Autor Francis Wilker
As breves aparições de beleza que levo comigo
Pode até parecer muito distante, mas não é. A vivência traumática da pandemia de covid-19 foi logo ali e, certamente, ainda estamos lidando com suas marcas, embora o desejo seja o de esquecer aqueles dias de confinamento, dor, revolta e luto. Naquele março de 2020, o tempo parecia suspenso e era muito difícil imaginar um futuro, era como se de repente nos tivessem roubado todo o horizonte. Eu tive medo da morte, talvez você tenha tido e a artista Larissa Siqueira também teve. Como visitar o amanhã era assustador, muitas vezes, tudo o que tínhamos era a possibilidade de andar livremente por nossas memórias e, nelas, reencontrar afetos, momentos marcantes, paisagens e tocar, de algum modo, esse rastro de vida que cada pessoa leva atrás de si.
Entre a sala e o céu

No verão de 2017 (inverno europeu), o coletivo brasiliense Aisthesis[i] viajou para Lisboa na expectativa de encontrar o mundo. Pegou casacos emprestados e desafiou os próprios limites (geográficos, a princípio) se lançando na aventura essencial e milenar da viagem, tão primitiva quanto o próprio movimento de migração e povoamento dos continentes. Reservou hospedagem numa casa portuguesa e enfrentou uma madrugada inteira de horas-voo e fila de imigração para se encontrar com a coreógrafa Vera Mantero, durante seis horas por dia ao longo de um mês, em seu estúdio no Espaço da Penha, no velho continente.