É totalmente possível concordar com o personagem Joaquim, que abre Amores surdos: todas as histórias já foram escritas e todas as histórias já foram contadas. Joaquim anuncia o que se passará – a história comum de uma família, fazendo coisas, comendo e brigando, cuidando um do outro, existindo em um determinado intervalo de tempo entre dois telefonemas. Situa ainda o espectador em sua condição de assistência de uma ficção teatral. Escutamos com Agamben o eco de Godard nas Histoire(s) de que “não temos necessidade de filmar, basta-nos repetir e parar”. Todas as imagens já foram filmadas. Temos imagens demais. Para que façam algum sentido novo precisamos recortá-las, colá-las em outra arrumação, montar e remontar as imagens. A questão é como estamos construindo estas imagens para sabermos de qual mundo estamos falando ou, por outra, como estamos andando no mundo, o quê do disponível para todos estamos escolhendo para colocar em jogo.