Vol. VIII, nº 66, dezembro de 2015
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A edição de dezembro de 2015 da Questão de Crítica traz, na seção de críticas, textos sobre peças que se apresentaram no Rio de Janeiro e em São Paulo. Algumas são produções de outras cidades, como BR-Trans (peça abordada também na seção de conversas), que esteve em cartaz no CCBB do Rio e recebe crítica de Mariana Barcelos, que analisa a encenação a partir de noções históricas do teatro político e refletindo sobre o uso da teatralidade na cena. Também é o caso de Projeto brasil, da companhia brasileira de teatro, espetáculo do grupo curitibano que fez temporada no Mezanino do Espaço Sesc. A crítica de Daniele Avila Small reflete sobre o espetáculo sob o ponto de vista da relação da peça com o espectador, a partir dos conceitos de interpelação e uptake, bem como aborda a obra como uma síntese e um ponto culminante do trabalho autoral do grupo.
Das produções cariocas, Renan Ji escreve sobre Brasil subterrâneo – A escada de Jacó, criação de Celina Sodré, do Studio Stanislavski, propondo uma reflexão sobre as imagens produzidas pelo espetáculo, que reverberam um substrato fundamental da cultura brasileira. Dinah Cesare faz a crítica de Guerrilheiras ou para a terra não há desaparecidos, projeto idealizado por Gabriela Carneiro da Cunha, com direção de Georgette Fadel e dramaturgia de Grace Passô, a partir das operações realizadas na peça como reinvenção da memória da Guerrilha do Araguaia. O espetáculo também está presente neste número na seção de processos. Ambos os trabalhos, tanto o de Celina Sodré quanto o dirigido por Georgette Fadel, estrearam no Espaço Sesc. De outro lado da cidade, Eles não usam tênis naique, peça mais recente da Cia. Marginal, que estreou no Teatro Glauce Rocha, é analisada por Priscila Matsunaga, que reflete sobre o descompasso entre a encenação e o texto dramático, considerando também os impasses de representação política.
De São Paulo, abordamos duas peças de grupos significativos para o teatro da cidade. Patrick Pessoa escreve sobre um experimento cênico radical, a encenação do velório de Maria Alice Vergueiro pela própria atriz e seu Grupo Pândega de Teatro, a peça Why the horse? O texto discute a influência de Brecht na constituição formal do espetáculo e a possível concepção de imortalidade ali presente. Luciano Gatti analisa Filoctetes, de Heiner Müller, pela Companhia Razões Inversas, do diretor Márcio Aurélio, que estreou na Funarte. O texto reflete sobre a encenação a partir do anacronismo da justaposição de clowns e gladiadores, proposição que partilha da pretensão não trágica do teatro de Müller.
Ainda na seção de críticas, publicamos reflexões sobre dois importantes festivais realizados na América Latina. Daniele Avila Small escreve sobre um recorte da programação do 10° FIBA – Festival Internacional de Buenos Aires, a partir de sua participação no Exploraciones Escénicas, projeto de intercâmbio entre críticos de diferentes países na capital argentina. Tendo em vista quatro peças de duas gerações diferentes, a crítica experimenta a ideia de um teatro de afetos para abordar o teatro portenho contemporâneo. Renan Ji e Mariana Barcelos tecem considerações sobre o pensamento curatorial que estrutura o FIAC – Festival Internacional de Teatro da Bahia, analisando a programação a partir de cinco categorias transversais: cartografia, corpo, musicalidade, mostra baiana e espectador.
Na seção de estudos, publicamos textos que contemplam o recorte temático desta edição, que se propõe a refletir sobre a ideia de imagem no teatro. João Cícero Bezerra escreve sobre a relação entre o pictórico e o dramático em A dama do mar, peça de Henrik Ibsen, adaptada por Susan Sontag e encenada por Robert Wilson, alcançando formulações críticas desligadas de qualquer vertente normativa de gênero. Mario Sagayama traça apontamentos sobre o sujeito, a voz, a imagem e o corpo no teatro de Samuel Beckett, a partir de questões históricas sobre o drama e em diálogo com a psicanálise lacaniana, tendo a temporalidade do a posteriori como conceito operador.
Natalia Nolli Sasso revisita a peça Nada, uma peça para Manoel de Barros, com direção de Adriano Guimarães, Fernando Guimarães e Miwa Yanagizawa, encenada em 2013 no Sesc Belenzinho, em São Paulo, abordando processos de criação e qualidades da fruição teatral a partir de lembranças e relatos de pontos de vista diversos. Juliana Pamplona analisa proposições de imagens cênicas de “dissociação” a partir da peça 4.48 Psychosis (Psicose 4.48) de Sarah Kane, da montagem de Hamlet pelo Wooster Group, e da peça Hotel Methuselah do grupo Imitating the Dog.
Luar Maria reflete sobre o espaço social contemporâneo em análise do espetáculo Mordedores, dirigido pelas coreógrafas Marcela Levi e Lúcia Russo. A avaliação do espetáculo se fundamenta no estudo do gesto e da corporeidade tendo a Análise do Movimento como principal aparato conceitual. Fabio Cordeiro discute a apropriação de formas corais na cena brasileira moderna, tomando como objeto a produção do Teatro de Arena enquanto referência para posteriores experiências de conjuntos teatrais contemporâneos.
Gabriela Lírio conversa com Silvero Pereira sobre sua trajetória profissional e a criação do espetáculo BR-Trans, que realiza um percurso (auto) biográfico do Nordeste ao Sul do Brasil, unindo histórias da experiência do autor com as travestis. Também na seção de conversas, Natalia Nolli Sasso relata e reflete sobre tentativas de conversa com os grupos envolvidos no episódio de ocupação das áreas do subterrâneo do Teatro Municipal no Vale do Anhangabaú, ocorrido na cidade de São Paulo nos últimos meses de 2015
Na seção de processos, publicamos dois textos sobre trabalhos realizados no Rio de Janeiro. Fabiano de Freitas fala sobre o processo de criação da série de radioteatro Radiodrama, contextualizando historicamente o gênero no Brasil e no mundo, refletindo sobre a perspectiva desse tipo de criação na contemporaneidade, bem como sobre questões da palavra e da imagem nas artes cênicas. A figurinista Desirée Bastos escreve sobre o processo de criação em seu trabalho com Guerrilheiras, ou para a terra não há desaparecidos.
Na seção de traduções, publicamos o texto de uma conferência de Heiner Goebbels em que o encenador reflete sobre como a ideia de ausência, tão importante na sua obra, se desenvolveu em Stifters Dinge e em seu trabalho ao longo dos anos. A tradução é de Rodrigo Carrijo, um dos idealizadores da revista Ensaia, que lançou recentemente o seu segundo número.
Tendo em vista a participação da peça Dissecar uma nevasca no STOF, Stokholm Fringe Festival, na Suécia, publicamos uma tradução para o inglês, feita por Leslie Damasceno, da crítica de Daniele Avila Small publicada anteriormente em português. Com isso, continuamos tentando fazer circular a informação e a reflexão sobre o teatro brasileiro para além das nossas fronteiras geográficas.
Por fim, publicamos uma peça do dramaturgo italiano Edoardo Erba, que tem duas peças traduzidas para o português por Beti Rabetti: Maratona de Nova York, encenada em São Paulo e no Rio de Janeiro, e a que publicamos nesta edição da Questão de Crítica, A noite de Picasso, levada à cena em Belo Horizonte.
Em 2016, continuaremos com nossas atividades regulares, com a publicação de novas edições, a realização do 5° Prêmio Questão de Crítica e do 3° Prêmio Yan Michalski, a publicação de vídeos na TV Questão de Crítica e a inauguração, como experimento, de um canal de podcasts.