Tag: Camila Moura
O teatro, sob muitos cuidados e em pleno movimento
É só uma história, um recorte de um dia na vida de uma família: o aniversário de um rapaz que está em uma cadeira de rodas, uma condição irreversível que sua mãe tem muita resistência em admitir. Ao longo desse dia, vários personagens aparecem, tanto aqueles que vivem na mesma casa, quanto os que vieram para o aniversário. Meu filho só anda um pouco mais lento, peça do dramaturgo croata Ivor Martinić, apresenta uma narrativa despretensiosa, sem sobressaltos aparentes. Um panorama. Muitos detalhes por imaginar. No elenco, Antonio Pitanga, Camila Moura, Elisa Lucinda, Enrique Diaz, Felipe Frazão, Hypólito, Leandro Santanna, Maria Esmeralda Forte, Simone Mazzer e Verônica Rocha.
A escolha feita pelo diretor Rodrigo Portella no contexto da pandemia e nas instalações do Oi Futuro, centro cultural que sedia e patrocina a obra, é bastante particular. Um projeto de teatro que não se materializa em um formato imediatamente reconhecível como teatro. Em uma sala de exposições, pouco mais de vinte televisores estão espalhados em um labirinto montado com telas pretas translúcidas que pendem do teto. Nos televisores, as cenas da peça, com fotografia e montagem de Pedro Murad, umas gravadas no teatro, com elementos de cena característicos do teatro, outras gravadas em espaços externos, em que se estabelecem outras relações entre as diversas personagens. Cada espectador escolhe se quer ver as cenas na ordem em que aparecem originalmente no texto, se seguem roteiros sugeridos ao fim de cada vídeo, ou ainda se querem entrar no modo aleatório. Em outra sala, que pode ser visitada antes ou depois do percurso pela narrativa, há retratos das personagens em vídeo, projetados nas paredes.
Uma carta para Mão
Rio de Janeiro, 2 de julho de 2019.
Para as mãos de Mão.
Essas são as minhas mãos. Eu quis compartilhá-las com vocês assim que o espetáculo terminou. Através das minhas mãos, que exibem calos somente de escrita, de tanto pressionar a caneta contra os dedos, que quero começar. O começo da mão é uma espécie de fim do corpo. Nos dedinhos, onde a mão começa, é também onde se delimita uma fronteira. Depois da mão, tudo é construção. Assim como depois dos pés e outras terminações. Tem fim a mão? Ou o que ela toca transforma-se numa espécie de prolongamento, prótese de continuidade? Com certeza tem gente que pensa que a mão começa no pulso. Aceito. Mas prefiro que a mão comece nos dedinhos, que ela venha de fora para dentro, que ela comece no ar, perto das unhas.