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A tragédia do inconformismo (e o inconformismo da tragédia)
Vol. VIII nº64, maio de 2015.
Resumo: O texto se propõe a pensar a dialética entre resistência e conformismo (na arte e na política) a partir da análise da peça Vianninha conta o último combate do homem comum, dirigida por Aderbal Freire-Filho. Como o título indica, defende-se que a tragédia deve ser pensada, pelo menos a partir da Modernidade, como uma escola de liberdade, uma forma de arte que ensina a resistir às ideias de um poder superior ou um destino imutável.
Correspondências que ultrapassam os tempos
A narrativa do espetáculo que está em cartaz no Poeirinha, Eu é um outro, dirigido por Isabel Cavalcanti e com dramaturgia assinada por Pedro Brício, constitui-se de fragmentos que recriam, no palco, a vida particular do poeta francês Artur Rimbaud. Intercalam-se a essas imagens, outros dois episódios que se aproximam do nosso tempo presente, instaurando conflitos que se deixam afetar pelo legado literário do poeta.
A história que permanece
“Sem dúvida, somente a humanidade redimida poderá apropriar-se totalmente do seu passado.”
Walter Benjamin
A companhia Alfândega 88 apresenta, no palco do Teatro Serrador, o espetáculo A negra Felicidade. Sob a direção de Moacir Chaves, a montagem é organizada a partir da alternância de diferentes registros de escrita, entrecruzando vozes de elementos narrativos diversos, como dois autos de um processo jurídico, retirados dos arquivos públicos da cidade do Rio de Janeiro, de fins do século XIX, classificados do Jornal do Commercio da mesma época, um sermão religioso e, por fim, o fragmento de um solilóquio, extraído da peça O jardim das cerejeiras, de Tchekov. Os quadros são dispostos de forma fragmentada e forjam sentidos na medida em que a sucessão dos fatos deixa entrever uma necessidade do diretor de trazer, para o debate público, as mazelas que herdamos dos procedimentos de conduta éticos e morais do passado.
O bardo contemporâneo
O pátio central do Arquivo Nacional no centro do Rio de Janeiro foi ocupado, durante o mês de dezembro de 2011, pela peça Penso ver o que escuto, realização da Cia Bufomecânica sob a direção de Fábio Ferreira e Claúdio Baltar. Nesta nova produção, a Cia Bufomecânica – em parceria com a Royal Shakespeare Company – trouxe a público o resultado da pesquisa realizada pelo grupo sobre os dramas históricos de William Shakespeare. O cerne deste estudo cênico está nos reis ingleses do século XV. O ponto de partida é a peça Ricardo II, passando por Henrique IV, HenriqueV, Henrique VI e culminando em Ricardo III. O ponto de intersecção entre essas peças se dá nos intermináveis conflitos entre as dinastias York e Lancaster que se digladiam ferozmente pelo trono inglês, lançando a Inglaterra em uma era de terror e medo. As peças Ricardo II e Ricardo III (escritas provavelmente entre os anos de 1590 e 1595) são o fio condutor da encenação concebida por Fábio Ferreira e Claúdio Baltar.
Sobre teatro, resquícios e cinema
Depois do filme, Ulisses não foi feliz, mas tentou. Desses desejos que muitas pessoas têm de saber o que acontece com o personagem após o final da história. Ulisses é o personagem de Aberbal Freire-Filho no filme Juventude (2008), de Domingos de Oliveira. O Ulisses da peça é o mesmo, tempos mais tarde. Pode-se dizer que a peça tem início, no mínimo, numa ideia interessante.