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Ser ou não ser teatro
Desde que eu comecei a criar obras teatrais, no final dos anos 80, eu sempre ouvia e repetia que teatro é a arte da presença, do encontro efêmero de pessoas em um mesmo espaço de convivência. O grande diferencial dessa arte milenar estaria no encontro olho-no-olho entre artistas e público. Corta para 2020-21 e corta os prédios de teatro, corta a possibilidade do encontro físico e corta-se mais de 600 mil vidas deixadas morrer, num país governado por um presidente proto-fascista, com planos de extermínio dos mais pobres e daqueles que o criticam.
E aí corta-se o teatro?
Uma outra coisa que sempre ouvi, desde o início da minha carreira no teatro e hoje, pouco antes de escrever este texto, em agosto de 2021, voltei a ouvir, foi a pergunta: “E dá pra viver de teatro?” Ou: “Como é trabalhar na sua área aqui?” ou ainda: “Mas você faz o quê para pagar as contas?”
Museu encena
A gente tem que lutar para tornar possível o que ainda não é possível.
Isso faz parte da tarefa histórica de redesenhar e reconstruir o mundo.
Paulo Freire
Apresento uma situação a partir de seus impasses e instabilidades: um grupo de teatro em trabalho de escuta; uma proposta cênica em uma ação de museologia social; uma atividade presencial no meio da pandemia; criar uma produção de memória oral mantendo distanciamento social. Essas sequências de deslocamentos são o pano de fundo geral da encenação.
Um semestre após três ações pontuais realizadas em abril de 2021, apresento, enquanto uma das idealizadoras, produtoras e coordenadoras pedagógicas, as condições que possibilitaram a realização do “Museu Ambulante” e o formato que ele adquiriu ao ter que se adaptar à realidade da pandemia e ao calendário proposto pelo edital “Retomada Cultural” da SECEC-RJ no âmbito da Lei Federal Aldir Blanc. Aponto breves percepções a partir de uma prática teatral realizada durante a pandemia que operou um procedimento inverso ao de ir para o campo virtual, como fizeram a maior parte dos artistas da cena teatral. Procedimento difícil, tenso, que, certamente, só foi possível devido ao caráter singular do território e à capacidade de transformação da proposta inicial do coletivo teatral, o Grupo Erosão, ao longo de quase um ano.