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Uma trans-dialética
Vol. VIII, nº 65, agosto de 2015
Resumo: O texto reflete sobre a questão contemporânea exposta pelo universo Trans que localiza a alma pelo seu diferimento do corpo. A carpintaria dramatúrgica se vale de uma dialética menos convencional, uma dialética sensível, que dá uma feição de abertura às questões propostas na temática Trans.
Palavras-Chave: Transexualidade; Gênero; Dialética; Corpo; Imagem
Abstract: This paper reflects on the contemporary issue exposed by Trans universe that locates the soul through his body deferral. The dramaturgical carpentry relies on a less conventional dialectic, a sensitive dialectic, which gives an opening feature to the questions proposed in the thematic Trans.
Keywords: Transsexuality; Gender; Dialectic; Body; image
A escrita como (des) propósito
Sabemos que a renovação moderna do teatro liberou encenadores e críticos para uma existência mais livre em relação ao texto. Na medida em que um diretor de teatro não é aquele que encena uma dramaturgia e um crítico também deixa de ser (se é que realmente tenha tido essa sua tarefa) aquele que vai averiguar, julgar se o diretor conseguiu interpretar materialmente o que o dramaturgo escreveu; todo este trabalho vai ficando mais complexo. Por exemplo, um dos equívocos ainda em prática é uma análise que procura ver o lastro que uma dramaturgia constrói sobre um determinado tema. Um texto não é a escrita sobre um tema, um texto é uma escrita do tema. Isso já é uma diferença substancial para analisar a dramaturgia de Sexo neutro. Digamos então que um bom texto não é aquele que trata as palavras como um esclarecimentos de ideias – o artista é mesmo aquele que sabe da irredutibilidade do seres às ideias – mas sim, uma escritura que lida com a resistência das palavras em dizer do ser. A noção de existência nos trabalhos de arte não pode estar associada a uma linha de progresso e esclarecimento (já sabemos isso também), mas justamente à opacidade e a espontaneidade infinita da existência.
O que nos livra do esquecimento
O espetáculo Cowboy, com dramaturgia de Daniela Pereira de Carvalho e dirigido por Henrique Tavares, apresenta um pensamento sobre os estados de loucura e seus limiares colocando em confronto duas perspectivas: uma é a daquele que passa por um estado de sofrimento mental, e outra, é a do que sofre sua repercussão. Neste atrito, mostram-se duas solidões em sofrimento e se dá a ver a inelutável restrição edificada pela afirmação de um único ponto de vista. A questão da loucura não é tratada por tentativa de sublimação ou mesmo de criação de um lugar de valor, o que demonstra uma visão sensível e constrói uma poética transgressora das nossas referências mais comuns.
Corações comovidos… e outras histórias
O texto que segue foi publicado no Jornal do Brasil em 13 de maio de 2009, durante a primeira temporada desta peça, que estreou no Oi Futuro Flamengo e agora reestreia no Teatro Nelson Rodrigues. Para esta edição, foram modificadas as informações sobre a temporada e outros detalhes, mas foram mantidos o formato e a extensão, característicos da crítica escrita para o jornal impresso.
Esqueça as fantasias de personagens da Disney, as peças infantis que imitam filmes que todo o mundo já viu e as insossas histórias de princesas. Em cartaz Teatro Nelson Rodrigues para uma curta temporada, A mulher que matou os peixes…e outros bichos passa longe da mesmice do teatro infantil. Não sobra um clichê pra contar a história. Aliás, a peça também não segue o protocolo que determina que, para fazer uma peça infantil, é preciso contar uma história. Ela conta várias: a da mulher que matou os peixes, do gato acertadamente apelidado Pinel, de vários cachorros que não estão mais entre nós, de uma macaca que também não teve vida longa, enfim, a peça reúne uma série de relatos improváveis para o divertimento. A morte dos bichos de estimação, um dos fatos da infância que parece sacudir a forma como as crianças veem o mundo, é um tema que permeia toda a peça. Mas sem apelação para a choradeira. Pelo contrário.
Presença que escapa
Em sintonia com uma das principais propostas da Cia. dos Atores, Devassa desponta como uma desconstrução de um texto original – no caso, Lulu, de Franz Wedekind, já transportado para o cinema por G W. Pabst. A diretora Nehle Franke e os atores se preocuparam em entrar em contato com a integridade da obra original antes de dissecá-la em cena. É interessante acompanhar a perseguição dos personagens por uma Lulu, que, mesmo quando parece ter sido dominada, escapa, sempre fugidia, das mãos de seus controladores.