Tag: Vol. XIII nº 72
O teatro, sob muitos cuidados e em pleno movimento
É só uma história, um recorte de um dia na vida de uma família: o aniversário de um rapaz que está em uma cadeira de rodas, uma condição irreversível que sua mãe tem muita resistência em admitir. Ao longo desse dia, vários personagens aparecem, tanto aqueles que vivem na mesma casa, quanto os que vieram para o aniversário. Meu filho só anda um pouco mais lento, peça do dramaturgo croata Ivor Martinić, apresenta uma narrativa despretensiosa, sem sobressaltos aparentes. Um panorama. Muitos detalhes por imaginar. No elenco, Antonio Pitanga, Camila Moura, Elisa Lucinda, Enrique Diaz, Felipe Frazão, Hypólito, Leandro Santanna, Maria Esmeralda Forte, Simone Mazzer e Verônica Rocha.
A escolha feita pelo diretor Rodrigo Portella no contexto da pandemia e nas instalações do Oi Futuro, centro cultural que sedia e patrocina a obra, é bastante particular. Um projeto de teatro que não se materializa em um formato imediatamente reconhecível como teatro. Em uma sala de exposições, pouco mais de vinte televisores estão espalhados em um labirinto montado com telas pretas translúcidas que pendem do teto. Nos televisores, as cenas da peça, com fotografia e montagem de Pedro Murad, umas gravadas no teatro, com elementos de cena característicos do teatro, outras gravadas em espaços externos, em que se estabelecem outras relações entre as diversas personagens. Cada espectador escolhe se quer ver as cenas na ordem em que aparecem originalmente no texto, se seguem roteiros sugeridos ao fim de cada vídeo, ou ainda se querem entrar no modo aleatório. Em outra sala, que pode ser visitada antes ou depois do percurso pela narrativa, há retratos das personagens em vídeo, projetados nas paredes.
Uma nova fotografia de cena – ou deveríamos chamá-la por outro nome?
Quando a pandemia da COVID-19 alcançou o Brasil, eu estava na cidade de São Paulo realizando a cobertura da sua Mostra Internacional de Teatro, a MIT-sp. Nos últimos dias do evento, convivemos com teatros fechando, espetáculos sendo cancelados ou alterando seus locais de apresentação. De volta a Belo Horizonte, em poucos dias tudo estava fechado. Aqueles haviam sido meus últimos espetáculos presenciais fotografados em 2020. Voltei a entrar em um teatro apenas no último mês de julho.
No primeiro momento, aproveitei para me debruçar sobre a edição do material da mostra, acreditando, como grande parte da população brasileira, que a quarentena imposta faria jus ao que seu nome sugeria. Uma parada nas atividades por algo em torno de 40 dias para, aos poucos, retomarmos o ritmo de trabalho. Com o passar tempo, fomos vendo que isso estava muito distante da dura realidade dos fatos.
Finalizada a organização das fotos da MIT, comecei a acompanhar pelo computador as primeiras experiências online que os artistas da cena vinham criando, pois com os teatros fechados, outros caminhos precisavam ser buscados. O momento estava dado à experimentação.
Mas e a fotografia?