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O teatro, sob muitos cuidados e em pleno movimento

5 de setembro de 2021 Críticas

É só uma história, um recorte de um dia na vida de uma família: o aniversário de um rapaz que está em uma cadeira de rodas, uma condição irreversível que sua mãe tem muita resistência em admitir. Ao longo desse dia, vários personagens aparecem, tanto aqueles que vivem na mesma casa, quanto os que vieram para o aniversário. Meu filho só anda um pouco mais lento, peça do dramaturgo croata Ivor Martinić, apresenta uma narrativa despretensiosa, sem sobressaltos aparentes. Um panorama. Muitos detalhes por imaginar. No elenco, Antonio Pitanga, Camila Moura, Elisa Lucinda, Enrique Diaz, Felipe Frazão, Hypólito, Leandro Santanna, Maria Esmeralda Forte, Simone Mazzer e Verônica Rocha.

A escolha feita pelo diretor Rodrigo Portella no contexto da pandemia e nas instalações do Oi Futuro, centro cultural que sedia e patrocina a obra, é bastante particular. Um projeto de teatro que não se materializa em um formato imediatamente reconhecível como teatro. Em uma sala de exposições, pouco mais de vinte televisores estão espalhados em um labirinto montado com telas pretas translúcidas que pendem do teto. Nos televisores, as cenas da peça, com fotografia e montagem de Pedro Murad, umas gravadas no teatro, com elementos de cena característicos do teatro, outras gravadas em espaços externos, em que se estabelecem outras relações entre as diversas personagens. Cada espectador escolhe se quer ver as cenas na ordem em que aparecem originalmente no texto, se seguem roteiros sugeridos ao fim de cada vídeo, ou ainda se querem entrar no modo aleatório. Em outra sala, que pode ser visitada antes ou depois do percurso pela narrativa, há retratos das personagens em vídeo, projetados nas paredes.

O lugar do ressentido

30 de agosto de 2013 Críticas
Foto: Divulgação.

Um filho que esquarteja o pai. Poderia ser capa de um jornal sensacionalista. Ou notícia de um programa de televisão da tarde. Um acontecimento para uma semana de comoção nacional. Mas não é disso que se trata, do esquartejamento do pai, e sim dos motivos por detrás do ato. Cine-Monstro, traduzido por Bárbara Duvivier e pelo diretor Enrique Diaz do original Monster (1998), de Daniel MacIvor, é o terceiro texto do dramaturgo canadense que o diretor brasileiro põe nos palcos. In on it (2009) e A primeira vista (2012) são referência de como o autor organiza a dramaturgia: 1) período longo de tensão na vida das personagens; 2) perda do controle emocional e 3) final supostamente surpreendente.

A primeira vista e três dramaturgias – uma crônica-poética da morte e da vida

23 de junho de 2012 Críticas
Foto: Divulgação.

A peça A primeira vista de Daniel MacIvor dirigida por Enrique Diaz conta, fragmentariamente, a história de duas mulheres (vividas por Drica Moraes e Mariana Lima) que se conhecem num lugar banal e por meio de um encontro aleatório. Vivem, a partir daí, uma história de amor. Ou seja, no meio da banalidade dos acontecimentos de suas vidas, erige-se um enorme afeto. Esse faz com que se permitam uma experiência homoafetiva, cheia de desencontros e de decepções – apesar de elas desconhecerem, aparentemente, a prática homossexual em suas vivências afetivo-sexuais anteriores.

Depois da primeira noite, a personagem interpretada por Mariana Lima foge antes de sua amiga acordar, e comenta, como narradora, acerca da dificuldade de se ver como bissexual, pois, segundo ela, a bissexualidade exige do indivíduo grande poder de organização, qualidade que ela não dispunha naquele momento.

Morrer de urso ou Inovação do momento original

30 de abril de 2012 Críticas
Foto: Divulgação.

A peça À primeira vista, dirigida por Enrique Diaz e em cartaz no Teatro Poeira, é uma poética ordenada pelo conteúdo contemporâneo do mundo calcado no visual. O que aparece, o que pode ser visto é, mais ainda que o mote, o lugar das origens. Lugar que se desterritorializa por que abre sempre novas linhas de fuga, porque pela sua simples presença já aponta para algum outro lugar de fora. A relação das duas mulheres vividas por Drica Moraes e Mariana Lima é uma reimpressão constante de momentos em que uma vê a outra, desdobramento de um primeiro momento em que se viram em uma loja de material de camping. Ato de ver investido de afeto. A encenação é a segunda experiência de Enrique Diaz com a dramaturgia de Daniel MacIvor. A primeira tratou-se de In On It que estreou em 2009.

Corações comovidos… e outras histórias

25 de junho de 2011 Críticas

O texto que segue foi publicado no Jornal do Brasil em 13 de maio de 2009, durante a primeira temporada desta peça, que estreou no Oi Futuro Flamengo e agora reestreia no Teatro Nelson Rodrigues. Para esta edição, foram modificadas as informações sobre a temporada e outros detalhes, mas foram mantidos o formato e a extensão, característicos da crítica escrita para o jornal impresso.

Esqueça as fantasias de personagens da Disney, as peças infantis que imitam filmes que todo o mundo já viu e as insossas histórias de princesas. Em cartaz Teatro Nelson Rodrigues para uma curta temporada, A mulher que matou os peixes…e outros bichos passa longe da mesmice do teatro infantil. Não sobra um clichê pra contar a história. Aliás, a peça também não segue o protocolo que determina que, para fazer uma peça infantil, é preciso contar uma história. Ela conta várias: a da mulher que matou os peixes, do gato acertadamente apelidado Pinel, de vários cachorros que não estão mais entre nós, de uma macaca que também não teve vida longa, enfim, a peça reúne uma série de relatos improváveis para o divertimento. A morte dos bichos de estimação, um dos fatos da infância que parece sacudir a forma como as crianças veem o mundo, é um tema que permeia toda a peça. Mas sem apelação para a choradeira. Pelo contrário.

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Questão de Crítica

A Questão de Crítica – Revista eletrônica de críticas e estudos teatrais – foi lançada no Rio de Janeiro em março de 2008 como um espaço de reflexão sobre as artes cênicas que tem por objetivo colocar em prática o exercício da crítica. Atualmente com quatro edições por ano, a Questão de Crítica se apresenta como um mecanismo de fomento à discussão teórica sobre teatro e como um lugar de intercâmbio entre artistas e espectadores, proporcionando uma convivência de ideias num espaço de livre acesso.

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