Processos

Diário de bordo virtual – julho de 2021

13 de setembro de 2021 Processos

Em julho de 2021, ministrei um curso online sobre Teatro e Virtualidade através do Sesc Rio. Eu e uma turma de mais de vinte artistas curioses espalhades pelo país mergulhamos em encontros e trocas sobre as criações artísticas realizadas durante a pandemia e as possibilidades descobertas até aqui. Ao longo de sete encontros, conversamos sobre plataformas e modos de transmissão, assim como experimentamos jogos e exercícios possíveis para o online. Como falei no primeiro dia de aula: “Essa oficina é pra gente trocar. Pra gente ter uma conversa entre a gente, íntima mesmo, sobre nossas sensações e expectativas sobre tudo o que aconteceu com o teatro (e com o mundo). Pra isso, eu convidei diretoras e diretores brasileires cujas obras me atravessaram nesses meses pandêmicos para estarem aqui conosco”. Assim, demos início a uma série de encontros que compõem esta espécie de “diário de bordo virtual” que apresento aqui. Um conjunto de anotações e citações de artistas inquietes de diversas partes do país que refletem sobre teatro, presença e futuro.

Se tem fita crepe, é teatro!

O primeiro artista que recebemos foi o Fernando Yamamoto, diretor e um dos fundadores do Grupo Clowns de Shakespeare, de Natal (Rio Grande do Norte). O trabalho do Clowns me inspira há bastante tempo e, durante este período pandêmico, me vi impressionado com a coragem desse coletivo em enfrentar desafios. Do Clowns, recebemos de presente, até agora, duas obras virtuais: CLÃ_DESTIN@: Uma viagem cênico-cibernética e L.A.A.A.T.I.N.A. – Legião de Aventureiras, Aventureires e Aventureiros Tenazes e Incansáveis pelas Narrativas ao Avesso. A primeira obra representa um marco particular em meus dias de isolamento. Senti a euforia de estar em uma sala de cinema ou de teatro. Além da felicidade que senti ao assistir à experiência, observei atento à pesquisa técnica em relação às plataformas. As criações do Clowns representam o que há de mais arrojado no que diz respeito à pesquisa ao vivo, principalmente, no Zoom.

Ser ou não ser teatro

13 de setembro de 2021 Processos

Desde que eu comecei a criar obras teatrais, no final dos anos 80, eu sempre ouvia e repetia que teatro é a arte da presença, do encontro efêmero de pessoas em um mesmo espaço de convivência. O grande diferencial dessa arte milenar estaria no encontro olho-no-olho entre artistas e público. Corta para 2020-21 e corta os prédios de teatro, corta a possibilidade do encontro físico e corta-se mais de 600 mil vidas deixadas morrer, num país governado por um presidente proto-fascista, com planos de extermínio dos mais pobres e daqueles que o criticam.

E aí corta-se o teatro?

Uma outra coisa que sempre ouvi, desde o início da minha carreira no teatro e hoje, pouco antes de escrever este texto, em agosto de 2021, voltei a ouvir, foi a pergunta: “E dá pra viver de teatro?” Ou: “Como é trabalhar na sua área aqui?” ou ainda: “Mas você faz o quê para pagar as contas?”

Museu encena

13 de setembro de 2021 Processos

A gente tem que lutar para tornar possível o que ainda não é possível.
Isso faz parte da tarefa histórica de redesenhar e reconstruir o mundo.
Paulo Freire

Apresento uma situação a partir de seus impasses e instabilidades: um grupo de teatro em trabalho de escuta; uma proposta cênica em uma ação de museologia social; uma atividade presencial no meio da pandemia; criar uma produção de memória oral mantendo distanciamento social. Essas sequências de deslocamentos são o pano de fundo geral da encenação.

Um semestre após três ações pontuais realizadas em abril de 2021, apresento, enquanto uma das idealizadoras, produtoras e coordenadoras pedagógicas, as condições que possibilitaram a realização do “Museu Ambulante” e o formato que ele adquiriu ao ter que se adaptar à realidade da pandemia e ao calendário proposto pelo edital “Retomada Cultural” da SECEC-RJ no âmbito da Lei Federal Aldir Blanc. Aponto breves percepções a partir de uma prática teatral realizada durante a pandemia que operou um procedimento inverso ao de ir para o campo virtual, como fizeram a maior parte dos artistas da cena teatral. Procedimento difícil, tenso, que, certamente, só foi possível devido ao caráter singular do território e à capacidade de transformação da proposta inicial do coletivo teatral, o Grupo Erosão, ao longo de quase um ano.

Ancestralidade positiva – um resgate das existências que escapam

12 de setembro de 2021 Processos

O Futuro não é depois: uma performance palestrativa sobre Cazuza e Herbert Daniel é um trabalho criado para o projeto “Cena agora – Arte e ciência: corpos reagentes, existências em crise”, do Itaú Cultural, que em sua segunda edição quis pensar as relações possíveis entre arte e ciência a partir de inúmeros e plurais pontos de partida. O trabalho em questão é um dos vários desdobramentos poéticos do projeto “Como eliminar monstros: discursos artísticos em torno do HIV/AIDS”, criado por mim em parceria com o diretor carioca Fabiano de Freitas, o Dadado, para pensar as relações entre arte e HIV e como ela, em suas inúmeras tentativas de se debruçar sobre o tema ao longo dos 40 anos da epidemia, muitas vezes também produziu discursos que ajudaram a perpetuar os estigmas sociais produzidos no bojo da epidemia discursiva do HIV.

O projeto estreia, coincidentemente, também em um evento do Itaú Cultural, a Mostra Todos os Gêneros, na sua edição de 2019, portanto um ano antes da pandemia do coronavírus. Em 2020, adaptado para versão on line, o projeto ganhou várias edições e se mostrou bastante pertinente para pensar uma epidemia (a da COVID-19) à luz de outra (a da AIDS) e as semelhanças e dessemelhanças impressionantes em torno de um modus operandis social que ocorre diante de atravessamentos como estes.

Sobre Marcha à ré : Teatro da Vertigem, 2020

6 de outubro de 2020 Processos

“Não é preciso conhecer a pessoa perdida para afirmar que isso era uma vida. O que se lamenta é a vida interrompida, a vida que deveria ter tido a chance de viver mais, o valor que a pessoa carrega agora na vida dos outros, a ferida que transforma permanentemente aqueles que sobrevivem. O sofrimento de um outro não é o seu próprio, mas a perda que o estranho suporta atravessa a perda pessoal que sente, potencialmente conectando estranhos em luto.”[1]

A intenção deste texto é expor alguns aspectos sobre o trabalho Marcha à ré, acerca da relação entre o seu processo de criação e o contexto sociopolítico que o Brasil vivencia.

Marcha à ré é uma performance-filme criada pelo Teatro da Vertigem em colaboração com Nuno Ramos, comissionada pela 11ª. Bienal de Berlim, e filmada por Eryk Rocha. Este novo trabalho do grupo consistiu na realização de uma intervenção artística site-specific na cidade de São Paulo, no dia 04 de agosto de 2020, terça-feira, às 22 horas. A partir de todo material colhido pela filmagem, o resultado foi o curta-metragem Marcha à ré, que teve sua estreia mundial na Bienal de Berlim, em 05 de setembro de 2020, e estreia no Brasil durante o Festival Internacional de Artes Cênicas Porto Alegre em Cena.

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Questão de Crítica

A Questão de Crítica – Revista eletrônica de críticas e estudos teatrais – foi lançada no Rio de Janeiro em março de 2008 como um espaço de reflexão sobre as artes cênicas que tem por objetivo colocar em prática o exercício da crítica. Atualmente com quatro edições por ano, a Questão de Crítica se apresenta como um mecanismo de fomento à discussão teórica sobre teatro e como um lugar de intercâmbio entre artistas e espectadores, proporcionando uma convivência de ideias num espaço de livre acesso.

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