A edição do segundo semestre de 2022 da Questão de Crítica foi realizada com a importantíssima colaboração dos participantes da campanha da revista com o Foco In Cena no Apoia.se. Recebam nossos afetuosos agradecimentos!

Além desta edição, o final de 2022 trouxe também a inauguração de uma nova atividade: o Escuta Aqui, programa de conversas ao vivo que acontece toda terça-feira às 10h no canal da Questão de Crítica no YouTube com Daniele Avila Small e Luciana Romagnolli. Agradecemos a parceria da Luciana, que deu essa ideia e tem colaborado muito para o amadurecimento do canal como uma via dinâmica de debate crítico.

A nossa bissexta seção de traduções ganhou uma importante colaboração, o manifesto palcoFuturo, redigido por um grupo de pesquisa de Harvard, com o título: Um manifesto para o palco futuro: performance é um direito humano. A partir de uma série de encontros, o futureStage – um projeto de pesquisa global dedicado a investigar desafios atuais e perspectivas futuras para o desenvolvimento de casas de espetáculos para a ópera, o teatro e demais artes performativas – reuniu um time internacional e interdisciplinar de pesquisadores e especialistas para identificar e mapear tais mudanças, endereçando-se tanto aos problemas quanto às oportunidades que aparecem com novas configurações de palcos, cidades e públicos. Ao comparar e analisar as melhores práticas e as ideias seminais entre diversas áreas, o grupo pretende produzir anualmente um manifesto/relatório como referência e inspiração para governos, instituições culturais e organizações artísticas no mundo. O texto aqui publicado é um primeiro relatório.

Na seção de conversas, encontra-se a versão original em português de uma entrevista feita por Daniele Avila Small e Lorenna Rocha com Diego Araúja, artista multidisciplinar da Plataforma Aràkà, da Bahia. A entrevista intitulada Tempo crioulo, tempo criativo, foi feita em março de 2022 a convite da Critical Stages, revista da AICT-IACT (Associação Internacional de Críticos de Teatro), que publicou a conversa em inglês.

Nas seções de estudos e críticas, aparecem reflexões sobre espetáculos apresentados nos estados do Rio de Janeiro e de São Paulo, em cartaz nas capitais ou na programação de festivais. É importante observar a importância dos festivais na retomada das atividades presenciais no Brasil depois da pandemia e nesta edição a Questão de Crítica dá atenção a festivais de dimensões e propostas bastante diversificadas.

Daniele Avila Small faz uma reflexão sobre a primeira edição do Festival Mutuá, em “Mutuando saberes no percurso da experiência”. O festival realizado em setembro de 2022, é organizado pelo Polo Sociocultural Sesc Paraty para promover um encontro entre as artes cênicas e os saberes populares. No texto, além de abordar a proposta mesma do festival, ela também faz breves apontamentos sobre as peças que compuseram a programação pensada por Daniela Carmona, Dudude Hermann, Fabianna de Mello e Souza e Maira Jeannyse.

Em “Negro-vida em oposição ao Negro-tema”, Viviane da Soledade se dedica a comentar cada um dos espetáculos do 8° Festival Midrash de Teatro. Idealizado por Nilton Bonder, esta edição teve curadoria de Vilma Melo e Natasha Corbelino, reunindo 20 peças e ações formativas em maio de 2022 no Teatro Café Pequeno, no Leblon.

Presente nesta programação, Turmalina 18-50 recebe uma atenção especial de Viviane da Soledade, que analisa o espetáculo em “Camadas biográficas entre idas e vindas temporais”. A peça conta a trajetória de dor e de lutas contra o racismo por parte de João Cândido Felisberto, Almirante Negro, líder da Revolta da Chibata ocorrida em 1910.  João Candido foi morador de São João de Meriti, mesmo território da Cia Cerne, autora do trabalho.

Mas além da atenção dada a estes dois festivais locais de Paraty e do Rio, a Questão de Crítica traz textos sobre espetáculos nacionais e internacionais de dois festivais de SP, o Mirada – Festival Ibero-Americano de Artes Cênicas de Santos e a MITsp – Mostra Internacional de Teatro de São Paulo.

Em “A árvore metálica do vale de cada pessoa”, pode-se ler uma crítica de Lívia Machado para a peça Vale da estranheza, do grupo suíço Rimini Protokol, um monólogo feito por um robô-réplica do escritor e dramaturgo alemão Thomas Melle, também autor da peça e do livro O Mundo às Costas, inspiração para o espetáculo. A peça veio para o Brasil para integrar a MITsp no primeiro semestre de 2022.

Do Mirada, Daniele Avila Small, que foi fazer a cobertura crítica a convite do festival, escreve sobre duas peças peruanas e uma peça de São Paulo. Em “O recurso”, a crítica reflete sobre o teatro como recurso de elaboração de si, a partir da montagem de Hamlet com atores e atrizes com Síndrome de Down e direção de Chela de Ferrari, diretora artística do Teatro La Plaza. “De uma espectadora à distância” aborda a peça Discurso de promoción, do celebrado Grupo Cultural Yuyachkani, a partir dos riscos que a peça dirigida por Miguel Rubio Zapata corre ao encenar o que deseja criticar. Em “Que ele sofre”, ela se dedica a pensar sobre a reiteração das narrativas de sofrimento de vivências de mulheres a partir da peça O que o meu corpo nu te conta? do Coletivo Impermanente, com direção de Marcelo Várzea.

Da programação carioca, ela escreve sobre Uma peça para Fellini, projeto idealizado pela atriz e diretora de teatro Marcia do Valle com o diretor e produtor de cinema Cavi Borges. O espetáculo presta uma homenagem franca e afetuosa ao cineasta italiano e à presença do teatro nos seus filmes. A peça acontece no foyer do Estação Net Rio, em Botafogo, tendo feito parte das ações contra a ação de despejo que ameaçou a continuidade deste espaço tão importante para o cinema nacional na cidade.

A seção de críticas abriga ainda uma crítica de Gabriela Mellao, escrita em um intervalo de colaborações para a Revista Bravo!, sobre a peça mais recente de Gerald Thomas, F.E.T.O. (Estudos de Doroteia Nua Descendo a Escada), espetáculo criado a partir de Doroteia, de Nelson Rodrigues. Segundo Gabriela, Thomas se apropria da maternidade perdida como metáfora para falar sobre a morte – ou o renascimento – da arte, do homem, do país, de um mundo regido por guerras, pela fome, pelo desencanto, em que o desejo se tornou um impulso apático e humanidade, uma qualidade em extinção.