramaturgia, atuação, música e produção.

Lívia Machado, do Rio de Janeiro, se dedica a pensar, a partir de uma discussão sobre cinema, sobre Cada vez que alguém diz “isso não é teatro”, uma estrela se apaga, do grupo mexicano Lagartijas Tiradas Al Sol. A obra veiculada no canal do Cena Contemporânea, festival internacional de teatro de Brasília, no YouTube em 2020, se tornou uma referência para a reflexão sobre as práticas do teatro pela internet – e sobre as investigações de linguagem do teatro em geral.

Bruna Testi, de Niterói, faz uma reflexão sobre a versão online de Mata teu pai. O solo de Débora Lamm dirigido por Inês Viana no Rio de Janeiro está disponível no canal do Sesc SP no YouTube, no projeto #EmCasaComSesc. Na sua versão presencial, a peça circulou bastante pelo Brasil e tem o texto de Grace Passô foi publicado pela Editora Cobogó.

Dodi Leal escreve, desde Porto Seguro sobre uma sobre duas formas breves apresentadas no Palco Virtual do Itaú Cultural, no âmbito da mostra dedicada às relações entre arte e ciência. As duas criações são da cidade de São Paulo. Das águas que atravesso: um diário de vida que ancoro, com direção de Jhoao Junnior, é um diário fílmico sobre os apontamentos de doulagem da paliativista Renata Meiga. Ela acompanha pacientes terminais, dando assistência à sua passagem. Já O futuro não é depois: uma performance palestrativa sobre Cazuza e Herbert Daniel, é um trabalho realizado por Fabiano Dadado de Freitas e Ronaldo Serruya, que no final do ano veio a estrear presencialmente como um solo de Serruya no Centro Cultural São Paulo. Ambos têm se dedicado à pesquisa sobre o HIV nas artes, e têm compartilhado saberes no curso Como eliminar monstros, que teve diversas turmas online nos últimos dois anos, quando a pandemia da COVID-19 lançou novos olhares sobre a epidemia de AIDS da segunda metade do século XX.

O processo de criação deste último trabalho, com sua história pregressa e seus desdobramentos, é também o tema do texto de Ronaldo Serruya, publicado na seção de processos, com o título “Ancestralidade positiva – um resgate das existências que escapam”.

A seção de processos conta ainda com um artigo de Julia Naidin sobre o trabalho mais recente do Grupo Erosão, sediado na Praia de Atafona, no distrito de São João da Barra, que se situa quase na divisa do Rio de Janeiro com o Espírito Santo. O projeto Museu Ambulante foi realizado presencialmente na cidade e seu registro audiovisual se tornou um documentário que já participou de alguns eventos, entre eles, o FILTE-Bahia.

Juracy de Oliveira, diretor da Pandêmica, compartilha aprendizados e questionamentos levantados nos encontros com artistas de teatro no curso online Teatro e Virtualidade, realizado em julho de 2021, no qual estiveram presentes integrantes dos grupos Carmin, Clowns de Shakespeare, Teatro de Extremos, entre outros. Sediado no Rio de Janeiro, o artista de Fortaleza reuniu experiências de diferentes cidades.

Henrique Fontes, diretor do Grupo Carmin, de Natal, escreve sobre as implicações da criação de A frasqueira de Jacy, uma versão online, mais curta e realizada com outros aportes, do espetáculo Jacy, que foi apresentado pelo grupo em diversas cidades do Brasil.

Glauber Coradesqui faz uma reflexão oportuna sobre o registro em vídeo de Cancioneiro Terminal como um arquivo inventado. O Grupo Mexa estava prestes a apresentar seu trabalho na MITsp em março de 2020 quando as restrições aos espaços fechados começaram a ser colocadas em prática na capital paulista e o grupo precisou apresentar o trabalho em um espaço aberto. A lida com este processo e sua documentação é exemplar do turbilhão de mudanças que se desencadearam desde aquele momento para artistas da cena.

Em 2022, seguiremos por aqui!

Se você aprecia o trabalho da Questão de Crítica, faça parte dessa história colaborando com a gente no Apoia-se! Com essa campanha, firmamos uma parceria com o Foco in Cena, unindo nossos esforços pela memória e pelo pensamento sobre as artes cênicas no Brasil. Junte-se a nós e ajude a compartilhar! apoia.se/qdc-fic 

 

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Questão de Crítica

A Questão de Crítica – Revista eletrônica de críticas e estudos teatrais – foi lançada no Rio de Janeiro em março de 2008 como um espaço de reflexão sobre as artes cênicas que tem por objetivo colocar em prática o exercício da crítica. Atualmente com quatro edições por ano, a Questão de Crítica se apresenta como um mecanismo de fomento à discussão teórica sobre teatro e como um lugar de intercâmbio entre artistas e espectadores, proporcionando uma convivência de ideias num espaço de livre acesso.

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