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Uma carta para Mão

12 de novembro de 2019 Críticas

Rio de Janeiro, 2 de julho de 2019.

Para as mãos de Mão.

Essas são as minhas mãos. Eu quis compartilhá-las com vocês assim que o espetáculo terminou. Através das minhas mãos, que exibem calos somente de escrita, de tanto pressionar a caneta contra os dedos, que quero começar. O começo da mão é uma espécie de fim do corpo. Nos dedinhos, onde a mão começa, é também onde se delimita uma fronteira. Depois da mão, tudo é construção. Assim como depois dos pés e outras terminações. Tem fim a mão? Ou o que ela toca transforma-se numa espécie de prolongamento, prótese de continuidade? Com certeza tem gente que pensa que a mão começa no pulso. Aceito. Mas prefiro que a mão comece nos dedinhos, que ela venha de fora para dentro, que ela comece no ar, perto das unhas.

O mar e o espaço de uma utopia melancólica

14 de abril de 2013 Críticas
Foto: Divulgação.

Um documento do desejo construtivo e de morte de uma peça em que seus integrantes são aventureiros que se deslocam por territórios que reúnem em si a fisicalidade dos espaços percorridos e seus imaginários. O trabalho é uma parceria-mistura da companhia Foguetes maravilha do Brasil, e da Mundo perfeito de Portugal, e nada mais apropriado do que o princípio do argumento em que as duas companhias se encontram num veleiro no Oceano Atlântico para realizar a peça: espaço de plasma, de deriva, de tempestade, onde a morte é uma possibilidade latente. Então o maravilhoso do mundo só pode mesmo existir pelo confronto cínico com a morte.

A mímesis constelatória de um maravilhoso museu em movimento

30 de setembro de 2012 Críticas

O maravilhoso museu da caça e da natureza, espetáculo dirigido por Renato Linhares, que esteve em cartaz no Espaço Cultural Municipal Sérgio Porto de 31 de agosto a 23 de setembro deste ano, traz ao tablado uma série reflexiva sobre a mímesis. Esta categoria, felizmente, não é mais igualável ao significado de limitação artística, trazida pela moralização da ideia de cópia-modelo. Pode-se percebê-la, como mostra o espetáculo, de modo constelatório, abrindo-se em imagens que se cruzam e se distanciam, e não apenas por meio da percepção da cópia de um paradigma fixo.

Walter Benjamin diz, em seu ensaio A doutrina das semelhanças, que “os jogos infantis são impregnados de comportamentos miméticos, que não se limitam de modo algum à imitação de pessoas.” Daí ele avança: “A criança não brinca apenas de ser comerciante ou professor, mas também de moinho de vento e trem.” (BENJAMIN, 1996, 108). Neste sentido, o filósofo nos expõe o quão ampla é a faculdade mimética na criança, sem restringi-la a imitação de pessoas, mas apresenta-nos o potencial de imitação em direção ao sujeito (“comerciante ou professor”) e à máquina (moinho de vento e trem). Em outra passagem, Benjamin mostra, fundamentalmente, o quanto a busca pelo semelhante se aproxima da práxis do astrólogo. Assim como esse interpreta a diversidade das significações dos planetas e as tensões existentes entre eles, num jogo de associações em busca das semelhanças, a criança brinca de ser “comerciante ou professor” e “moinho de vento e trem”. Ela, portanto, modifica o campo circunstancial do referente e pode produzir jogos de semelhanças tanto dentro de um contexto humano quanto maquínico.

Corações comovidos… e outras histórias

25 de junho de 2011 Críticas

O texto que segue foi publicado no Jornal do Brasil em 13 de maio de 2009, durante a primeira temporada desta peça, que estreou no Oi Futuro Flamengo e agora reestreia no Teatro Nelson Rodrigues. Para esta edição, foram modificadas as informações sobre a temporada e outros detalhes, mas foram mantidos o formato e a extensão, característicos da crítica escrita para o jornal impresso.

Esqueça as fantasias de personagens da Disney, as peças infantis que imitam filmes que todo o mundo já viu e as insossas histórias de princesas. Em cartaz Teatro Nelson Rodrigues para uma curta temporada, A mulher que matou os peixes…e outros bichos passa longe da mesmice do teatro infantil. Não sobra um clichê pra contar a história. Aliás, a peça também não segue o protocolo que determina que, para fazer uma peça infantil, é preciso contar uma história. Ela conta várias: a da mulher que matou os peixes, do gato acertadamente apelidado Pinel, de vários cachorros que não estão mais entre nós, de uma macaca que também não teve vida longa, enfim, a peça reúne uma série de relatos improváveis para o divertimento. A morte dos bichos de estimação, um dos fatos da infância que parece sacudir a forma como as crianças veem o mundo, é um tema que permeia toda a peça. Mas sem apelação para a choradeira. Pelo contrário.

Submersão e respiração de uma dramaturgia com teor de cena

6 de maio de 2011 Críticas
Felipe Rocha, Stella Rabello e Renato Linhares. Foto: Divulgação.

O melhor modo de apresentar as idéias que surgiram a partir do espetáculo Ninguém falou que seria fácil talvez seja tentar esboçar os traços de um pensamento que ainda não pode ser consumido pela escrita. O que seria um lugar comum da escrita, o fato de ser uma expressão da linguagem e, portanto, conter uma medida de indizível e de disforme, se evidencia pela matéria mesma do espetáculo configurado por uma narrativa que busca um trânsito entre a postura dos criadores, dos atuantes e dos receptores. Minha perspectiva aqui foi fisgada pelo o que Daniele Avila escreveu no texto que está no programa. Para refletir sobre o trabalho desenvolvido pela companhia Foguetes maravilha, dirigida por Felipe Rocha em parceria com Alex Cassal, ela se refere a uma dramaturgia singular e emblemática:

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Questão de Crítica

A Questão de Crítica – Revista eletrônica de críticas e estudos teatrais – foi lançada no Rio de Janeiro em março de 2008 como um espaço de reflexão sobre as artes cênicas que tem por objetivo colocar em prática o exercício da crítica. Atualmente com quatro edições por ano, a Questão de Crítica se apresenta como um mecanismo de fomento à discussão teórica sobre teatro e como um lugar de intercâmbio entre artistas e espectadores, proporcionando uma convivência de ideias num espaço de livre acesso.

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