Autor Dinah Cesare

Estética, cultura e teatro

23 de fevereiro de 2013 Críticas
Foto: Divulgação.

Jacinta é uma comédia-rock muito bem-vinda na cidade que tem um gosto especial pelos musicais. Sua estrutura congrega uma espécie de exposição de quadros que perfazem a trajetória artística da protagonista e indica uma forma de pensar. Podemos fazer uma alusão, se quisermos, aos milagres medievais que contavam a história de santos, também compostos por golpes de teatro. Mas ao passo que nos chamados milagres os golpes de teatro são, muitas vezes, manifestações divinas, aqui eles tomam uma feição inversa, mundana, e suscitam, como os primeiros, uma boa dose de humor, porém, alicerçados por releituras de citações históricas. As produções do gênero musical que normalmente assistimos são versões de musicais importados, o que é revolucionado em Jacinta, notando que não se trata de um musical biográfico que conta a vida de um compositor, alternando cenas com suas músicas (particularidade de um gênero mais explorado na produção de musicais no Rio). A fábula trata da saga de uma histriônica atriz portuguesa – considerada a pior de sua época – que promove, com sua atuação, a morte da rainha de Portugal e a desgraça do renomado dramaturgo Gil Vicente. Em vista disso, ela se vê em um exílio forçado em terras brasileiras.

Um drama musical

23 de fevereiro de 2013 Críticas
Foto: Divulgação.

O espetáculo musical Quase normal, adaptação brasileira para o musical americano Next to normal, esteve em cartaz no Teatro Clara Nunes no ano passado e segue temporada nos palcos da cidade de São Paulo.

A estrutura mais descritiva do musical constrói um nexo causal entre as cenas que cria um princípio unificador. Assim, a recepção pode acompanhar o desenrolar da fábula. Sem dúvida, não se trata de uma história cheia de glamour evidente, mas se aproxima de uma linha de musicais da Broadway que se situam no universo temático do uso de drogas, de problemas sociais ou de questões ligadas à AIDS. Este viés mais deslocado chegou a gerar um dos espetáculos mais premiados – o musical Rent, que conta a história de um grupo de amigos morando na Nova York dos anos de 1980. O tratamento do tema familiar pela ótica do luto no texto de Tom Kitt em Quase normal, ganhador do prêmio Pulitzer em 2010 por ocasião de sua estreia, coloca o movimento do trabalho de arte que imprime o imaginário do espetáculo.

Fantasmagorias da realidade

30 de janeiro de 2013 Críticas
Foto: Divulgação.

A cena é simples, na verdade, tudo dá a aparência de um cenário artificial. Uma sala de estar com duas paredes, uma ao fundo e outra na lateral direita. O cenário não tem um acabamento tradicional realista, é feito de compensado pintado, sem pretensões ilusionistas, propositadamente sem nenhum tratamento característico de uma cenografia figurativa. Na parede lateral vê-se um pequeno corredor que sugere um cômodo contíguo. O lado esquerdo é vazado para o escuro do fundo do espaço. Um carpete verde e um sofá marrom de dois lugares. A primeira impressão deste conjunto, juntamente com os atores no espaço, é a de que a narrativa humana se estrutura por enredos incompletos. Tudo sugere um desgaste pelo tempo. O que se observa é um desejo de realismo (de um regime estético mimético) insuflado pelo regime da realidade que se mostra como algo que precisa ser construído. A desejada imaterialidade humana de suas histórias está instalada numa região virtual que não está ali visível para o público, que se insinua pela qualidade de um cenário meio inacabado.

A força do primitivo

27 de janeiro de 2013 Críticas
Foto: Divulgação.

Concebido como um ato de criação conjunta entre artistas, Farnese de saudade, não tenta construir uma linearidade biográfica do artista plástico Farnese de Andrade. A encenação fragmentou os materiais pesquisados sobre Farnese e os colocou em uma montagem, criando uma nova série. Se comumente pensamos que os documentos têm seu valor confirmado por atestarem a veracidade dos fatos, quando um material dito documental é particularizado em uma nova visão, o que acontece é semelhante à construção de um acontecimento. O acontecimento pode ser pensado como um momento em que se dão certas confluências que podemos reconhecer, justamente por sua repetição em nossas experiências, por já termos podido compartilhar de tais sentimentos ou situações anteriormente. O fator importante desta nova série parece ser a confluência das experiências artísticas de seus realizadores na consumação da encenação.

Imagens do envolvimento

30 de dezembro de 2012 Críticas
Foto: Guto Muniz.

Por correr, por suspender o movimento, por deixar o tempo passar, por parar o tempo, por amor, por se envolver, por deixar cair, por se proteger, por deixar ser clareira, por partir, por reencontrar, por planejar o improvável, por ser animal, por falar, por recortes, por imagens…

Em Por Elise, paradoxalmente, as associações não são óbvias, mesmo a vida não sendo tão imprevisível que não possa acontecer na história comum, ou dos comuns como diz o texto de Grace Passô. Os comuns não se portam em semelhança direta com o mundo conhecido. A dramaturgia se realiza em corpos no espaço, ou nos modos de se manter de alguma maneira no espaço. O que impressiona pode ser suas imagens que transitam entre movimento e ações. O Tai Chi é como um meio expressivo destas duas qualidades dos corpos na cena e, no prólogo, aponta precisamente algo que ainda está por vir.

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Questão de Crítica

A Questão de Crítica – Revista eletrônica de críticas e estudos teatrais – foi lançada no Rio de Janeiro em março de 2008 como um espaço de reflexão sobre as artes cênicas que tem por objetivo colocar em prática o exercício da crítica. Atualmente com quatro edições por ano, a Questão de Crítica se apresenta como um mecanismo de fomento à discussão teórica sobre teatro e como um lugar de intercâmbio entre artistas e espectadores, proporcionando uma convivência de ideias num espaço de livre acesso.

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