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Poesia e literalidade no espaço cênico

A mecânica das borboletas é um espetáculo revestido de camadas referenciais e metafóricas. Enquanto o dramaturgo Walter Daguerre brinca com possibilidades de criar, no âmbito textual, situações cênicas sustentadas pela poesia e pela literalidade no conflito entre duplos (dois irmãos, duas formas de encarar o mundo, duas maneiras possíveis de leitura dos símbolos), a direção de Paulo de Moraes opera, no desvelamento gradativo dos signos visuais, a estabilização de uma assinatura estética, possibilitando ao espectador que acompanha a trajetória do diretor em seus últimos trabalhos, o reconhecimento estilístico dos efeitos produzidos por suas escolhas junto aos demais elementos materiais da representação.
Radar encontra Radar
Estar em Nova York pela primeira vez e não querer fazer turismo. Tarefa duríssima tendo em vista a vasta quantidade de atrativos que esta cidade possui. E a coisa se complica ainda mais se você chega no dia 31 de dezembro, os que lá vivem estão em recesso por causa das festas, as ruas estão entupidas de turistas, o comércio só pensa em faturar e, claro, os teatros estão de portas fechadas. Como? Eu disse “os teatros estão de portas fechadas?” Que teatros? Os da Broadway estão a pleno vapor, lotados como sempre, com um cardápio que inclui desde o fatigado Fantasma da Ópera até vibrantes novidades como Fela! Mas, como eu disse, não fui a Nova York fazer turismo.
Qual seria, então, o teatro de meu interesse por essas bandas? Off Broadway? Off Off Broadway? E onde encontrar? Comecei minha pesquisa dia 3, o primeiro dia útil do ano. Minha única referência era o La Mama Experimental Theatre Club. Eu já tinha ouvido falar deste espaço no Brasil, principalmente por coisas escritas pelo Gerald Thomas, que sempre se disse cria da casa. Joguei no Google e rapidamente descobri que ficava no East Village e que já no dia cinco teria espetáculo. Vi a peça que estava passando, Being Harold Pinter, mas não prestei muita atenção no que se tratava, porque, independentemente do que fosse, eu iria lá conferir.
A questão da identificação e da presença

“Comprometer-se com um relacionamento, irrelevante ao longo prazo, é uma faca de dois gumes. Faz com que manter ou confiscar o investimento seja uma questão de cálculo e decisão.”
Zygmunt Bauman em Amor líquido: Sobre a fragilidade dos laços humanos
O espetáculo Histórias de Amor Líquido é constituído por três tramas paralelas, organizadas de maneira fragmentada. O autor Walter Daguerre baseou-se, como fonte de inspiração fundamental para constituir sua dramaturgia, na obra do sociólogo polonês Zgymunt Bauman, em especial no estudo intitulado Amor líquido: Sobre a fragilidade dos laços humanos. Desta maneira, opera-se no espaço cênico do Teatro Poeira, sob a batuta do diretor Paulo José, um sistema de procedimentos criativos em que situações fabulares, vivenciados por sujeitos ficcionais problematizados em sua individualidade e em graus variados de complexificação, são elaborados pelo autor do texto teatral numa aproximação com dados e conceitos apontados por Bauman na sua tese. O sociólogo discorre sobre visíveis mudanças nos relacionamentos afetivos instaurados pela pós-modernidade líquida (metáfora que muito vem a calhar e que se contrapõe à era das ideologias sólidas dos séculos passados) nas últimas décadas, provocando efeitos singulares no atual modo de pensar e agir com o próximo na contemporaneidade.