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O rumor também é um deus
Vol. IX, nº 67 abril de 2016 :: Baixar edição completa em PDF
Resumo: O texto parte do conceito grego de rumor como forma de acessar o princípio formal da peça e, nesse processo, tecer considerações sobre as possibilidades de resgate do mito grego no teatro e sua relação com o cenário político atual.
Palavras-chave: rumor, mito, Minotauro, política
Abstract: The text brings the Greek concept of rumor as way to access the formal principle of the play and, in the process, makes considerations about dramatic and political treatments of the Greek myth today.
Keywords: rumor, myth, Minotaur, politics
Faz assim; e foge ao terrível rumor dos mortais,
pois o rumor é mau, rápido para se criar
com grande facilidade, penoso para suportar, difícil de deixar de lado.
Nenhum rumor se destrói completamente quando muita
gente o divulga: é que ele também é um deus
(HESÍODO, 2012, p. 137).
Correspondências que ultrapassam os tempos

A narrativa do espetáculo que está em cartaz no Poeirinha, Eu é um outro, dirigido por Isabel Cavalcanti e com dramaturgia assinada por Pedro Brício, constitui-se de fragmentos que recriam, no palco, a vida particular do poeta francês Artur Rimbaud. Intercalam-se a essas imagens, outros dois episódios que se aproximam do nosso tempo presente, instaurando conflitos que se deixam afetar pelo legado literário do poeta.
O teor fantástico da redenção

Criados em cativeiro é um texto do dramaturgo americano Nicky Silver, escrito em 1995, que problematiza a ideia dos atos de redenção nos percursos da vida. A redenção que aparece é atravessada por possibilidades de libertação e de deixar o outro ir – um deixar -se estar e ir para construir ou refazer as perdas amorosas. Assim, a noção de drama se estabelece quando revela por meio dos diálogos os traumas passados, os fracassos, as angústias atuais, a solidão e, sobretudo, a alienação em que estão mergulhados os indivíduos. O cativeiro dos personagens está impresso (em negativo) em suas relações que se encontram presas nos acontecimentos recalcados do passado.
Quanto texto, quanta estupidez

Em cartaz no Teatro II do CCBB – RJ durante os meses de abril e maio, a Companhia Os Dezequilibrados comemora seus quinze anos com a encenação do texto A estupidez, do dramaturgo argentino Rafael Spregelburd. O texto faz parte de uma heptologia inspirada no quadro de Hieronymus Bosch, A roda dos pecados capitais. Em foco estão os supostos pecados do homem contemporâneo. Por exemplo, dentre os outros textos que fazem parte da série estão A paranoia e A teimosia. A escolha, da Companhia, por A estupidez revela o desejo de falar, claro, da estupidez humana, e também evidencia um processo marcado pela presença primordial do texto.
A questão da identificação e da presença

“Comprometer-se com um relacionamento, irrelevante ao longo prazo, é uma faca de dois gumes. Faz com que manter ou confiscar o investimento seja uma questão de cálculo e decisão.”
Zygmunt Bauman em Amor líquido: Sobre a fragilidade dos laços humanos
O espetáculo Histórias de Amor Líquido é constituído por três tramas paralelas, organizadas de maneira fragmentada. O autor Walter Daguerre baseou-se, como fonte de inspiração fundamental para constituir sua dramaturgia, na obra do sociólogo polonês Zgymunt Bauman, em especial no estudo intitulado Amor líquido: Sobre a fragilidade dos laços humanos. Desta maneira, opera-se no espaço cênico do Teatro Poeira, sob a batuta do diretor Paulo José, um sistema de procedimentos criativos em que situações fabulares, vivenciados por sujeitos ficcionais problematizados em sua individualidade e em graus variados de complexificação, são elaborados pelo autor do texto teatral numa aproximação com dados e conceitos apontados por Bauman na sua tese. O sociólogo discorre sobre visíveis mudanças nos relacionamentos afetivos instaurados pela pós-modernidade líquida (metáfora que muito vem a calhar e que se contrapõe à era das ideologias sólidas dos séculos passados) nas últimas décadas, provocando efeitos singulares no atual modo de pensar e agir com o próximo na contemporaneidade.