Tag: Vol. XIII nº 72

Cada vez que alguém diz “isso não é cinema” uma estrela se apaga

18 de outubro de 2021 Críticas

Para que uma estrela se apague diante de nossos olhares terráqueos, é necessário que miremos ao céu. Caso não olhássemos para a estrela e ignorássemos sua existência, correríamos o risco de jamais reparar seu desaparecimento e morte – mesmo se somos profissionais da astronomia, astrologia, poetas, apaixonades e navegadores do céu. A morte (o fim) de uma estrela pode ter distintas causas: (1) fim do combustível energético, como se desligassem seu reator – camadas do centro desabam, a estrela vira uma gigante vermelha, depois diminui de tamanho, tornando-se uma nebulosa planetária e anã branca; (2) a estrela, se for muito grande (oito vezes a massa solar), pode acabar explodindo, tornando-se uma supernova – uma morte violenta e espetacular; (3) por fim, se a estrela for gigante (trinta vezes a massa do sol) pode sofrer um colapso ao final de seu ciclo de vida até se tornar um buraco negro que poderá absorver outras estrelas e eventualmente se acoplar a outros buracos negros.  

Trabalho do ator sobre si mesmo: cuidar das sementes e das raízes do conhecimento, sem pensar na flor, no resultado.

18 de outubro de 2021 Estudos

 

“De que modo é possível se debruçar sobre um conhecimento tão profundo como o do trabalho do ator sobre si mesmo desenvolvido por Stanislávski[1] em seu Sistema?

De que maneira abordar um conhecimento que se manteve em permanente evolução sem jamais ter se fixado em nenhum conceito que o levasse a uma conclusão definitiva?

Como tornar concreto por meio da palavra escrita um trabalho em seu processo sem fim, que começa pela compreensão da prática singular de cada um e segue se desenvolvendo indefinidamente?

Quais os meios possíveis para que se possa assimilar e transmitir um conhecimento que se configura como herança viva?” (Zaltron, P.317)

Formular perguntas é um dos aprendizados mais caros para o ser humano. E se esse ser humano for uma atriz, diretora e pedagoga, as formulações são preciosas porque movem todo o processo de pesquisa, de criação e provavelmente, de uma vida. Essas questões foram as companheiras da autora Michele Almeida Zaltron e, a partir da sua escrita, penso que o prazer, a obsessão, a vocação e o comprometimento com a transmissão parecem ser definidores para a criação de seu livro Stanislávski e o Trabalho do Ator Sobre Si Mesmo que foi publicado em 2021, pela editora Perspectiva numa parceria com o CLAPS (Centro Latino-Americano de Pesquisa Stanislávski)[2], uma iniciativa do Teatro Escola Macunaíma[3].

Não somos destino

17 de outubro de 2021 Críticas

Não sei há quantos dias permaneço aqui, entre uma vídeochamada e uma aula remota, entre um livro e uma performance. Arrisco uma palavra ou outra, engasgo, gaguejo, desisto, me entrego… E, então, escrevo. Neste empenho em manter a sanidade, abro um vinho, leio um livro, ouso começar um artigo do zero, apago as únicas cinco linhas que esbocei. Respiro. Eu acho. Busco o ar. Nem sempre o encontro. Falta o ar. Não sei se é ansiedade, mais uma crise de asma ou sintoma de Covid-19. Ou se é tudo isso ao mesmo tempo. Quinze abas abertas no notebook. Em uma delas, sinto o impacto de uma colisão forte o bastante para me sacudir, me resgatar de mim mesma em um fim de tarde de domingo, um encontro que me devolveu o ar que há poucas linhas me faltava. Encontrei-me com Debora, Debora Lamm, dando vida ao texto “Mata teu pai”, de Grace Passô.

Diário de bordo virtual – julho de 2021

13 de setembro de 2021 Processos

Em julho de 2021, ministrei um curso online sobre Teatro e Virtualidade através do Sesc Rio. Eu e uma turma de mais de vinte artistas curioses espalhades pelo país mergulhamos em encontros e trocas sobre as criações artísticas realizadas durante a pandemia e as possibilidades descobertas até aqui. Ao longo de sete encontros, conversamos sobre plataformas e modos de transmissão, assim como experimentamos jogos e exercícios possíveis para o online. Como falei no primeiro dia de aula: “Essa oficina é pra gente trocar. Pra gente ter uma conversa entre a gente, íntima mesmo, sobre nossas sensações e expectativas sobre tudo o que aconteceu com o teatro (e com o mundo). Pra isso, eu convidei diretoras e diretores brasileires cujas obras me atravessaram nesses meses pandêmicos para estarem aqui conosco”. Assim, demos início a uma série de encontros que compõem esta espécie de “diário de bordo virtual” que apresento aqui. Um conjunto de anotações e citações de artistas inquietes de diversas partes do país que refletem sobre teatro, presença e futuro.

Se tem fita crepe, é teatro!

O primeiro artista que recebemos foi o Fernando Yamamoto, diretor e um dos fundadores do Grupo Clowns de Shakespeare, de Natal (Rio Grande do Norte). O trabalho do Clowns me inspira há bastante tempo e, durante este período pandêmico, me vi impressionado com a coragem desse coletivo em enfrentar desafios. Do Clowns, recebemos de presente, até agora, duas obras virtuais: CLÃ_DESTIN@: Uma viagem cênico-cibernética e L.A.A.A.T.I.N.A. – Legião de Aventureiras, Aventureires e Aventureiros Tenazes e Incansáveis pelas Narrativas ao Avesso. A primeira obra representa um marco particular em meus dias de isolamento. Senti a euforia de estar em uma sala de cinema ou de teatro. Além da felicidade que senti ao assistir à experiência, observei atento à pesquisa técnica em relação às plataformas. As criações do Clowns representam o que há de mais arrojado no que diz respeito à pesquisa ao vivo, principalmente, no Zoom.

Ser ou não ser teatro

13 de setembro de 2021 Processos

Desde que eu comecei a criar obras teatrais, no final dos anos 80, eu sempre ouvia e repetia que teatro é a arte da presença, do encontro efêmero de pessoas em um mesmo espaço de convivência. O grande diferencial dessa arte milenar estaria no encontro olho-no-olho entre artistas e público. Corta para 2020-21 e corta os prédios de teatro, corta a possibilidade do encontro físico e corta-se mais de 600 mil vidas deixadas morrer, num país governado por um presidente proto-fascista, com planos de extermínio dos mais pobres e daqueles que o criticam.

E aí corta-se o teatro?

Uma outra coisa que sempre ouvi, desde o início da minha carreira no teatro e hoje, pouco antes de escrever este texto, em agosto de 2021, voltei a ouvir, foi a pergunta: “E dá pra viver de teatro?” Ou: “Como é trabalhar na sua área aqui?” ou ainda: “Mas você faz o quê para pagar as contas?”

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Questão de Crítica

A Questão de Crítica – Revista eletrônica de críticas e estudos teatrais – foi lançada no Rio de Janeiro em março de 2008 como um espaço de reflexão sobre as artes cênicas que tem por objetivo colocar em prática o exercício da crítica. Atualmente com quatro edições por ano, a Questão de Crítica se apresenta como um mecanismo de fomento à discussão teórica sobre teatro e como um lugar de intercâmbio entre artistas e espectadores, proporcionando uma convivência de ideias num espaço de livre acesso.

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