Estudos

O funeral de Marina Abramović

31 de agosto de 2011 Estudos

Le génie, c’est l’enfance retrouvée.
(O gênio é somente a infância redescoberta)
Charles Baudelaire

Quatro anos atrás, Marina Abramović telefonou ao encenador Robert Wilson para lhe perguntar se ele poderia levar à cena sua morte. No entanto, ele afirmou que “somente se eu puder também levar à cena sua vida…” Em seguida, em novembro de 2010, Marina declarou, num jantar comemorativo de seus sessenta e três anos, que Antony Hegarty, do grupo Antony and The Johnsons, cantaria a música My Way em seu funeral. Com isso, ela emenda, em seu discurso, como será sua performance de despedida. Três cidades estarão na mira do destino da artista performática: Amsterdam, Belgrado e Nova York. Em cada cidade, haverá um caixão e quem comparecer ao funeral deverá estar trajando roupas coloridas. “Ninguém saberá”, diz Marina, “em qual deles estará o verdadeiro cadáver”, ou seja, somente em um caixão estará o verdadeiro corpo e, nos outros, estarão imitações da artista (1).

O meu local de trabalho é um apartamento no Marquês de Pombal

24 de junho de 2011 Estudos
Foto: Susana Paiva.

A grafia em português de Portugal foi mantida, conforme o original.

A meio do espectáculo Velocidade máxima, um dos três prostitutos com quem John Romão, o encenador, co-criou o espectáculo dirige-se ao público em tom confessional e interpela-o com uma pergunta intrigante:

“Eu tomo hormonas para o meu corpo ficar mais inchado, mais bonito e atraente. É uma aposta no negócio.(…) O problema é que com estas hormonas fico sem erecção. Para mim é um sacrifício porque quando as tomo não posso trabalhar e não ganho dinheiro e isso deprime-me, mas faz-me valorizar o investimento. Durante este período com hormonas penso em muita coisa mas quase sempre na minha casa e na minha mãe. E eu me pergunto o que é resistência: Insistência ou desistência? Eu não me sinto seguro ao fazer aquilo que faço e sei que não será para sempre. É uma medida de emergência para pagar algumas dívidas. Eu nem sei se quero viver para sempre na Europa (…)”

O que é resistência? Insistência ou desistência? Eis a pergunta que o jovem prostituto deixa no ar, aquilo em que pensa antes de pensar em segurança de vida.

Seis meses, a mesma cidade, dois grandes festivais

24 de abril de 2011 Estudos
The marriage of Maria Braun. Foto: Julieta Cervantes.

Nota: A grafia em português de Portugal foi mantida conforme o original enviado pela autora.


Andava eu há já algum tempo a pensar em escrever sobre a minha experiência ao acompanhar o BAM (Brooklyn Academy of Music) NextWave Festival 2010 quando, de repente, recebi por mail a newsletter de Questão de Crítica – revista electrónica de críticas e estudos teatrais onde me deparei com o texto de Walter Daguerre RADAR encontra RADAR – Breve nota sobre um festival de teatro experimental em Nova York. E o texto ecoou em mim por várias razões: estando a viver em NYC desde setembro, a seguir ao BAM Next Wave (que terminou em dezembro) também eu acompanhei o festival Under the Radar (que começou em janeiro).

Blogs bethânios, ERROuanets e cidadania da multidão

28 de março de 2011 Estudos

Você deve ter ouvido algo a respeito. O mundo precisa de poesia – projeto audiovisual de Maria Bethânia e Andrucha Waddington em formato blog, que prevê a postagem diária de video-pílulas poéticas interpretadas por Bethânia – é o assunto do momento. Desde meados de março, a polêmica ao redor da cifra milionária aprovada pelo Ministério da Cultura – 1,3 milhões de reais, dedutíveis do imposto de renda do patrocinador via Lei Rouanet – tem dominado a blogosfera tropical e as redes sociais tupiniquins, ocupando timelines e posts até mais que a visita de Barack Obama ao Brasil e os perrengues escrotos na Líbia de Kadhaffi.

Pesem as malcriações, faíscas e até queimaduras que surgem como efeitos colaterais do trato negligente do assunto por setores da mídia comercial, a ocasião é comemorável. Batemacumbaieiê da melhor qualidade? Pois sim. Todo processo de desenvolvimento pressupõe refazimento, e este, muitas vezes, surge mesmo de uma ou várias naturezas de embate. Ou não é? E embate consciente, com todos empunhando, por exemplo, os artigos da contraditória Lei Rouanet? Nem sempre. Há o retweet, o post e o compartilhamento descompromissados, assim como há os com conhecimento de causa, mas mesmo os do primeiro tipo – ainda que, possivelmente, menos estruturantes – dizem respeito a uma pulsão legítima de protesto, feita possível por lacunas de transparência e fomento deixadas pelo próprio Estado.

Radar encontra Radar

22 de fevereiro de 2011 Estudos

Estar em Nova York pela primeira vez e não querer fazer turismo. Tarefa duríssima tendo em vista a vasta quantidade de atrativos que esta cidade possui. E a coisa se complica ainda mais se você chega no dia 31 de dezembro, os que lá vivem estão em recesso por causa das festas, as ruas estão entupidas de turistas, o comércio só pensa em faturar e, claro, os teatros estão de portas fechadas. Como? Eu disse “os teatros estão de portas fechadas?” Que teatros? Os da Broadway estão a pleno vapor, lotados como sempre, com um cardápio que inclui desde o fatigado Fantasma da Ópera até vibrantes novidades como Fela! Mas, como eu disse, não fui a Nova York fazer turismo.

Qual seria, então, o teatro de meu interesse por essas bandas? Off Broadway? Off Off Broadway? E onde encontrar? Comecei minha pesquisa dia 3, o primeiro dia útil do ano. Minha única referência era o La Mama Experimental Theatre Club. Eu já tinha ouvido falar deste espaço no Brasil, principalmente por coisas escritas pelo Gerald Thomas, que sempre se disse cria da casa. Joguei no Google e rapidamente descobri que ficava no East Village e que já no dia cinco teria espetáculo. Vi a peça que estava passando, Being Harold Pinter, mas não prestei muita atenção no que se tratava, porque, independentemente do que fosse, eu iria lá conferir.

Newsletter

Edições Anteriores

Questão de Crítica

A Questão de Crítica – Revista eletrônica de críticas e estudos teatrais – foi lançada no Rio de Janeiro em março de 2008 como um espaço de reflexão sobre as artes cênicas que tem por objetivo colocar em prática o exercício da crítica. Atualmente com quatro edições por ano, a Questão de Crítica se apresenta como um mecanismo de fomento à discussão teórica sobre teatro e como um lugar de intercâmbio entre artistas e espectadores, proporcionando uma convivência de ideias num espaço de livre acesso.

Edições Anteriores