Autor Daniel Schenker

O espectador como cúmplice

19 de janeiro de 2011 Conversas
José Sanchis Sinisterra

José Sanchis Sinisterra é, com certeza, um dos responsáveis pela ampliação do conceito de dramaturgia. Autor teatral, vem formulando em seus textos uma reflexão sobre o que talvez se possa chamar de escrita do ator. A difusão de seu trabalho no Brasil deve ser, em boa parte, creditada ao contato com encenadores como Aderbal Freire-Filho e Christiane Jatahy. Em uma conversa com Daniel Schenker, Sinisterra fala sobre o desejo de ativar o espectador, de elevá-lo ao posto de coautor da cena, do intercâmbio entre teatro e literatura (e outros campos, como a ciência) e da conexão com o Stanislavski do Método das Ações Físicas.

Pulsões de morte transbordam na Guanabara

19 de janeiro de 2011 Críticas
Atriz: Cris Larin. Foto: Dalton Valério.

A presença do mar, que se impõe como personagem em Senhora dos Afogados, norteou a diretora Ana Kfouri na escolha do espaço para encenar sua versão da peça de Nelson Rodrigues: o restaurante Albamar, de frente para a Baía de Guanabara. A diretora afasta o espaço de sua utilidade cotidiana. O Albamar não é evocado como restaurante. Seu amplo salão é aproveitado para reconstituir a casa da família Drummond.

Ana Kfouri caminha em sentido contrário ao da abordagem de um grupo como o Teatro da Vertigem, conduzido por Antonio Araujo, que dialoga em níveis variados com a literalidade dos espaços não-convencionais escolhidos para apresentar seus espetáculos. A carga inerente a cada um dos espaços – a igreja em O paraíso perdido, o hospital em O livro de Jó e o presídio em Apocalipse 1,11, montagens que formam a Trilogia Bíblica – torna-se texto (enquanto portador de significado), elemento determinante à apreciação da plateia, assim como o Rio Tietê (ou a Baía de Guanabara, na temporada carioca) de BR 3, encenação em que o Vertigem abordava o espaço não-convencional mais como metáfora (das mazelas brasileiras) do que pela via do literal. Uma perspectiva também diferente dessa nova leitura de Senhora dos Afogados, que não interage com a utilização cotidiana do espaço, restringindo a esfera literal às cenas ambientadas no cais, particularmente a das prostitutas, que encerra o espetáculo.

O tempo em gradações sutis

21 de setembro de 2010 Críticas
Atriz: Adriana Asti. Foto: Danilo Christidis

Bob Wilson se apropria de Dias Felizes, de Samuel Beckett, em espetáculo cujo controle sobressai, em especial, por meio do acabamento formal. A terra que suga Winnie surge simbolizada pelo que parecem ser grandes pedras de carvão. Ao longo de boa parte do primeiro ato imperam as tonalidades esmaecidas: atrás de Winnie um sol esbranquiçado e um céu azul claro. O dourado do cabelo da atriz Adriana Asti e as discretas inserções de tonalidades fortes saltam aos olhos num quadro de atraente quase neutralidade.

O exasperante som do sofrimento

18 de agosto de 2010 Críticas
Atriz: Rosana Stavis. Foto: Elenize Dezgeniski

“Depressão é ódio”. Esta conclusão, uma das externadas pela personagem de Psicose 4h48 (última peça da falecida dramaturga Sarah Kane), parece ter, em alguma medida, norteado o trabalho do diretor Marcos Damaceno, no que se refere ao registro de atuação ambicionado para Rosana Stavis. Damaceno procurou fazer com que a atriz buscasse modos de dizer o texto que evidenciassem, em especial, a raiva diante de um sofrimento exasperante em sua constância infinita. Como um ruído que não desaparece, uma interferência que não cessa. Ainda que fique a impressão de que determinados trechos ganhariam com um pouco mais de contenção, a opção é bastante defensável.

Presença que escapa

27 de julho de 2010 Críticas

 

Atrizes: Bel Garcia e Marina Vianna

Em sintonia com uma das principais propostas da Cia. dos Atores, Devassa desponta como uma desconstrução de um texto original – no caso, Lulu, de Franz Wedekind, já transportado para o cinema por G W. Pabst. A diretora Nehle Franke e os atores se preocuparam em entrar em contato com a integridade da obra original antes de dissecá-la em cena. É interessante acompanhar a perseguição dos personagens por uma Lulu, que, mesmo quando parece ter sido dominada, escapa, sempre fugidia, das mãos de seus controladores.

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Questão de Crítica

A Questão de Crítica – Revista eletrônica de críticas e estudos teatrais – foi lançada no Rio de Janeiro em março de 2008 como um espaço de reflexão sobre as artes cênicas que tem por objetivo colocar em prática o exercício da crítica. Atualmente com quatro edições por ano, a Questão de Crítica se apresenta como um mecanismo de fomento à discussão teórica sobre teatro e como um lugar de intercâmbio entre artistas e espectadores, proporcionando uma convivência de ideias num espaço de livre acesso.

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