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O tempo de Nelson
Introduzir uma questão sobre Vestido de noiva não é uma tarefa fácil. Mesmo um texto crítico pode sofrer do fato de toda a dramaturgia de Nelson Rodrigues ter sido amplamente montada, vista e analisada. Claro que isto tem a ver com a peça ser um texto ícone da dramaturgia brasileira. O texto de Nelson tornou visível uma formação estrutural e uma temática, cujo desdobramento foi o de se mostrar como um clássico. Um texto pode ser considerado um clássico por sua capacidade de mimetizar a atualidade em que é encenado, na medida em que traz questões e modos de encenação ainda não plenamente identificáveis e que, por isso, podem ser reconhecidos, ou traduzidos por diferentes épocas. Então, de alguma forma, estamos falando e pensando na questão do tempo quando nos referimos aos textos que, como o de Vestido de noiva, são capazes de trânsito entre épocas.
Uma história com início, meio e fim
Savana Glacial, espetáculo do Físico de Teatro em cartaz no Maria Clara Machado, tem como mote e interesse principal o que podemos entender por “uma história bem contada”, bem escrita e bem resolvida dramaturgicamente.
A trama se baseia nas relações de um casal em crise, a perda de um filho, o trauma de um acidente, a privação de uma vida, a solidão das vidas vizinhas e estranhas entre si. O enredo da peça se baseia na história de um casal que tem de lidar com o trauma de um acidente de carro que deixa a mulher, Meg (Andreza Bittencourt), com uma sequela: a perda de memória recente. O marido, o escritor Michel (Renato Livera), aprisiona a mulher em casa, fazendo-a anotar tudo o que lhes acontece num bloquinho, para que Meg possa se lembrar das pessoas que passam por sua casa e os últimos acontecimentos. Quando uma estranha vizinha, Ágatha (Camila Gama), aparece pela primeira vez em sua casa, todos os acontecimentos se embaralham.