Tag: Fabiano de Freitas

Por um adágio adiante

1 de maio de 2023 Críticas

A apresentação de Arqueologias do Futuro, a que assistimos na primeira semana do Festival de Curitiba nos últimos dias de março de 2023, é uma das entradas possíveis para um projeto mais amplo, o Museu dos Meninos, “uma obra-museu composta por uma série de ações nos campos do audiovisual, das artes cênicas e visuais, com a premissa de mapear, preservar e criar memórias, como exercício contínuo e coletivo de futuridades impossíveis para o povo preto e favelado”, como consta no espaço online em que esse museu virtual pode ser visitado. Realizado por Mauricio Lima, artista da dança e do teatro do Rio de Janeiro, com direção e dramaturgia sampleada em parceria com Fabiano (Dadado) de Freitas, o projeto se coloca como uma reação aos dados divulgados no Mapa da Violência no Brasil em 2016. Uma reação propositiva, que subverte o imaginário impresso nas imagens de jovens rapazes negros, cujas vidas são o alvo mais comum da truculência policial na cidade. O espetáculo subverte também a expectativa de quem vai ver uma obra que parte – pelo menos parcialmente – da premissa da violência. O que se vê em cena é um derramamento de delicadeza.

Crítica agora

13 de setembro de 2021 Críticas

Boa noite a todo mundo que está aqui conosco presente[1], agradeço enormemente pelo convite. Agradeço ao carinho e às trocas que tivemos neste processo, com Jhoao Junnior, Renata Meiga, Dadado e Ronaldo. Foi muito importante pra mim conhecer e encontrar vocês neste percurso, a partir dos materiais e a partir dessas fricções que a gente está vivendo neste tempo histórico e também pelos nossos percursos.

Então, eu gostaria de comentar com vocês algumas coisas que a gente falou no processo e que penso que nesta mediação será importante destacar a pluralidade das vozes entre as equipes que produziram as cenas inéditas e o público presente. Eu vou fazer uma audiodescrição rápida pois talvez tenha alguém que não esteja me vendo. Eu sou uma mulher trans branca, tô com o cabelo castanho liso com mais volume do lado esquerdo, com um colar no pescoço. Atrás de mim, uma estante com livros, em biblioteca e do meu lado direito uma janela com vidros. Bom, estou também muito feliz de dialogar deste lugar, com as questões que foram trazidas por meio destas cenas. Que são provocativas e que eu provoquei. E que me provocam de volta e aqui eu tenho algumas questões que eu vou compartilhar com vocês no sentido de provocar novamente esse debate, essa relação, a mediação desta noite.

Ancestralidade positiva – um resgate das existências que escapam

12 de setembro de 2021 Processos

O Futuro não é depois: uma performance palestrativa sobre Cazuza e Herbert Daniel é um trabalho criado para o projeto “Cena agora – Arte e ciência: corpos reagentes, existências em crise”, do Itaú Cultural, que em sua segunda edição quis pensar as relações possíveis entre arte e ciência a partir de inúmeros e plurais pontos de partida. O trabalho em questão é um dos vários desdobramentos poéticos do projeto “Como eliminar monstros: discursos artísticos em torno do HIV/AIDS”, criado por mim em parceria com o diretor carioca Fabiano de Freitas, o Dadado, para pensar as relações entre arte e HIV e como ela, em suas inúmeras tentativas de se debruçar sobre o tema ao longo dos 40 anos da epidemia, muitas vezes também produziu discursos que ajudaram a perpetuar os estigmas sociais produzidos no bojo da epidemia discursiva do HIV.

O projeto estreia, coincidentemente, também em um evento do Itaú Cultural, a Mostra Todos os Gêneros, na sua edição de 2019, portanto um ano antes da pandemia do coronavírus. Em 2020, adaptado para versão on line, o projeto ganhou várias edições e se mostrou bastante pertinente para pensar uma epidemia (a da COVID-19) à luz de outra (a da AIDS) e as semelhanças e dessemelhanças impressionantes em torno de um modus operandis social que ocorre diante de atravessamentos como estes.

Três palavras, três maneiras

17 de maio de 2020 Críticas

Garotos

Uma das minhas primeiras experiências de ataque homofóbico foi na rua, sozinho, pego de surpresa. O tapa foi na base da cabeça, um pouco acima da nuca. Logo em seguida, um soco no ombro direito. E um empurrão que me fez dar um passo forçado adiante, para não cair no chão. O ataque físico não foi grave, ficou só o tal do “susto” – sensação que está na minha cabeça até hoje. Coração aos pulos, eu tentava simular algum tipo de valentia, enquanto analisava em poucos segundos se deveria correr ou não. Os três garotos passaram por mim e foram embora, rindo, enquanto olhavam para trás.

Independente da gravidade, acho que qualquer experiência desse tipo mostra como o mundo pode ser perigoso para a população LGBTQI. Mas não só isso: o perigo existe e é acompanhado de crueldade. Trata-se não só do desejo de eliminação do diferente, mas de fazê-lo com sadismo e, de preferência, na frente de outros. Não só o exercício da força, mas o exibicionismo público dela.

Para um teatro dos ouvidos

24 de dezembro de 2015 Processos

Vol. VIII n° 66 dezembro de 2015 :: Baixar edição completa em pdf

Resumo: O texto acompanha e problematiza o processo de criação da série de radioteatro Radiodrama, realizando algumas contextualizações históricas sobre o gênero no Brasil e no mundo, a perspectiva desse tipo de criação na contemporaneidade, e a problematização acerca da palavra e da imagem nas artes cênicas atualmente.

Palavras-chave: radioteatro, radiodramaturgia, Radiodrama, Orson Welles, Valère Novarina, Samuel Beckett, Heiner Müller

Abstract: the text follows and discusses the process of creating the radiotheatre series Radiodrama project, presenting some historical contextualization of the genre in Brazil and around the world, the prospects for this kind of creation to the contemporary times, and the questioning about ‘word’ and ‘image’ in performing arts today.

Keywords: radio drama, Radiodrama, Orson Welles, Valère Novarina, Samuel Beckett, Heiner Müller

Do Teatro dos Ouvidos

Ele pensava ter arquitetado um método para fazer sua boca dizer tudo o que quisesse. Queria dobrá-la, trabalhá-la, submetê-la todo dia ao treinamento respirado, torná-la firme, torná-la flexível, dar-lhe músculos pelo exercício perpétuo. Até que ela se transformasse numa boca sem fala, até falar uma língua sem boca… Como um bailarino que quisesse sempre dançar mais, dançar mais longe, dançar até o fim, até que não houvesse mais ninguém no espaço.

Valère Novarina, Teatro dos Ouvidos

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Questão de Crítica

A Questão de Crítica – Revista eletrônica de críticas e estudos teatrais – foi lançada no Rio de Janeiro em março de 2008 como um espaço de reflexão sobre as artes cênicas que tem por objetivo colocar em prática o exercício da crítica. Atualmente com quatro edições por ano, a Questão de Crítica se apresenta como um mecanismo de fomento à discussão teórica sobre teatro e como um lugar de intercâmbio entre artistas e espectadores, proporcionando uma convivência de ideias num espaço de livre acesso.

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