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Visualidade e desaparecimento da linguagem

“Pelo instrumento do teatro, atingir a visão da palavra;
pelo instrumento do teatro captar a palavra pelos olhos,
ver o pensamento.”
(Valère Novarina in Diante da Palavra)
Teatro dos ouvidos é uma obra que se mostra como um híbrido de performance, teatro e artes plásticas dirigida por Antonio Guedes e atuada por Angela Leite Lopes. O trabalho é uma parceria entre o Teatro do Pequeno Gesto e a L’Acte – atos de criação teatral. A germinação é o texto homônimo de Valère Novarina, pintor, poeta e dramaturgo que edifica seu trabalho pelo trânsito entre as fronteiras que demarcam diferentes gêneros artísticos. A performance, apresentada em agosto na galeria do Espaço Cultural Sérgio Porto, criou condições de possibilidade para a percepção de que a arte surge por meio do confronto. O título já sinaliza o enfrentamento de um deslocamento e uma ambiguidade. Teatro originalmente significa o lugar de onde se vê e aqui a linguagem é o que se mostra.
O espaço da narrativa

A filha do teatro, mais recente projeto do Teatro do Pequeno Gesto se dá a ver através de três pontos que considero importantes de serem debatidos a respeito da prática teatral em qualquer época e contexto: a dramaturgia que não se configura apenas como suporte, mas como acontecimento por si só, o espaço cindido da encenação e as funções atoriais.
A prática do dramaturg
Artigo publicado originalmente em 1999 no Folhetim nº 3
De tudo o que se tem dito e escrito sobre a figura do dramaturg – e não é muito – o que mais me chama a atenção é a ênfase no que se convencionou designar como o caráter transitório da função: afirma-se que um dramaturg acaba sempre por encontrar seu próprio destino, vindo a realizar-se como diretor, autor dramático ou crítico teatral.
A dificuldade de perceber a especificidade do trabalho do dramaturg deriva, por um lado, do aspecto multi-disciplinar de sua atividade e, por outro, do caráter puramente abstrato que se costuma atribuir ao pensamento teórico.