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Gerald Thomas compõe seu “ready-made” rodriguiano
Um feto suspenso no espaço por uma rede tenta romper as fronteiras limitantes em F.E.T.O. (Estudos de Doroteia Nua Descendo a Escada), espetáculo de Gerald Thomas a partir de Doroteia, de Nelson Rodrigues. Está pronto para entrar no mundo. E o mundo, está pronto para recebê-lo?, parece nos perguntar o encenador.
Em sua primeira incursão na obra de Nelson Rodrigues, o diretor faz renascer apenas o DNA do clássico da dramaturgia brasileira. Estilhaça o texto compondo quadros vivos autônomos entre si que conservam pouco mais do que o deboche da obra original em relação à sociedade de seu tempo. A fidelidade de Gerald não é literal, textual, mas conceitual. Centra-se na visão social e política de Nelson e sua Doroteia (1949). “Esta não é uma ave de cunho psicológico”, avisa Fabiana Gugli em cena cacarejando abraçada a uma ave decepada, para não deixar dúvidas sobre o caráter anárquico da releitura.
Shakespeare para jovens de coração

R&J de Shakespeare – Juventude Interrompida texto do americano Joe Calarco (que estreou em Londres ainda nos anos 70) teve esse ano uma versão carioca dirigida por João Fonseca, que começou com uma temporada na arena do Espaço SESC, passou pelo Teatro Glaucio Gill e em seguida foi para o tradicional palco italiano do Teatro Carlos Gomes. O texto mostra quatro alunos de um colégio rigoroso em Londres onde, entre os estudos, a rigidez dos professores, o dever das lições e orações, pairam quatro jovens que decidem encenar Romeu e Julieta no momento em que lhes é permitida a descontração do recreio escolar.
Engrenagens expostas diante do espectador

A concepção cenográfica de Cine-Teatro Limite, assinada por Rui Cortez, talvez traga à tona uma das principais características desse novo trabalho de Pedro Brício: a opção em deixar expostos mecanismos de construção cênica. Composto por uma espécie de painel de fundo (de tom verde-acinzentado e de textura gasta) que escorre pelo chão delimitando um espaço de representação, o cenário, porém, conta também com elementos localizados nas laterais do palco – fora, portanto, desta geografia circunscrita – que são deixados propositadamente à vista do espectador. De um lado, uma cama e um armário; do outro, parte da coxia, como que “lembrando” o público de sua permanência no teatro.