Autor Dâmaris Grün

Uma experiência do tempo, do espaço e da visão

24 de setembro de 2010 Críticas
Foto: Alexandre Ramos

Assistir a um espetáculo como Marcha para Zenturo é poder dizer que partilhamos de uma experiência teatral que aborda uma das questões mais caras ao drama: a do tempo. Não que essa peça seja um modelo perfeito do drama mais convencional, como os modelos que podemos destacar em Henrik Ibsen ou Anton Tchekov, mesmo que nos dois autores a crise da forma dramática já esteja instaurada e embora possamos perceber a maestria dramatúrgica que chega a velar essa crise, sabemos que suas escritas não procuram seguir à risca o modelo de pièce-bien-faite do drama clássico. O que a dramaturgia e a cena de Marcha para Zenturo apresentam são indícios de uma estrutura dramática no seu sentido mais singular, que pode ser exemplificada por Peter Szondi no livro Teoria do drama moderno: uma espécie de corte na cronologia, o domínio absoluto do diálogo intersubjetivo e o passado que se irrompe no presente dos diálogos ou aparece atualizado como próprio tema. É o caso da peça do Grupo XIX de Teatro e do Espanca!, duas importantes companhias do cenário teatral paulista e mineiro que se uniram para realizar um espetáculo onde o tempo (passado, presente e futuro conjugados de forma simbiótica), o “ver o outro” (a experiência do olhar o outro e ver a si) e uma melancolia que beira uma renúncia da vida (como aqueles personagens de Tchekhov) são questões primordiais para o que propõem em cena nesse belo espetáculo.

O lúdico no teatro

31 de agosto de 2010 Críticas
Foto: divulgação

Ao entrar no Espaço Arena do Sesc Copacabana, a primeira sensação captada pelos sentidos é a de um universo lúdico que seria ali instalado pelo jogo da encenação. O cenário é uma caixa de vidro (onde os personagens atuam) que contém três cadeiras simples e antigas, retratos envelhecidos, chão de taco de madeira amarelado pelo tempo, uma parede forrada por um tecido de pelúcia ocre intenso e peculiar, uma luz baixa e também amarelada. A primeira sensação é de uma peça onde o que se contaria seria uma história de gente simples, que habita o interior, o vilarejo, a zona rural. A cor que ressalta aos olhos durante a encenação toda é de uma espécie de sépia, aquele matiz que remete às fotos de antepassados, às lembranças distantes, à memória. A ambiência é revestida por uma luz baixa, macia, aconchegante.

Uma história com início, meio e fim

21 de junho de 2010 Críticas
Foto: divulgação.

Savana Glacial, espetáculo do Físico de Teatro em cartaz no Maria Clara Machado, tem como mote e interesse principal o que podemos entender por “uma história bem contada”, bem escrita e bem resolvida dramaturgicamente.

A trama se baseia nas relações de um casal em crise, a perda de um filho, o trauma de um acidente, a privação de uma vida, a solidão das vidas vizinhas e estranhas entre si. O enredo da peça se baseia na história de um casal que tem de lidar com o trauma de um acidente de carro que deixa a mulher, Meg (Andreza Bittencourt), com uma sequela: a perda de memória recente. O marido, o escritor Michel (Renato Livera), aprisiona a mulher em casa, fazendo-a anotar tudo o que lhes acontece num bloquinho, para que Meg possa se lembrar das pessoas que passam por sua casa e os últimos acontecimentos. Quando uma estranha vizinha, Ágatha (Camila Gama), aparece pela primeira vez em sua casa, todos os acontecimentos se embaralham.

O espaço da narrativa

20 de maio de 2009 Críticas
Atrizes: Fernanda Maia e Priscila Amorim. Foto: divulgação.

A filha do teatro, mais recente projeto do Teatro do Pequeno Gesto se dá a ver através de três pontos que considero importantes de serem debatidos a respeito da prática teatral em qualquer época e contexto: a dramaturgia que não se configura apenas como suporte, mas como acontecimento por si só, o espaço cindido da encenação e as funções atoriais.

Brincando de ser Don Juan

20 de abril de 2009 Críticas

Como representar um mito? Como atualizá-lo? E um mito do peso e força de Don Juan, já amplamente explorado pela dramaturgia, literatura e cinema? Como trazê-lo à tona colocando suas questões de infidelidade, hedonismo, paixão, luxúria com um olhar que busca entendê-lo dentro dessa múltipla faceta? Como trazê-lo sob um olhar de julgamento? Ou sob um prisma que pretende compreendê-lo dentro de sua porção mais humana? É certo que são várias as possibilidades de dar a ver esse mito/homem/personagem na cena. Na montagem dirigida por Thierry Trémouroux e Cia D., em cartaz na Sala Multiuso do SESC Copacabana, o que vemos é um recorte do que pode vir a ser o mito Don Juan em suas mais diversas possibilidades de ser, sugerindo um ser multifacetado, inquieto e transgressor em certa medida. 

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Questão de Crítica

A Questão de Crítica – Revista eletrônica de críticas e estudos teatrais – foi lançada no Rio de Janeiro em março de 2008 como um espaço de reflexão sobre as artes cênicas que tem por objetivo colocar em prática o exercício da crítica. Atualmente com quatro edições por ano, a Questão de Crítica se apresenta como um mecanismo de fomento à discussão teórica sobre teatro e como um lugar de intercâmbio entre artistas e espectadores, proporcionando uma convivência de ideias num espaço de livre acesso.

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