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Brasileiro por excelência
Ao longo do tempo, João Falcão vem conjugando as funções de dramaturgo e diretor, acúmulo perpetuado agora no musical Gonzagão – A lenda, concebido para homenagear Luiz Gonzaga no centenário de seu nascimento. A qualidade das músicas, a adesão do elenco e a vibração da cena credenciam esse espetáculo brasileiro por excelência que sublinha certas opções no que se refere à configuração da cena.
Uma das características mais evidentes na encenação de João Falcão é o palco limpo, que permanece assim durante boa parte da apresentação. Os atores entram trazendo os elementos referentes a cada cena e os levam embora ao final da passagem (cenografia e adereços a cargo de Sergio Marimba). Os músicos (direção musical de Alexandre Elias) emolduram esse espaço “vazio” por onde transitam os atores trajados em figurinos (de Kika Lopes) sempre criativos, que surpreendem sem apelar para o esfuziante. As tonalidades neutras imperam – com exceção de poucos momentos, como o do passional reencontro entre Gonzagão e Gonzaguinha. Contrastando com essa neutralidade, a iluminação (de Renato Machado) preenche a amplidão do palco do Sesc Ginástico com cores fortes (vermelho) – ou conferindo intensidade a tons frios (azul) – sobrepostas a uma cortina rendada ao fundo.
A luz no lugar escuro
O espetáculo teatral O lugar escuro, dirigido por André Paes Leme e escrito por Heloisa Seixas, pretende lançar luz sobre um tema que vem ocupando a população mundial recentemente: o mal de Alzheimer. Com a ampliação da expectativa de vida dos idosos nos grandes centros, surge a demanda de se refletir acerca dos problemas pertencentes a esta fatia da sociedade.
O fato de a doença atingir em grande parte idosos, agindo sob o cérebro dos mesmos, apagando suas memórias e causando um quadro de demência, faz-nos observar uma representação da loucura distinta da esquizofrenia e de outras doenças neuropsicológicas que tocam pessoas mais moças, que, por vezes, já apresentam seus sintomas de insanidade desde o momento do nascimento.
Opções diante do relato pessoal
O lugar escuro nasceu como a canalização artística de experiências pessoais de Heloisa Seixas – primeiro transpostas para a literatura e agora adaptadas para a cena –, particularmente no que se refere à convivência dentro da esfera familiar com o Mal de Alzheimer. A autora propõe uma estrutura norteada pela reverberação da doença da mãe nas vidas de filha (personagem que simboliza a própria Heloisa) e, com mais suavidade, neta.