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O teor fantástico da redenção

Criados em cativeiro é um texto do dramaturgo americano Nicky Silver, escrito em 1995, que problematiza a ideia dos atos de redenção nos percursos da vida. A redenção que aparece é atravessada por possibilidades de libertação e de deixar o outro ir – um deixar -se estar e ir para construir ou refazer as perdas amorosas. Assim, a noção de drama se estabelece quando revela por meio dos diálogos os traumas passados, os fracassos, as angústias atuais, a solidão e, sobretudo, a alienação em que estão mergulhados os indivíduos. O cativeiro dos personagens está impresso (em negativo) em suas relações que se encontram presas nos acontecimentos recalcados do passado.
Incisão na fantasmagoria – perspectiva da ruína familiar

A peça Pterodátilos dirigida por Felipe Hirsch é a encenação do texto do americano Nicky Silver e já havia sido trabalhada pelo diretor e pelo ator Marco Nanini há oitos anos, quando ganhou o prêmio APCA de melhor espetáculo em 2002. Segundo Hirsch, a necessidade de retomar o projeto de Pterodátilos está investida, sobretudo, pela conformação de mercadoria cada vez mais evidente, pela qual a sociedade se constitui. Essa intenção é formalizada com apuro na encenação atual que realiza uma apropriação crítica dos processos de reificação – isso confere seu teor de modernidade e de contemporaneidade. A fábula se desenvolve a partir da desestruturalização de uma família de classe média alta, cujo patriarca é Arthur (Marco Nanini), um empresário presidente de banco, e sua mulher Grace (Mariana Lima), uma dona de casa alcoólatra e, por isso mesmo e inversamente, consumista. Ambos são assolados pelo retorno do filho Todd (Álamo Facó) e pelo eminente casamento da caçula Ema (Marco Nanini) com o namorado Tom (Felipe Abid), transformado em empregada. Surgem tensões de ordem material, o desemprego do pai, a gravidez da filha, a infecção que acomete o filho e a descoberta de ossos no subsolo da casa.