Autor Daniel Schenker

Na contramão do distanciamento analítico

25 de abril de 2010 Críticas
Atores: Denise Del Vechio e Marcos Caruso. Foto: João Caldas

Um texto como As pontes de Madison desponta como legítimo exemplar do que talvez possa ser classificado como teatro de identificação direta. Robert James Walter, autor do romance que deu origem ao filme protagonizado por Clint Eastwood (também diretor) e Meryl Streep e à peça em cartaz no Teatro dos 4 (adaptada por Alexandre Tenório), criou uma história que suscita empatia imediata no leitor/espectador: a da súbita paixão entre Robert Kinkaid, fotógrafo da National Geographic em visita ao Iowa, e Francesca, dona de casa acostumada à rotina de um casamento acomodado. Walter não mobiliza o público “apenas” ao falar sobre o impasse entre um sentido de obrigação em manter a família unida (tendo como exigência a continuidade de um cotidiano pouco estimulante) e a coragem de partir rumo ao desconhecido e ao risco. O poder de conquista do autor se expressa, sobretudo, no momento em que aborda a delicada questão dos irrealizados sonhos de juventude, do degrau entre sonho e realidade.

A expressividade da sugestão

23 de março de 2010 Críticas
Foto: Lenise Pinheiro

Há um apagamento e, ao mesmo tempo, uma evidenciação do fazer teatral em Hamelin, montagem de André Paes Leme para o texto de Juan Mayorga. De um lado, o diretor demonstra a preocupação em investir numa cena neutra, impressão confirmada pela utilização funcional de elementos básicos (mesas e cadeiras), pela opção por cores discretas (predominância do preto) e por figurinos despojados, diretamente importados do cotidiano. Do outro, os atores não ocultam do público a construção da cena. Manipulam objetos e o som, produzem atmosferas, lêem rubricas e transitam, quase sempre, entre diferentes personagens.

Tensão entre o insinuado e o sublinhado

26 de fevereiro de 2010 Críticas
Atrizes: Rita Elmôr e Millene Ramalho. Foto: Marcos Souto Soares.

Através de uma estrutura oscilante entre a narração dos fatos e a encarnação das personagens, Newton Moreno aborda em Agreste (rebatizado de Agreste Malvarosa, subtítulo do texto, segundo o próprio autor) a sexualidade pela via do afeto e o desconhecimento do corpo, evideciados por meio da história de um casal unido há mais de 20 anos até que a morte de um deles suscita uma revelação que descortina a ignorância furiosa dos moradores de um isolado vilarejo no sertão.

Máscara transparente

26 de janeiro de 2010 Conversas e

A conversa foi realizada em março de 2010.

DANIELE AVILA – Seria interessante se você pudesse começar falando um pouco sobre a peça e sobre o que é importante pra você como artista nessa peça.

CHRISTIANE JATAHY – Pra mim, o Corte seco se instaura como uma parte importante de uma pesquisa que, como vocês sabem, não começa com Corte seco. De alguma forma, o que está ali, sendo visto pelo público, no momento em que a peça está sendo feita – porque a peça tem essa característica de estar sendo feita em parte na hora – é muito do que a gente viveu, muito do que eu aplico, em todos os meus processos. De fato, o Corte Seco é uma tentativa, um desejo de abrir o processo, ou seja, colocar em cena de alguma forma a maneira como eu trabalho, tanto para a construção de uma peça quanto para o treinamento. Isso está tão ligado à questão dos sistemas, ao uso dos sistemas como material provocativo pra construção da dramaturgia, um estímulo para os atores construírem a cena, como também a essas interferências, que têm o objetivo de tornar vivo o que está acontecendo na cena, o que vai gerar uma dramaturgia que se transformará numa coisa que, apesar de parecer aberto, não está aberto. Está aberto como qualquer outra peça.

As muitas vozes que constituem aqueles dois

26 de janeiro de 2010 Críticas
Foto: Paula Kossatz

Aqueles dois é um trabalho construído a partir de uma soma de vozes: Cláudio Dias, Marcelo Souza e Silva, Odilon Esteves, Rômulo Braga e Zé Walter Albinati transportaram para a cena o conto homônimo de Caio Fernando Abreu como atores-criadores (apenas Albinati não está em cena) sem a presença de um diretor orquestrando a criação. Não por acaso, vários registros vocais sobressaem na montagem, sem que um exatamente se sobreponha sobre o outro.

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Questão de Crítica

A Questão de Crítica – Revista eletrônica de críticas e estudos teatrais – foi lançada no Rio de Janeiro em março de 2008 como um espaço de reflexão sobre as artes cênicas que tem por objetivo colocar em prática o exercício da crítica. Atualmente com quatro edições por ano, a Questão de Crítica se apresenta como um mecanismo de fomento à discussão teórica sobre teatro e como um lugar de intercâmbio entre artistas e espectadores, proporcionando uma convivência de ideias num espaço de livre acesso.

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