Autor Viviane da Soledade

Negro-vida em oposição ao Negro-tema

25 de agosto de 2022 Críticas

Eu tenho direito ao espaço que ocupo na nação, nessa nação.
(…) A terra é meu quilombo. O meu espaço é o meu quilombo.
Onde eu estou, eu estou, onde eu estou, eu sou. 

Beatriz Nascimento

O 8° Festival Midrash de Teatro, idealizado por Nilton Bonder, com curadoria de Vilma Melo e Natasha Corbelino, reuniu presencialmente 20 peças teatrais e ações formativas no período de 01 a 28 de maio de 2022 no Teatro Café Pequeno, no Leblon. Foi uma mostra extensa do teatro produzido por artistas negros que estabeleceu um deslocamento geográfico, étnico, político e cultural na cidade. Tratou-se de um festival de Teatro Negro por contemplar produções teatrais que tinham como característica em comum a predominância de artistas negros, contrariamente ao que é praticado no sistema cultural de uma maneira geral. Para mim, o festival buscou evidenciar distintas produções não monolíticas que não reforçassem a ideia de Teatro Negro como monocultura. No entanto, para além dos diversos modos de produção e estéticas, podemos perceber pontos de convergência no que tange às negritudes, termo cunhado pelo poeta martinicano Aimé Cesaire e tão caro a Abdias do Nascimento e ao Teatro Experimental do Negro aqui no Brasil, inspiração para a maioria dos artistas racializados desse país.

Camadas biográficas entre idas e vindas temporais

5 de agosto de 2022 Críticas

Turmalina 18-50 é, inicialmente, sobre João Cândido Felisberto, Almirante Negro, líder da Revolta da Chibata ocorrida em 1910. A obra conta em detalhes toda a trajetória de dor e de lutas contra o racismo por parte de Felisberto – nome que lhe foi negado pela Marinha do Brasil à época. Trazer à cena a história desse herói negro, morador de São João de Meriti, mesmo território da Cia Cerne, autora do trabalho, sugere uma duplicidade biográfica no que tange à vida e aos feitos do personagem principal, mas também à identidade que atravessa esse coletivo de artistas. A Cia Cerne integra a Rede Baixada em Cena, organização cultural criada em 2008 na Baixada Fluminense para fortalecer a consciência política e participativa de artistas e produtores da região. A Cia Cerne também é um dos 22 coletivos integrantes da Rede de Grupos de Pesquisa Continuada em Teatro da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, a Frente Teatro, que tem como valor expandir territórios e fomentar compartilhamentos entre artistas de todas as regiões do Rio de Janeiro.

A liberdade é o único caminho

8 de novembro de 2021 Críticas

 “Por isto o quilombo desfila/
Devolvendo em seu estandarte/
As histórias de suas origens/
Ao povo em forma de arte”.

Ao Povo Em Forma de Arte
(LOPES, MOREIRA, 1980)

 

O espetáculo infanto-juvenil Nuang – Caminhos da Liberdade, com direção e dramaturgia de Tatiana Henrique, é baseado no livro homônimo de Janine Rodrigues. Criado para ser apresentado em plataformas virtuais, Nuang clama pela presença dos espectadores devido à circularidade proposta no espaço cênico e aos inúmeros apelos sensoriais que conferem movimentação à cena. Trata-se de um grande desafio inadiável de contar uma difícil história sobre uma criança negra para crianças negras e de conscientizar as crianças não negras. Embora seja voltado para o público infanto-juvenil, o discurso do espetáculo é pertinente para todas as idades por abordar as graves consequências da falta de liberdade para as populações negras desde a escravização até os dias de hoje. Num país como o Brasil, que mais escravizou corpos negros e foi o último a abolir a escravidão, o mito da democracia racial muito tem a ver com o fato de não terem sido formuladas perguntas fundamentais sobre a colonização ao longo da História. Então é necessário recontar essa história, expor as perguntas e elaborar as respostas.

Um deslocamento do comum para o incomum

3 de dezembro de 2020 Críticas

No Brasil foram destruídos os documentos da época da escravidão, impossibilitando que as pessoas negras identificassem a sua origem. Desde a escravização, os negros e negras têm sido contados (as) ao invés de contarem a sua própria história. O protagonismo negro na sua própria narrativa é uma possibilidade recente, fruto dos movimentos negros que se reorganizaram na década de 1970 no Brasil, repercutindo artística e culturalmente quando poéticas e estéticas negras foram reconstruídas. Era preciso entender a história para resistir a ela e construir o novo, algo fundamental para a população negra. Contar a versão de si mesmos, que remete ao lema popular negro “nós por nós”, é uma forma de escurecer o futuro. Contar a sua própria história é tornar-se sujeito, fazer jus a um locus social, além de ser uma poderosa maneira de decolonizar os corpos imagética e ideologicamente. “É por aí que o discurso ideológico se faz presente. Já a memória a gente considera como o não saber que conhece, esse lugar de inscrições que restituem uma história que não foi escrita, o lugar da emergência da verdade, dessa verdade que se estrutura como ficção” (RATTS, RIOS, 2010. p.74). Ou então precisa tornar a ficção mais real.

Manifesto da recepção artística pela busca do direito de ser espectador

31 de agosto de 2015 Estudos

Vol. VIII, nº 65, agosto de 2015

Baixar PDF

Resumo: O artigo analisa o juízo estético de um espectador comum feito por meio de uma carta de uma sócia de um clube de espectadores criado pelo Espaço Cultural Escola Sesc em Jacarepaguá no Rio de Janeiro. Por meio desse artigo busca-se expor a reflexão sobre a importância da crítica de um espectador não especializado e como a análise de um objeto artístico colabora para a formação de subjetividade e de cidadania

Palavras-chaves: espectador, crítica, cidadania, clube, cultura

Resumen: El artículo analiza el juico estético de un espectador común hecho por medio de una carta de una socia de un club de espectadores creado por lo Espaço Cultural Escola Sesc enJacarepaguá en Rio de Janeiro. Por medio de ese artículo busca-se exponer la reflexión acerca de la importancia de la crítica de un espectador no especializado y como el análisis de un objeto artístico colabora para la formación de subjetividad y de ciudadanía.

Palabras clave: espectador, crítica, ciudadanía, club, cultura

 

No dia 10 de maio de 2013 a senhora Regina Lucia, sócia do Clube de Espectadores desde 21 de novembro de 2010, endereçou um arquivo por e-mail aos responsáveis pelo projeto “Palco Giratório da Escola Sesc de Ensino Médio” com o título “Carta ao Sesc Ensino Médio”. O Clube de Espectadores é um projeto realizado desde 2008 pelo Espaço Cultural Escola Sesc, localizado na Escola Sesc de Ensino Médio em Jacarepaguá, Rio de Janeiro que surge como uma tática para a formação de publico a partir de ações que visam políticas culturais com o objetivo de dar a todos o acesso à uma programação cultural de qualidade.

Newsletter

Edições Anteriores

Questão de Crítica

A Questão de Crítica – Revista eletrônica de críticas e estudos teatrais – foi lançada no Rio de Janeiro em março de 2008 como um espaço de reflexão sobre as artes cênicas que tem por objetivo colocar em prática o exercício da crítica. Atualmente com quatro edições por ano, a Questão de Crítica se apresenta como um mecanismo de fomento à discussão teórica sobre teatro e como um lugar de intercâmbio entre artistas e espectadores, proporcionando uma convivência de ideias num espaço de livre acesso.

Edições Anteriores