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Ut pictura poesis em A dama do mar: Ibsen, Sontag e Wilson
Vol. VIII n° 66 dezembro de 2015 :: Baixar edição completa em pdf
Resumo: O artigo propõe analisar a relação entre o pictórico e o dramático em A dama do mar de Henrik Ibsen, Susan Sontag e Robert Wilson, alcançando formulações críticas desligadas de qualquer vertente normativa de gênero. Para isso, dialogamos com pensadores das artes cênicas e visuais a fim de que se compreendam as obras dos artistas em questão.
Palavras-chave: Imagem, pintura, espaço, drama, encenação
Abstract: An attempt to analyze the relation between the pictoric and the dramatic in The Lady from the sea by Henrik Ibsen, Susan Sontag and Robert Wilson, reaching critical formulations that are free of any normative view of gender. For that, we study authors linked to the performing and visual arts to be the base of comprehension of these particular works.
Keywords: Image, painting, space, drama, staging
1 – A imagem e a forma do drama: Ibsen
O escritor é o geólogo ou o arqueólogo que viaja pelos labirintos do mundo social e, mais tarde, pelos labirintos do eu. Ele recolhe os vestígios, exuma os fósseis, transcreve os signos que dão testemunho de um mundo e escrevem uma história. A escrita muda das coisas revela, na prosa, a verdade que recobre a cena outrora gloriosa da palavra viva (RANCIÈRE, 2009, p. 38).
De fato, o retrato fala, ele já está prestes a falar, e ele nos fala a partir de sua privação de fala. O retrato nos faz ouvir um falar antes ou depois da fala, o falar da falta de fala (NANCY, 2015, p. 55).
A estratégia final de Abramović ou a imortalidade da arte
Oriundos das próprias vidas dos artistas, sentimentos e reflexões são materiais colhidos e transpostos para uma linguagem universal. Por este motivo Marina Abramović decidiu fazer uma biografia sobre a sua própria vida e, embora tenha optado por usar a sua figura como um material-conteúdo para a elaboração de uma obra, não permitiu que erroneamente trilhasse uma extrema manifestação do seu ego artístico; transcendeu o exclusivismo quando compartilhou conosco a sua consciência e aceitação da morte de uma forma serena em The Life and Death of Marina Abramović, cuja criação é coletiva: de autoria do músico Antony, do encenador Robert Wilson e da própria performer Marina Abramović.
De certa forma, esta é mais uma performance da artista, em que sua imagem funciona como campo simbólico da sua obra de arte, em que se expõe sem estar por detrás de uma personagem. Esta é uma performance mais híbrida, que acopla agora os tradicionais elementos teatrais, embora, sob a encenação de Bob Wilson, nada seja exatamente convencional, inclusive, sua encenação é caracterizada pela ruptura com os moldes cênicos mais clássicos, abrangendo a performance fringe ou o chamado teatro pós-dramático, sendo assim, é uma nova performance, conforme nomeia a teórica deste assunto Roselee Goldberg.
Einstein on the beach: um estudo semiótico em oposição ao textocentrismo
“The most beautiful experience we can have is the mysterious.”
(A mais bela experiência que podemos ter é a do mistério.)
Albert Einstein
O desuso do discurso lógico-verbal nas artes cênicas perdeu sua hegemonia precisamente a partir da segunda metade do século XX, momento em que sobrevém, para o campo da arte, a desconstrução e o questionamento dos moldes artísticos tradicionais sob a intensa busca pela ruptura com um passado que havia perdido sentido e força.
A origem insurge, talvez, a partir do pensamento nietzschiano, que declarou a existência de distintas formas de se experienciar a realidade e, com isso, a arte, desde o início do século passado, começou a adquirir um caráter plural de representação, o qual reverberou a tal ponto durante dezenas de anos que acabou por ecoar ainda para o nosso século atual.
Sob o império do controle

A decisão de Bob Wilson de encenar – e trabalhar como ator – A Última Gravação de Krapp, uma das principais atrações da última edição do festival Porto Alegre em Cena, é bastante compreensível. Em primeiro lugar, Wilson está completando 70 anos, a mesma idade do personagem de Samuel Beckett, o que confere a este trabalho um caráter, em alguma medida, revisionista ou memorialista.
O funeral de Marina Abramović
Le génie, c’est l’enfance retrouvée.
(O gênio é somente a infância redescoberta)
Charles Baudelaire
Quatro anos atrás, Marina Abramović telefonou ao encenador Robert Wilson para lhe perguntar se ele poderia levar à cena sua morte. No entanto, ele afirmou que “somente se eu puder também levar à cena sua vida…” Em seguida, em novembro de 2010, Marina declarou, num jantar comemorativo de seus sessenta e três anos, que Antony Hegarty, do grupo Antony and The Johnsons, cantaria a música My Way em seu funeral. Com isso, ela emenda, em seu discurso, como será sua performance de despedida. Três cidades estarão na mira do destino da artista performática: Amsterdam, Belgrado e Nova York. Em cada cidade, haverá um caixão e quem comparecer ao funeral deverá estar trajando roupas coloridas. “Ninguém saberá”, diz Marina, “em qual deles estará o verdadeiro cadáver”, ou seja, somente em um caixão estará o verdadeiro corpo e, nos outros, estarão imitações da artista (1).