Autor Daniel Schenker
Opções diante do relato pessoal

O lugar escuro nasceu como a canalização artística de experiências pessoais de Heloisa Seixas – primeiro transpostas para a literatura e agora adaptadas para a cena –, particularmente no que se refere à convivência dentro da esfera familiar com o Mal de Alzheimer. A autora propõe uma estrutura norteada pela reverberação da doença da mãe nas vidas de filha (personagem que simboliza a própria Heloisa) e, com mais suavidade, neta.
Considerável risco e alguma obediência

Capivara na luz trava trafega entre o teatro e a dança, ainda que muitos considerem reducionista estabelecer definições para cada manifestação artística. Sem se valer da palavra, o Massa Grupo de Teatro amplia o conceito de dramaturgia para além do plano verbal, apesar da inspiração para o trabalho remeter a um conto, intitulado Desengano, de Diego de Angeli. De certo modo, o texto permanece como pelo menos uma das bases de criação. A abordagem de determinadas questões, porém, não se constitui por meio da construção de um enredo ou de uma narrativa linear a ser facilmente decodificada pelo público.
Geografia da exclusão

O Teatro da Vertigem evidencia a ampliação do conceito de texto por meio da utilização de espaços não-convencionais, a exemplo das apresentações em igreja (Paraíso Perdido), hospital (O Livro de Jó), presídio (Apocalipse 1,11), rio (BR3) e prédio (Kastelo). O público é inevitavelmente influenciado pela carga desses espaços – carga que se converte em texto não-verbal, confirmando que as vias de acesso aos espetáculos não se dão mais tão-somente pelas palavras proferidas pelos atores em cena.
Brecht com clareza exemplar

O festival Porto Alegre em Cena traz, a cada ano, pelo menos um grande nome do teatro mundial. Encenadores como Eimuntas Nekrosius, Peter Brook, Ariane Mnouchkine, Patrice Chereau e Bob Wilson marcaram presença através de seus espetáculos nas últimas edições do evento. Desta vez, a grande atração foi a montagem do Berliner Ensemble para Mãe Coragem e seus filhos, de Bertolt Brecht, assinada por Claus Peymann.
A presentificação do passado

Miguel Falabella olha com esperança para as personagens de A Partilha, irmãs que se reencontram no velório da mãe e promovem um acerto de contas doce-amargo ao longo do processo de divisão dos bens familiares. Maria Lúcia, Regina e Laura se esforçaram para reescrever suas histórias, mesmo que através de relacionamentos nem sempre norteados pelo amor. Se não acertaram, contabilizam, pelo menos, o esforço da mudança. Selma, apesar de ter se acomodado num casamento burocrático, começa a ensaiar uma transição.