Processos
Diário de uma atriz em confinamento e em criação
Fui investigar agora e vi que começamos a nos falar, eu e Mauro Schames, sobre qualquer coisa aleatória, em 18 de março. Eu estava em casa, já em quarentena, desde o dia 16. Já tínhamos nos visto umas 4, 5 vezes. Temos as mesmas agentes. Já nos vimos em cena. Não éramos amigos. No dia 18 de março um perguntou pro outro:
– E você, tá bem de quarentena?
No dia 02 de abril já tínhamos lido pela primeira vez o texto A história dos ursos pandas (contada por um saxofonista que tem uma namorada em Frankfurt) de Matei Visniec, proposto pelo Mauro, cada um na frente do seu computador. Logo pintou um primeiro edital e nós dois batemos a cabeça fazendo testes de como iríamos nos filmar para propor esse texto ao edital do Itaú Cultural, que tinha inscrições abertas entre 06 a 10 de abril. Depois de algumas tentativas mal sucedidas de filmagens de trechos de cenas da peça, Mauro sugeriu sabiamente Bruno Kott para a direção. Eu nunca tinha ouvido falar nele e descobri, depois, que ele já havia me visto em cena. Bruno e eu nunca nos encontramos pessoalmente. E isso é incrível.
Fale sobre mim
O espetáculo Fale sobre mim nasceu do encontro entre seis adolescentes e sua professora de teatro, que aqui escreve. O grupo começou a se reunir em caráter extracurricular em agosto de 2018, numa escola municipal localizada no Conjunto Urucânia, periferia da Zona Oeste do Rio. Dos primeiros encontros, compusemos uma cena de 15 minutos – criada, a princípio, para ser apresentada no Festival de Teatro de Alunos da Rede, o FESTA 2018, promovido pela Secretaria Municipal de Educação. Naquele ano, a comunidade passava por um período violento, e, de certa forma, saber da existência do festival ativou em nós um senso de coletividade e um foco energético frente às situações-limite que compartilhávamos.
Percursos-experiência:
Neste texto comento o projeto performativo Três percursos e um desvio para um mesmo fim, que realizei em 2019 no âmbito do Mestrado em Arte e Design para o Espaço Público da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, como parte da investigação “Dramaturgias do Quotidiano. Especulações sobre a dimensão ficcional do real”[1]. O projeto desenvolvido na cidade do Porto é composto por quatro percursos-experiência, propostas de percursos performativos, que funcionam com instruções para serem vivenciados por um grupo de participantes. Este trabalho partiu do meu interesse em pensar a dimensão da ficção no quotidiano e em ambiente urbano.
Entre a sala e o céu

No verão de 2017 (inverno europeu), o coletivo brasiliense Aisthesis[i] viajou para Lisboa na expectativa de encontrar o mundo. Pegou casacos emprestados e desafiou os próprios limites (geográficos, a princípio) se lançando na aventura essencial e milenar da viagem, tão primitiva quanto o próprio movimento de migração e povoamento dos continentes. Reservou hospedagem numa casa portuguesa e enfrentou uma madrugada inteira de horas-voo e fila de imigração para se encontrar com a coreógrafa Vera Mantero, durante seis horas por dia ao longo de um mês, em seu estúdio no Espaço da Penha, no velho continente.
Aprendendo a agir quase como um médico legista

Escrevo esse texto para contar um pouco da minha experiência no workshop proposto pela MITsp 2018 e coordenado pelo diretor polonês Krystian Lupa. Minha intenção aqui é tentar expor brevemente o que eu vivi em companhia de mais 19 outros artistas (10 diretores e 10 atores) e também de dividir as questões que foram levantadas dentro desse mesmo contexto.