Críticas

Gerald Thomas compõe seu “ready-made” rodriguiano

22 de agosto de 2022 Críticas

Um feto suspenso no espaço por uma rede tenta romper as fronteiras limitantes em F.E.T.O. (Estudos de Doroteia Nua Descendo a Escada), espetáculo de Gerald Thomas a partir de Doroteia, de Nelson Rodrigues. Está pronto para entrar no mundo. E o mundo, está pronto para recebê-lo?, parece nos perguntar o encenador.

Em sua primeira incursão na obra de Nelson Rodrigues, o diretor faz renascer apenas o DNA do clássico da dramaturgia brasileira. Estilhaça o texto compondo quadros vivos autônomos entre si que conservam pouco mais do que o deboche da obra original em relação à sociedade de seu tempo. A fidelidade de Gerald não é literal, textual, mas conceitual. Centra-se na visão social e política de Nelson e sua Doroteia (1949). “Esta não é uma ave de cunho psicológico”, avisa Fabiana Gugli em cena cacarejando abraçada a uma ave decepada, para não deixar dúvidas sobre o caráter anárquico da releitura.

Camadas biográficas entre idas e vindas temporais

5 de agosto de 2022 Críticas

Turmalina 18-50 é, inicialmente, sobre João Cândido Felisberto, Almirante Negro, líder da Revolta da Chibata ocorrida em 1910. A obra conta em detalhes toda a trajetória de dor e de lutas contra o racismo por parte de Felisberto – nome que lhe foi negado pela Marinha do Brasil à época. Trazer à cena a história desse herói negro, morador de São João de Meriti, mesmo território da Cia Cerne, autora do trabalho, sugere uma duplicidade biográfica no que tange à vida e aos feitos do personagem principal, mas também à identidade que atravessa esse coletivo de artistas. A Cia Cerne integra a Rede Baixada em Cena, organização cultural criada em 2008 na Baixada Fluminense para fortalecer a consciência política e participativa de artistas e produtores da região. A Cia Cerne também é um dos 22 coletivos integrantes da Rede de Grupos de Pesquisa Continuada em Teatro da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, a Frente Teatro, que tem como valor expandir territórios e fomentar compartilhamentos entre artistas de todas as regiões do Rio de Janeiro.

Apesar do vento

24 de junho de 2022 Críticas

Como aconteceu com diversos projetos, a pandemia atrasou em dois anos a estreia de Uma peça para Fellini, projeto idealizado pela atriz e diretora de teatro Marcia do Valle com o diretor e produtor de cinema Cavi Borges. A proposta era estrear em 2020, ano de celebração do centenário de nascimento do cineasta italiano Federico Fellini, a quem o espetáculo presta uma homenagem franca e afetuosa. O teatro e o cinema estão juntos neste projeto em diversos aspectos. Além da parceria entre Marcia e Cavi, o espetáculo se dá como uma espécie de resposta às referências que Fellini faz ao teatro em seus filmes e acontece dentro de um cinema, no foyer do Estação Net Rio, em Botafogo, no Rio de Janeiro, tendo feito parte das ações contra a ação de despejo que ameaçou a continuidade deste espaço tão importante para o cinema nacional na cidade.

A liberdade é o único caminho

8 de novembro de 2021 Críticas

 “Por isto o quilombo desfila/
Devolvendo em seu estandarte/
As histórias de suas origens/
Ao povo em forma de arte”.

Ao Povo Em Forma de Arte
(LOPES, MOREIRA, 1980)

 

O espetáculo infanto-juvenil Nuang – Caminhos da Liberdade, com direção e dramaturgia de Tatiana Henrique, é baseado no livro homônimo de Janine Rodrigues. Criado para ser apresentado em plataformas virtuais, Nuang clama pela presença dos espectadores devido à circularidade proposta no espaço cênico e aos inúmeros apelos sensoriais que conferem movimentação à cena. Trata-se de um grande desafio inadiável de contar uma difícil história sobre uma criança negra para crianças negras e de conscientizar as crianças não negras. Embora seja voltado para o público infanto-juvenil, o discurso do espetáculo é pertinente para todas as idades por abordar as graves consequências da falta de liberdade para as populações negras desde a escravização até os dias de hoje. Num país como o Brasil, que mais escravizou corpos negros e foi o último a abolir a escravidão, o mito da democracia racial muito tem a ver com o fato de não terem sido formuladas perguntas fundamentais sobre a colonização ao longo da História. Então é necessário recontar essa história, expor as perguntas e elaborar as respostas.

QSL, Câmbio… ou O dia em que estabelecemos contato

3 de novembro de 2021 Críticas

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(…) Compreendi tudo no instante, mas, pela multiplicidade das circunstâncias, durou pouco tal clareza, cedendo lugar à completa confusão que ora me ocupa a mente (…) Enquanto observava aquele mapa, esperando que o rapazinho acrescentasse ainda alguma explicação, agitado que estava pela surpresa de tudo quanto vira, pareceu-me que soassem as Ave-Marias, ao alvorecer. Despertando, percebi que eram os sinos da paróquia de São Benigno. O sonho durara a noite inteira.

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Questão de Crítica

A Questão de Crítica – Revista eletrônica de críticas e estudos teatrais – foi lançada no Rio de Janeiro em março de 2008 como um espaço de reflexão sobre as artes cênicas que tem por objetivo colocar em prática o exercício da crítica. Atualmente com quatro edições por ano, a Questão de Crítica se apresenta como um mecanismo de fomento à discussão teórica sobre teatro e como um lugar de intercâmbio entre artistas e espectadores, proporcionando uma convivência de ideias num espaço de livre acesso.

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