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Uma dramaturgia da fragmentação
Vol. VII, nº 63, dezembro de 2014
Tradução: Betch Cleinman
Resumo: A entrevista com José Sanchis Sinisterra foi concedida em 2008 no Teatro Poeira (RJ), dentro do contexto da oficina de dramaturgia promovida pelo projeto Puente. Esta conversa aborda algumas questões norteadoras da investigação cênica de Sinisterra, perpassando técnicas de escrita teatral, referências teóricas e a relação entre espetáculo e espectador.
Palavras-chave: José Sanchis Sinisterra, dramaturgia da fragmentação, investigação cênica, espectador
Resumen: La entrevista con José Sanchis Sinisterra fue realizada en 2008 en Río de Janeiro en el Teatro Poeira, dentro del contexto del taller de dramaturgia organizado por el proyecto Puente. Esta charla aborda algunas cuestiones que direccionan la investigación escénica de Sinsterra, permeando técnicas de escritura teatral, referencias teóricas y también la relación entre el espectáculo y el espectador.
Palabras clave: José Sanchis Sinisterra, dramaturgia de la fragmentación, investigación escénica, espectador.
A poética do espectador
Solano e Rios são dois atores que perambulavam pelas estradas empoeiradas de uma Espanha medieval, herdeiros de uma tradição cômica dotada de cinismo, ironia e alegria e que, muito provavelmente, faziam a festa da multidão em eventos não oficiais, tanto nas praças quanto nas feiras públicas do longínquo século XVII. Mikhail Bakhtin já havia identificado o caráter anárquico e carnavalesco desse pano de fundo social-popular na obra literária de François Rabelais. E é no interior desse contexto histórico que os dois pândegos famintos se desviam de suas rotas, fugindo de cobradores que resolvem acertar suas contas, e acabam caindo de pára-quedas na, não menos anárquica, festiva, idosa e erótica Copacabana, Espaço SESC, no Rio de Janeiro do século XXI. Deixam para trás sua terra natal e caminham longe, cruzando as fronteiras mais vastas de estilos, estéticas e influências artísticas.
O teatro como extrema unção aos crimes hediondos
Guerras, com todas as suas incongruências e todo o seu fatídico cenário de genocídio, carnificina, destruição e mutilação costumam produzir, contraditoriamente, um rico, fascinante e instigante material artístico. Quanto maiores e mais absurdos são os atos provocados pelos homens, mais contundente é o seu esmiuçar nas artes. A Guerra Civil espanhola – que ocorreu entre 1936/1939 – foi o acontecimento mais traumático que ocorreu antes da 2ª Guerra Mundial. Nela estiveram presentes todos os elementos militares e ideológicos que marcaram o século XX. Podemos dizer, sem margem de dúvidas, que foi um dos três piores momentos vividos pelo mundo ocidental no século passado. Junto com o fascismo italiano e o nazismo alemão – talvez o mais hediondo de todos eles -, nada foi mais trágico do que estes três acontecimentos. O que poderia ser uma guerra interna, apenas espanhola, ganhou contornos exteriores, pois o que estava em jogo também era a hegemonia do mundo, dividido entre duas forças: a do capitalismo (direita) e o socialismo (esquerda). Assim, pode-se dizer que a Alemanha nazista e a Itália fascista apoiavam o golpe do General Francisco Franco enquanto a União Soviética se solidarizou com o governo Republicano.
O espectador como cúmplice
José Sanchis Sinisterra é, com certeza, um dos responsáveis pela ampliação do conceito de dramaturgia. Autor teatral, vem formulando em seus textos uma reflexão sobre o que talvez se possa chamar de escrita do ator. A difusão de seu trabalho no Brasil deve ser, em boa parte, creditada ao contato com encenadores como Aderbal Freire-Filho e Christiane Jatahy. Em uma conversa com Daniel Schenker, Sinisterra fala sobre o desejo de ativar o espectador, de elevá-lo ao posto de coautor da cena, do intercâmbio entre teatro e literatura (e outros campos, como a ciência) e da conexão com o Stanislavski do Método das Ações Físicas.