Críticas

Em tempo, imaginar, espectar…

29 de outubro de 2021 Críticas

Sentada na plateia da sala Garrett, do Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa, na penúltima fileira do lado direito da plateia, com duas cadeiras ao meu lado, demarcadas com cintas de isolamento, minha bolsa, pesada, sob uma delas, eu aguardo o início da apresentação da nova Coleção de Raquel André, de Espectador_s.

Enquanto aguardo, me pergunto se fiz bem em sair de casa nesses tempos pandêmicos, eu que tenho ânsias de esganar as pessoas que estão pelas ruas desavergonhadamente aglomeradas e sem máscaras, como se nunca tivessem ouvido a palavra pandemia na vida. Me sinto irresponsável por estar ali, descompromissada com a atitude ética que, acredito, devemos ter com as mais de 600 mil vidas ceifadas pelo genocida do meu país, com a não menos pior condição dos indianos, dos africanos (em todo o continente), das pessoas nos países onde a vacina ainda demora, ainda tarda, ainda não chega, com os 48 concelhos portugueses em risco muito alto (naquele momento eram 48; hoje, quando escrevo, já são mais de 115, e a contagem só sobe; tomara que até a publicação ela diminua). 

Por novos finais felizes

18 de outubro de 2021 Críticas

Em 2017, a exposição Queermuseu foi censurada em Porto Alegre por denúncias de “pedofilia” e “uso inapropriado de imagens de menores”. Dentre as obras acusadas de conteúdo impróprio estavam as telas de Bia Leite da série Criança Viada. As pinturas foram inspiradas no Tumblr de mesmo nome que reunia, desde 2014, fotos enviadas por pessoas LGBTQIA+ quando crianças e que continham indícios de “viadagem”. No centro de toda a discussão que culminou na censura à mostra estava o pensamento de que não se deve associar crianças a discussões de gênero e sexualidade. Mas como provam as fotos do Tumblr em questão (enviadas pelos próprios fotografados, já adultos), todo LGBTQIA+ foi criança um dia, e parte deste grupo se reconhece como o que se convencionou chamar popularmente de criança viada.

Cada vez que alguém diz “isso não é cinema” uma estrela se apaga

18 de outubro de 2021 Críticas

Para que uma estrela se apague diante de nossos olhares terráqueos, é necessário que miremos ao céu. Caso não olhássemos para a estrela e ignorássemos sua existência, correríamos o risco de jamais reparar seu desaparecimento e morte – mesmo se somos profissionais da astronomia, astrologia, poetas, apaixonades e navegadores do céu. A morte (o fim) de uma estrela pode ter distintas causas: (1) fim do combustível energético, como se desligassem seu reator – camadas do centro desabam, a estrela vira uma gigante vermelha, depois diminui de tamanho, tornando-se uma nebulosa planetária e anã branca; (2) a estrela, se for muito grande (oito vezes a massa solar), pode acabar explodindo, tornando-se uma supernova – uma morte violenta e espetacular; (3) por fim, se a estrela for gigante (trinta vezes a massa do sol) pode sofrer um colapso ao final de seu ciclo de vida até se tornar um buraco negro que poderá absorver outras estrelas e eventualmente se acoplar a outros buracos negros.  

Não somos destino

17 de outubro de 2021 Críticas

Não sei há quantos dias permaneço aqui, entre uma vídeochamada e uma aula remota, entre um livro e uma performance. Arrisco uma palavra ou outra, engasgo, gaguejo, desisto, me entrego… E, então, escrevo. Neste empenho em manter a sanidade, abro um vinho, leio um livro, ouso começar um artigo do zero, apago as únicas cinco linhas que esbocei. Respiro. Eu acho. Busco o ar. Nem sempre o encontro. Falta o ar. Não sei se é ansiedade, mais uma crise de asma ou sintoma de Covid-19. Ou se é tudo isso ao mesmo tempo. Quinze abas abertas no notebook. Em uma delas, sinto o impacto de uma colisão forte o bastante para me sacudir, me resgatar de mim mesma em um fim de tarde de domingo, um encontro que me devolveu o ar que há poucas linhas me faltava. Encontrei-me com Debora, Debora Lamm, dando vida ao texto “Mata teu pai”, de Grace Passô.

Crítica agora

13 de setembro de 2021 Críticas

Boa noite a todo mundo que está aqui conosco presente[1], agradeço enormemente pelo convite. Agradeço ao carinho e às trocas que tivemos neste processo, com Jhoao Junnior, Renata Meiga, Dadado e Ronaldo. Foi muito importante pra mim conhecer e encontrar vocês neste percurso, a partir dos materiais e a partir dessas fricções que a gente está vivendo neste tempo histórico e também pelos nossos percursos.

Então, eu gostaria de comentar com vocês algumas coisas que a gente falou no processo e que penso que nesta mediação será importante destacar a pluralidade das vozes entre as equipes que produziram as cenas inéditas e o público presente. Eu vou fazer uma audiodescrição rápida pois talvez tenha alguém que não esteja me vendo. Eu sou uma mulher trans branca, tô com o cabelo castanho liso com mais volume do lado esquerdo, com um colar no pescoço. Atrás de mim, uma estante com livros, em biblioteca e do meu lado direito uma janela com vidros. Bom, estou também muito feliz de dialogar deste lugar, com as questões que foram trazidas por meio destas cenas. Que são provocativas e que eu provoquei. E que me provocam de volta e aqui eu tenho algumas questões que eu vou compartilhar com vocês no sentido de provocar novamente esse debate, essa relação, a mediação desta noite.

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Questão de Crítica

A Questão de Crítica – Revista eletrônica de críticas e estudos teatrais – foi lançada no Rio de Janeiro em março de 2008 como um espaço de reflexão sobre as artes cênicas que tem por objetivo colocar em prática o exercício da crítica. Atualmente com quatro edições por ano, a Questão de Crítica se apresenta como um mecanismo de fomento à discussão teórica sobre teatro e como um lugar de intercâmbio entre artistas e espectadores, proporcionando uma convivência de ideias num espaço de livre acesso.

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