Tag: Inez Viana

Não somos destino

17 de outubro de 2021 Críticas

Não sei há quantos dias permaneço aqui, entre uma vídeochamada e uma aula remota, entre um livro e uma performance. Arrisco uma palavra ou outra, engasgo, gaguejo, desisto, me entrego… E, então, escrevo. Neste empenho em manter a sanidade, abro um vinho, leio um livro, ouso começar um artigo do zero, apago as únicas cinco linhas que esbocei. Respiro. Eu acho. Busco o ar. Nem sempre o encontro. Falta o ar. Não sei se é ansiedade, mais uma crise de asma ou sintoma de Covid-19. Ou se é tudo isso ao mesmo tempo. Quinze abas abertas no notebook. Em uma delas, sinto o impacto de uma colisão forte o bastante para me sacudir, me resgatar de mim mesma em um fim de tarde de domingo, um encontro que me devolveu o ar que há poucas linhas me faltava. Encontrei-me com Debora, Debora Lamm, dando vida ao texto “Mata teu pai”, de Grace Passô.

Perguntas sobre o trágico

22 de outubro de 2013 Críticas
Foto: Divulgação.

Nesta breve análise da montagem da peça Maravilhoso, texto de Diogo Liberano encenado por Inês Viana, que esteve em cartaz no Teatro Gláucio Gill no segundo semestre de 2013, procuro pensar a perspectiva trágica a partir do texto e de algumas escolhas da encenação com o trabalho dos atores.

O projeto de montagem da peça Maravilhoso partiu da ideia do ator Paulo Verlings de unir o Fausto de Goethe com o carnaval carioca. Liberano, convidado a escrever o texto, surpreende com um Fausto improvável: jovem, pobre e desprovido de formação intelectual. Seu protagonista, Henrique, interpretado por Paulo Verlings, não tem pretensões criadoras, é um Fausto sem vida interior. Sua vida material também é escassa. Com essa condição do personagem na trama, a dialética entre interior e exterior que move o Fausto de Goethe para uma vertigem criadora não acontece. A opção é curiosa. Este Fausto aspira a quê? Vende sua alma para quê?

A violência latente de todos nós

22 de outubro de 2013 Críticas
Foto: Divulgação.

A ditadura militar é um passado recente ainda cheio de lacunas que Nem mesmo todo o oceano procura formalizar sob uma perspectiva não muito habitual. O espetáculo da Cia OmondÉ, dirigido por Inez Viana, transpõe para o teatro o livro homônimo do mineiro Alcione Araújo que narra o percurso de ascensão e queda da vida de um jovem do interior do país que segue a carreira de médico no Rio de Janeiro em meio a gestação, apogeu e declínio da ditadura no Brasil.

O tratamento mostrado na encenação por aspectos de teor tipificado das partes do conflito, ou seja, da perspectiva dos militares por um lado, e por outro da articulação estudantil, emprega, na maioria dos casos, uma percepção que tende ao popular ou alegórico se quisermos. Tal percepção, em seu extremo, parece se aproximar da mitificação. Porem, no mito narrado pela Cia OmondÉ o herói é a marca da tragédia do homem contemporâneo deixado à nu sob um céu sem deuses. Conhecemos bem a história de Ulisses na Odisseia de Homero em que, durante seu regresso a Ítaca, sempre que foi necessário, teve o auxílio de Hermes e Atenas. O sentido quase que premente de uma totalidade no mundo grego era consolidado pela intensa relação entre homens e deuses, sem a qual, os primeiros provavelmente não poderiam enfrentar o mundo da realidade objetiva. Na fábula atual o homem está sozinho.

Anacronismos de uma história muito bem contada

15 de março de 2008 Críticas

Esta crítica fala sobre o espetáculo como foi apresentado na sua primeira temporada, realizada no Mezanino do Espaço SESC em dezembro de 2007. Atualmente, está em cartaz no Teatro dos Quatro.

A atriz Inês Vianna não é a feia que Moacyr Scliar escreveu em seu romance A mulher que escreveu a Bíblia, na verdade ela é até bonita. Assim como seu figurino excepcional, criado por Ruy Cortez é bonito, funcional e também feio para a bonita atriz. Já o cenário de Sérgio Marimba é bem feio – esse é feio mesmo – e iluminado fazendo nem bonito nem feio por Maneco Quinderé. Essa equipe bonita, nada feia e competentíssima, seguida ainda pela bela preparação corporal da igualmente bela Daniela Amorim e pela música original não adjetivada por mim de Marcelo Alonso Neves servem ao brilhantismo da atriz e à belíssima adaptação e direção, respectivamente, de Thereza Falcão e Guilherme Piva. O monólogo que se vê no palco/mezanino do Espaço SESC, em uma hora e pouco, é o relato de uma mulher que descobre, a partir de uma seção de regressão, não só ter sido uma das setecentas mulheres do Rei Salomão como ainda ter escrito a Bíblia há 3.000 anos. E a mola propulsora se dá no momento em que nossa protagonista se depara com sua fealdade.

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Questão de Crítica

A Questão de Crítica – Revista eletrônica de críticas e estudos teatrais – foi lançada no Rio de Janeiro em março de 2008 como um espaço de reflexão sobre as artes cênicas que tem por objetivo colocar em prática o exercício da crítica. Atualmente com quatro edições por ano, a Questão de Crítica se apresenta como um mecanismo de fomento à discussão teórica sobre teatro e como um lugar de intercâmbio entre artistas e espectadores, proporcionando uma convivência de ideias num espaço de livre acesso.

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