Autor Dâmaris Grün

À procura de interlocução

10 de fevereiro de 2009 Críticas

A peça O Assalto, escrita por Zé Vicente no ano de 1969, traz de volta aos nossos palcos, na encenação de Marcelo Drumond,com Fransérgio Araújo e Haroldo Costa Ferrari no Espaço SESC, uma dramaturgia muito emblemática de uma época de grande efervescência artística e ao mesmo tempo uma dramaturgia que me parece pouco conhecida dos palcos cariocas. Falo dos jovens escritores que despontaram na cena teatral carioca e paulista nos anos 60 e 70, no auge da ditadura militar, e que trouxeram em seus textos um registro social e existencial que os caracteriza e os une dentro de um estilo de escrita dramatúrgica. Entre os dramaturgos dessa safra, posso citar: Leilah Assumpção com Fala Baixo senão eu grito, Antonio Bivar e sua Cordélia Brasil( texto que repercutiu enorme sucesso entre critica e público na época de sua estréia), Isabel Câmara com As Moças e enfim, Zé Vicente com O Assalto, Santidade e Hoje é dia de Rock entre outros.

Atuação e espaços fechados

15 de novembro de 2008 Críticas

Prorrogada até dia 7 de dezembro no teatro Solar de Botafogo, a temporada da peça Traição com direção de Ary Coslov, nos possibilita a chance de ver encenado um texto de Harold Pinter, dramaturgo inglês dos mais importantes da segunda metade do século XX. Com uma escrita muito singular, os personagens de Pinter encontram-se antes de tudo em um aqui e agora fechado, onde nem sempre podemos detectar com clareza o que querem, a que vieram ou o que farão; Constituem-se como forças que estão em um limite, como é o caso de Traição. O espaço fechado em que se encontram (um quarto, uma sala, etc.) é o lugar confinado que se constitui como um útero para esses personagens, um lugar de proteção que os fecha e que pretende fechar-se das forças que vêm de fora. Há sempre um embate de forças que não se dão a ver, num discurso habitado de ameaças, violações e revelações, num discurso combativo. Alguém quer acertar contas, alguém quer repassar o passado, esconder o presente; por meio dos diálogos quase coloquiais, que beiram o trivial e ganham força dramática através das pausas e silêncios — o não dito que é tão eloqüente quanto aquilo que é dito. Em Traição, essas “marcas” pinterianas estão todas presentes e o que se vê na encenação de Coslov é um cuidado com esses traços. Há um enorme respeito com essa dramaturgia, o que gerou uma montagem bastante convencional e sem riscos.

O trabalho de ir e vir

10 de setembro de 2008 Críticas

Em cartaz na 9º Mostra Prática da UniRio, Sísifo, sob direção da aluna-diretora Diana de Hollanda, contém o caráter de performance muito discutido e experimentado nesta universidade. É comum vermos alunos experimentando a atuação performática em seus exercícios cênicos pelo campus, com instalações que de certa forma ganham um caráter de cenografia no espaço, intervindo de maneira direta, para além dos palcos e salas. Esse trabalho faz a atualização dos acontecimentos cotidianos no tempo específico do teatro, o aqui e agora, substitui personagens dramaturgicamente “bem construídos” por performers, não separa espectador da cena.

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Questão de Crítica

A Questão de Crítica – Revista eletrônica de críticas e estudos teatrais – foi lançada no Rio de Janeiro em março de 2008 como um espaço de reflexão sobre as artes cênicas que tem por objetivo colocar em prática o exercício da crítica. Atualmente com quatro edições por ano, a Questão de Crítica se apresenta como um mecanismo de fomento à discussão teórica sobre teatro e como um lugar de intercâmbio entre artistas e espectadores, proporcionando uma convivência de ideias num espaço de livre acesso.

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