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Um deslocamento do comum para o incomum

3 de dezembro de 2020 Críticas

No Brasil foram destruídos os documentos da época da escravidão, impossibilitando que as pessoas negras identificassem a sua origem. Desde a escravização, os negros e negras têm sido contados (as) ao invés de contarem a sua própria história. O protagonismo negro na sua própria narrativa é uma possibilidade recente, fruto dos movimentos negros que se reorganizaram na década de 1970 no Brasil, repercutindo artística e culturalmente quando poéticas e estéticas negras foram reconstruídas. Era preciso entender a história para resistir a ela e construir o novo, algo fundamental para a população negra. Contar a versão de si mesmos, que remete ao lema popular negro “nós por nós”, é uma forma de escurecer o futuro. Contar a sua própria história é tornar-se sujeito, fazer jus a um locus social, além de ser uma poderosa maneira de decolonizar os corpos imagética e ideologicamente. “É por aí que o discurso ideológico se faz presente. Já a memória a gente considera como o não saber que conhece, esse lugar de inscrições que restituem uma história que não foi escrita, o lugar da emergência da verdade, dessa verdade que se estrutura como ficção” (RATTS, RIOS, 2010. p.74). Ou então precisa tornar a ficção mais real.

O drama da educação brasileira e a experiência kitsch do drama

31 de março de 2014 Críticas
Paulo Verlings, Leonardo Netto, Cesar Augusto, Thierry Tremouroux e Marcelo Olinto. Foto: Dalton Valerio.

O espetáculo Conselho de Classe escrito por Jô Bilac e dirigido por Bel Garcia e Susana Ribeiro constrói uma obra que versa sobre a educação brasileira, seu fracasso e a crise de valores que, infelizmente, se tornou senso-comum dentro da nossa cultura.

Na obra, cinco personagens bem definidas formam a arquitetura da dramaturgia que se apresenta do seguinte modo: após um conflito da antiga diretora da Escola Dias Gomes com os alunos, as professoras se reúnem num conselho de classe que se torna o espaço dramático no qual se assiste o debate ideológico entre as educadoras e o novo diretor, que chega para substituir a diretora afastada.

No centro da disputa estão Edilamar (Leonardo Netto) e Mabel (Thierry Trémouroux). A primeira, professora de Educação Física, representa a vontade disciplinadora e de controle, enquanto a segunda, a professora de Educação Artística, ilustra o desejo libertário de ultrapassar os muros da escola por meio de uma saída criativa (no caso, a “pichação”) – essa entendida como manifestação artística. Bem marcados do ponto de vista dramático, as personagens são como centros de escolhas ideológicas muito bem definidas: Edilamar, conservadora e Mabel, libertária.

O tom crítico da comicidade e da fantasia

13 de maio de 2012 Críticas
Foto: Rafael Bondi.

A Companhia Omondé, sob direção de Inês Vianna, encenou recentemente na Arena do Espaço SESC e no Galpão Gamboa a peça Os mamutes de Jô Bilac. Nesse primeiro texto do autor, escrito há dez anos, pode ser detectado um universo temático que seria abordado posteriormente em Serpente verde, sabor maçã (escrito em parceria com Larissa Câmara), que é uma forte crítica aos costumes de uma sociedade cada vez mais consumista e superficial, de uma infância tomada por prematura perversidade e crueldade, além de uma crítica à superficialidade nas relações afetivas nos dias de hoje (seja na esfera da família, das relações amorosas, ou entre amigos). Ambas são comédias negras carregadas de ironia e crueza, abordando o que há de mais perverso nas relações na sociedade de consumo exacerbado em que vivemos. Contudo em Os mamutes essa crítica é ainda mais eloquente e direta, provocando um riso nervoso do espectador diante das mais bizarras situações.

Sweet Tiger Lili à deriva

31 de julho de 2011 Críticas
Elenco de O gato branco. Foto: Divulgação.

Sete desconhecidos, Michel (Bruno Ferrari) um advogado sem escrúpulos, Arthur (Camilo Bevilacqua) um médico sofisticado, a soturna Letícia (Fernanda Nobre), o comandante Tadeu (Leandro Almeida), a dona de casa Ana Paula (Luciana Magalhães), o vigarista Erik (Pablo Falcão) e a professora Vic (Paloma Duarte) recebem um misterioso convite para um jantar a bordo da embarcação Sweet Tiger Lili. Atendendo ao estranho chamado e movidos, sobretudo, pela curiosidade, as personagens embarcam e descobrem que durante o encontro alguém entre eles deverá morrer. Diante desta situação, o grupo descobre que a razão de estarem todos ali é a realização de um julgamento extrajudicial que pretende descobrir qual dentre os presentes é o culpado por um crime acontecido três anos antes. Na tentativa de identificar um culpado, os presentes vão aos poucos revelando que todos ali são mais do que aparentam ser e as máscaras das personagens caem com o desenrolar dos fatos. Todos os passageiros a bordo do Sweet Tiger Lili podem ser culpados ou inocentes. É tudo uma questão de ponto de vista.

Uma história com início, meio e fim

21 de junho de 2010 Críticas
Foto: divulgação.

Savana Glacial, espetáculo do Físico de Teatro em cartaz no Maria Clara Machado, tem como mote e interesse principal o que podemos entender por “uma história bem contada”, bem escrita e bem resolvida dramaturgicamente.

A trama se baseia nas relações de um casal em crise, a perda de um filho, o trauma de um acidente, a privação de uma vida, a solidão das vidas vizinhas e estranhas entre si. O enredo da peça se baseia na história de um casal que tem de lidar com o trauma de um acidente de carro que deixa a mulher, Meg (Andreza Bittencourt), com uma sequela: a perda de memória recente. O marido, o escritor Michel (Renato Livera), aprisiona a mulher em casa, fazendo-a anotar tudo o que lhes acontece num bloquinho, para que Meg possa se lembrar das pessoas que passam por sua casa e os últimos acontecimentos. Quando uma estranha vizinha, Ágatha (Camila Gama), aparece pela primeira vez em sua casa, todos os acontecimentos se embaralham.

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Questão de Crítica

A Questão de Crítica – Revista eletrônica de críticas e estudos teatrais – foi lançada no Rio de Janeiro em março de 2008 como um espaço de reflexão sobre as artes cênicas que tem por objetivo colocar em prática o exercício da crítica. Atualmente com quatro edições por ano, a Questão de Crítica se apresenta como um mecanismo de fomento à discussão teórica sobre teatro e como um lugar de intercâmbio entre artistas e espectadores, proporcionando uma convivência de ideias num espaço de livre acesso.

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