Desde que eu comecei a criar obras teatrais, no final dos anos 80, eu sempre ouvia e repetia que teatro é a arte da presença, do encontro efêmero de pessoas em um mesmo espaço de convivência. O grande diferencial dessa arte milenar estaria no encontro olho-no-olho entre artistas e público. Corta para 2020-21 e corta os prédios de teatro, corta a possibilidade do encontro físico e corta-se mais de 600 mil vidas deixadas morrer, num país governado por um presidente proto-fascista, com planos de extermínio dos mais pobres e daqueles que o criticam.

E aí corta-se o teatro?

Uma outra coisa que sempre ouvi, desde o início da minha carreira no teatro e hoje, pouco antes de escrever este texto, em agosto de 2021, voltei a ouvir, foi a pergunta: “E dá pra viver de teatro?” Ou: “Como é trabalhar na sua área aqui?” ou ainda: “Mas você faz o quê para pagar as contas?”