Autor Dinah Cesare

A força da forma intuitiva

16 de dezembro de 2012 Críticas
Foto: Chico Lima.

Depois da Queda é um texto do dramaturgo norte-americano Arthur Miller que expõe a reflexão do autor sobre seus próprios movimentos de autodestruição. Trata-se de uma exposição autobiográfica, quase como um tratado filosófico sobre si, mas que magistralmente se estabelece por meio de uma relação de alteridade – toda e qualquer possível conceituação de si, o autor estabelece naquilo que se pode enxergar de destrutivo no que o outro realiza. A autobiografia é ficcionalizada, sem dúvida, mas ela não se anula, é um recurso para falar daquelas questões mais óbvias – celebridades, família – mas é também um modo de colocar um indivíduo com todo o seu discurso psicológico em cena, justificado de certo modo por suas ideias. Deste jeito, o texto fica meio “retrato” do homem de uma época e, ao mesmo tempo, ele é “retrato” biográfico de um homem específico e importante, que foi o Arthur Miller. O texto se torna uma sobreposição de retratos: o do homem específico e o do homem histórico. Escrita em 1964, a peça cria uma instância de expressão sobre os sentidos possíveis de momentos em que a história parece mesmo não ter sentido algum como ideia, a não ser inserida em outra série.

Criação, universidade, viver junto e separado

30 de novembro de 2012 Conversas

DINAH CESARE: Estufa faz parte de um projeto do coletivo Karenkaferem. Quais são as características desse coletivo? E, nesta questão, como se materializa a ideia de artista-pesquisador?

NINA BALBI: Acho que a escolha pela nomeação “coletivo” e não “companhia” apresenta um pouco a nossa proposta. O motivo dessa nomeação é que não nos vemos como um grupo homogêneo, no sentido de fruirmos sob as mesmas ânsias de pesquisa nas artes ou empreendermos uma busca por uma linguagem determinada. O kerencaferem responde mais a uma estrutura de rede que se alimenta para sustentar, criativa e financeiramente, qualquer projeto que venha a surgir, de qualquer um dos membros ou parceiros. No sentindo amplo da palavra, vejo que somos um coletivo de produtores culturais. Se um membro do coletivo apresenta um projeto, nos colocamos como realizadores. De acordo com os afetos e disponibilidades, algumas pessoas ingressam em sua pesquisa artística, outras se colocam como realizadoras, no sentido da produção e da articulação. Este formato nos permite transitar entre muitas funções e pensar a ética da produção cultural de forma verticalizada, o que penso, é o principal objetivo do coletivo. Entendemos o coletivo como uma superfície de encontro de individualidades. Cada um de nós tem um vínculo muito próprio com o ofício, além de virmos de diferentes áreas das artes. O que acontece é que, sendo cada um de nós um propositor e um criador, que responde às suas próprias ânsias, nossas obras se ramificam e ganham expressões singulares. Assim, a mesma obra volta ao coletivo sob visões múltiplas, de forma que nos retroalimentamos e potencializamos tanto os encontros quanto as diferenças. É claro que esse convívio íntimo que lida com paixão e criação acaba nos aproximando enquanto artistas e hoje, penso, temos muitas afinidades e terrenos comuns conquistados. Falamos línguas parecidas.

Nosso moto contínuo pela felicidade

24 de novembro de 2012 Críticas
Foto: Daniel Zimmermann.

Estufa, uma definição: Lugar fechado dentro do qual se criam artificialmente condições especiais para a realização de determinado fenômeno.

Estufa foi apresentada na Mostra Hífen de pesquisa-cena que aconteceu entre os meses de agosto e setembro no Espaço Cultural Sérgio Porto, em seguida realizou quatro apresentações na Argentina e agora está em curta temporada na Rampa – Lugar de Criação. A Mostra Hífen teve curadoria de Diogo Liberano e Adriana Schneider e seu pressuposto foi o de criar um espaço para exposição e discussão de trabalhos que relacionam a universidade e o processo de criação em artes cênicas. A ideia de hífen tem o caráter de chamar a atenção para as possibilidades de aproximação e distanciamento entre duas instâncias que, de modo geral o senso comum, quando pensa sobre trabalho de arte, costuma ver como inconciliáveis: a criação dos artistas e o pensamento acadêmico. É curioso que quando se tem em mente a ciência, em seus avanços ou em suas tecnologias de ponta, o conhecimento universitário está solidário às práticas.

Experiência do tempo amoroso

24 de novembro de 2012 Críticas

Tempo, presença, dispositivo, o instante como acontecimento, o fotográfico como parada falseada do tempo contínuo. A continuidade do tempo pode ser messianicamente salva pela parada do instante. O que se quer salvo é o amor, ou a presença do ente amado que faz viver, mesmo que em morte, o ser que ama. Talvez, esse seja o grito surdo que se faz ouvir do espetáculo: o amor como uma experiência revolucionária do tempo. O título se mostra como um truque que nos coloca modos de representação que são omitidos: modos de cinema. O dispositivo é formado pela palavra, pela plástica, pela luz. Um teatro da palavra, mais do que da imagem do cinema classicamente concebida, mas de uma palavra que faz ver, ao mesmo tempo em que subtrai visualidades que não podem ser exercidas em cena, mas podem ser visualizadas em uma relação com a técnica do escorço, ou pelos fragmentos que o desenho luminoso entre o claro e o escuro deixa ver. A escrita crítica não tem outro modo de se realizar a não ser perpassando esse mesmo caminho entre o discurso denunciativo e a subtração de narrativas que cabem na temporalidade imprópria da dramaturgia.

Tensão na vida familiar

24 de novembro de 2012 Críticas

É totalmente possível concordar com o personagem Joaquim, que abre Amores surdos: todas as histórias já foram escritas e todas as histórias já foram contadas. Joaquim anuncia o que se passará – a história comum de uma família, fazendo coisas, comendo e brigando, cuidando um do outro, existindo em um determinado intervalo de tempo entre dois telefonemas. Situa ainda o espectador em sua condição de assistência de uma ficção teatral. Escutamos com Agamben o eco de Godard nas Histoire(s) de que “não temos necessidade de filmar, basta-nos repetir e parar”. Todas as imagens já foram filmadas. Temos imagens demais. Para que façam algum sentido novo precisamos recortá-las, colá-las em outra arrumação, montar e remontar as imagens. A questão é como estamos construindo estas imagens para sabermos de qual mundo estamos falando ou, por outra, como estamos andando no mundo, o quê do disponível para todos estamos escolhendo para colocar em jogo.

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Questão de Crítica

A Questão de Crítica – Revista eletrônica de críticas e estudos teatrais – foi lançada no Rio de Janeiro em março de 2008 como um espaço de reflexão sobre as artes cênicas que tem por objetivo colocar em prática o exercício da crítica. Atualmente com quatro edições por ano, a Questão de Crítica se apresenta como um mecanismo de fomento à discussão teórica sobre teatro e como um lugar de intercâmbio entre artistas e espectadores, proporcionando uma convivência de ideias num espaço de livre acesso.

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