Autor Daniel Schenker

O instante fugidio

17 de julho de 2012 Críticas
Foto: Ana Alexandrino.

O desejo de reter um brevíssimo instante em relação ao qual não se tem (ou quase não se tem) acesso sobressai na dramaturgia de Dentro, concebida pelos integrantes da Pequena Orquestra a partir de argumento de Michel Blois, que acumula as funções de diretor e ator.

Em determinada passagem da encenação em cartaz no Teatro Ipanema, um dos personagens destaca a sensação de vácuo no momento em que a água do chuveiro é desligada. Em outra, alguém discorre brevemente sobre como seria lembrar da própria morte, uma “personagem”, aliás, importante em Dentro. O medo de morrer decorre das ameaças advindas da guerra que explode fora do apartamento (onde os personagens se encontram confinados), mas não apenas. Também se impõe fora da lógica da realidade, a exemplo daquele que teme a própria morte, noticiada no jornal, apesar de permanecer vivo.

Jogo de espelhamento e oposição

19 de maio de 2012 Críticas
Foto: Divulgação.

De verdade – A mulher certa aborda relacionamentos conjugais não apenas a partir das evidências que comprovam onde marido e mulher se diferenciam problematicamente, mas também nos pontos em que se aproximam ou até se assemelham. De início, os desencontros vêm à tona, principalmente no que diz respeito aos modos distintos de percepção do mundo decorrentes da classe social a qual cada um originalmente pertence. A dependência amorosa e o medo da intimidade também se constituem como elementos que distanciam os personagens. Esses descompassos tornam as relações claustrofóbicas. Entretanto, a maneira de marido e mulher evocarem um casamento que chegou ao fim chega a ser similar, como se um estivesse espelhando o outro.

A tragédia do olhar

28 de abril de 2012 Críticas
Foto: Divulgação.

Através de um personagem como o atormentado Alan Strung, o dramaturgo Peter Shaffer destaca, em Equus, a dificuldade de ser ou se sentir visto. Vítima de uma educação repressora, Alan, jovem de 20 anos, tem fascínio e horror pelos olhos dos cavalos porque se reconhece neles. É o que argumenta no instante em que o psiquiatra Martin Dysart pergunta sobre o motivo que o levou a cometer a atrocidade de cegar seis animais com um estilete de metal. Depois de iniciar tratamento com o Dysart, Alan passa a entregar fitas com os seus “depoimentos” devido, provavelmente, ao caráter de desvendamento íntimo que o vínculo entre médico e paciente adquire. O impacto desse contato também reverbera em Dysart, que, mergulhado num casamento burocrático, revela incômodo crescente com a intensidade da vibração de Alan.

Olhar corrosivo em relação ao teatro nacional

29 de março de 2012 Críticas

O diretor Marcos Damaceno assina a dramaturgia de Árvores abatidas ou para Luís Mello, espetáculo apresentado dentro da programação do Mambembão 2012. É natural, dado o grau de intervenção no texto do austríaco Thomas Bernhard. Damaceno se serve da obra do autor, que descortina a hipocrisia imperante na aristocracia vienense e questiona a pertinência da perpetuação de um teatro capitaneado por atores ainda reverenciados como monstros sagrados, mas já destituídos de frescor. A montagem da Marcos Damaceno Companhia de Teatro parece ter surgido de um desejo de atualizar a discussão, de modo a suscitar uma reflexão sobre os rumos do fazer teatral.

Autenticidade de relatos desarmados

21 de fevereiro de 2012 Críticas
Foto: Divulgação.

Música para cortar os pulsos, montagem da companhia Empório de Teatro Sortido que vem angariando prêmios e repercussão em festivais (melhor espetáculo da FITA 2011, Prêmio APCA 2010 de melhor peça jovem), conquista pela exposição do relato sincero, disposto diante do público de maneira direta. O autor Rafael Gomes procura expressar a intensidade das emoções juvenis, a reverberação passional de embates amorosos a partir do sofrimento decorrente de uma separação, de um desencontro de expectativas em relação a alguém muito próximo, do temor do afastamento que esse descompasso pode levar, do medo frente ao desconhecido.

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Questão de Crítica

A Questão de Crítica – Revista eletrônica de críticas e estudos teatrais – foi lançada no Rio de Janeiro em março de 2008 como um espaço de reflexão sobre as artes cênicas que tem por objetivo colocar em prática o exercício da crítica. Atualmente com quatro edições por ano, a Questão de Crítica se apresenta como um mecanismo de fomento à discussão teórica sobre teatro e como um lugar de intercâmbio entre artistas e espectadores, proporcionando uma convivência de ideias num espaço de livre acesso.

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