Críticas

Um Manifesto Transpofágico

15 de abril de 2024 Críticas

“Este corpo foi construído por mim. Eu me fiz. De certa forma, eu fiquei grávida de mim mesma, eu me pari…”
Renata Carvalho, Manifesto Transpofágico 

“A Convenção teatral dos três sinais para início do espetáculo se faz necessária neste protocolo de apresentação. Um corpo em pé no meio do palco está parado, sem se mexer, como um manequim. A luz contra o fundo revela gradativamente a silhueta. Este corpo está apenas de calcinha, com voz suave e calma, ao microfone”
Renata Carvalho, Manifesto Transpofágico

 

Assim começa não só o espetáculo sobre o qual escrevemos e que está circulando por palcos de todo o mundo, mas que assisti em temporada no Teatro Firjan SESI no Centro do Rio de Janeiro, como também o texto que pode ser adquirido em formato de livro no saguão de entrada do teatro, após a apresentação. O livro, publicado em quatro línguas pela Editora Monstra[1], conta com instigante texto introdutório de Jaqueline Gomes de Jesus. [2]

A noite é das estrelas

15 de abril de 2024 Críticas

Homenageando os shows de artistas LGBTQIAP+ das décadas 80 e 90, a ocupação artística Noite das Estrelas produziu um mapeamento de feitos artísticos destes artistas locais, do ontem mas também do agora, e se expandiu com um espetáculo pelas ruas da Maré, culminando no ponto ápice da performance na Quadra da Escola de Samba Gato de Bonsucesso. Além do espetáculo, a Ocupação contou com exposição de documentos fotográficos “A Noite das Estrelas, uma Galáxia Imorrível” na Lona Cultural Herbert Vianna. Antes da exposição e do espetáculo, pertencentes a ocupação, foi produzido um filme homônimo, com recursos da Lei Aldir Blanc, em 2020, e tendo sua estreia no Festival Internacional de Cinema Zózimo Bulbul. Diversas ações foram feitas também durante a ocupação, como uma oficina de produção que visava estimular pessoas LGBTQIAP+ do entorno a terem contato com produção cultural, conduzida por Bem Medeiros que, junto com Wellington Oliveira, trabalham na equipe de produção do espetáculo.

Corações dentro do gabinete

23 de outubro de 2023 Críticas

Nica é um espetáculo de elogio à nossa atenção à vida, à nossa atenção ao mundo, ao nosso afeto ao que existe, existiu ou existirá de mais perto ou mais longe de nós. A definição do espetáculo, deliberadamente despreocupado com sua definição, veleja sobre caldas misturadas de peça-conferência, autorrepresentação, memórias compartilhadas e performances poéticas de cena, sons, músicas e textos.

A peça, diz no palco a atriz-performer-autora-personagem-ser viva, é para celebrar a vida. É dessa forma que Elisa Band tece sua dramaturgia, costurando em seda dados científicos, dados médicos, taxonômicos, cartográficos, literários, suas paixões por coleções, procedimentos de saúde pelos quais sua mãe se submeteu etc. No início, no fim e no meio, cita-se diversas vezes, como um lastro, metafórica ou literalmente, o músculo central das coisas: o coração (do da baleia azul ao da mãe submetido à cirurgia cardíaca).

Por um adágio adiante

1 de maio de 2023 Críticas

A apresentação de Arqueologias do Futuro, a que assistimos na primeira semana do Festival de Curitiba nos últimos dias de março de 2023, é uma das entradas possíveis para um projeto mais amplo, o Museu dos Meninos, “uma obra-museu composta por uma série de ações nos campos do audiovisual, das artes cênicas e visuais, com a premissa de mapear, preservar e criar memórias, como exercício contínuo e coletivo de futuridades impossíveis para o povo preto e favelado”, como consta no espaço online em que esse museu virtual pode ser visitado. Realizado por Mauricio Lima, artista da dança e do teatro do Rio de Janeiro, com direção e dramaturgia sampleada em parceria com Fabiano (Dadado) de Freitas, o projeto se coloca como uma reação aos dados divulgados no Mapa da Violência no Brasil em 2016. Uma reação propositiva, que subverte o imaginário impresso nas imagens de jovens rapazes negros, cujas vidas são o alvo mais comum da truculência policial na cidade. O espetáculo subverte também a expectativa de quem vai ver uma obra que parte – pelo menos parcialmente – da premissa da violência. O que se vê em cena é um derramamento de delicadeza.

As breves aparições de beleza que levo comigo

1 de maio de 2023 Críticas

Pode até parecer muito distante, mas não é. A vivência traumática da pandemia de covid-19 foi logo ali e, certamente, ainda estamos lidando com suas marcas, embora o desejo seja o de esquecer aqueles dias de confinamento, dor, revolta e luto. Naquele março de 2020, o tempo parecia suspenso e era muito difícil imaginar um futuro, era como se de repente nos tivessem roubado todo o horizonte. Eu tive medo da morte, talvez você tenha tido e a artista Larissa Siqueira também teve. Como visitar o amanhã era assustador, muitas vezes, tudo o que tínhamos era a possibilidade de andar livremente por nossas memórias e, nelas, reencontrar afetos, momentos marcantes, paisagens e tocar, de algum modo, esse rastro de vida que cada pessoa leva atrás de si.

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Questão de Crítica

A Questão de Crítica – Revista eletrônica de críticas e estudos teatrais – foi lançada no Rio de Janeiro em março de 2008 como um espaço de reflexão sobre as artes cênicas que tem por objetivo colocar em prática o exercício da crítica. Atualmente com quatro edições por ano, a Questão de Crítica se apresenta como um mecanismo de fomento à discussão teórica sobre teatro e como um lugar de intercâmbio entre artistas e espectadores, proporcionando uma convivência de ideias num espaço de livre acesso.

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