Tag: teatro digital
O feminino independente do corpo & a performance independente da plataforma
Uma confluência de idiomas: português e espanhol. Como numa viajem de avião, somos convidades a navegar pelo continente intitulado América Latina. Imagens e sons desconexos revelam na tela corpos não desvelados, assim como as vozes. Os performers que constroem e materializam imagem-som em suas corpas e na tela são Nina da Costa Reis e Eduardo Ibraim; uma mulher cisgênera e um homem cis, ou melhor, uma bicha. Essa interação entre bicha-mulher-tela, multilíngue e performática, é chamada de Gaia, uma experiência promovida através do YouTube em cartaz na parceria com o Pandêmica Coletivo Temporário de Criação.
Diário de uma atriz em confinamento e em criação
Fui investigar agora e vi que começamos a nos falar, eu e Mauro Schames, sobre qualquer coisa aleatória, em 18 de março. Eu estava em casa, já em quarentena, desde o dia 16. Já tínhamos nos visto umas 4, 5 vezes. Temos as mesmas agentes. Já nos vimos em cena. Não éramos amigos. No dia 18 de março um perguntou pro outro:
– E você, tá bem de quarentena?
No dia 02 de abril já tínhamos lido pela primeira vez o texto A história dos ursos pandas (contada por um saxofonista que tem uma namorada em Frankfurt) de Matei Visniec, proposto pelo Mauro, cada um na frente do seu computador. Logo pintou um primeiro edital e nós dois batemos a cabeça fazendo testes de como iríamos nos filmar para propor esse texto ao edital do Itaú Cultural, que tinha inscrições abertas entre 06 a 10 de abril. Depois de algumas tentativas mal sucedidas de filmagens de trechos de cenas da peça, Mauro sugeriu sabiamente Bruno Kott para a direção. Eu nunca tinha ouvido falar nele e descobri, depois, que ele já havia me visto em cena. Bruno e eu nunca nos encontramos pessoalmente. E isso é incrível.
A dúvida é razoável
12 pessoas com raiva é o título da peça de teatro dirigida por Juracy de Oliveira para fazer apresentações pelo Zoom neste primeiro semestre de 2020. No elenco, estão Ênio Cavalcante, Gabrielly Arcas, Gilson de Barros, Giovanna Araújo, José Henrique Ligabue, Leandro Vieira, Mariana Queiroz, Maurício Lima, Múcia Teixeira, Nely Coelho, Ralph Duccini e Tatiana Henrique. O texto é uma adaptação de Juracy do texto escrito pelo estado-unidense Reginald Rose nos anos 1950. O filme 12 Angry Men é um clássico de 1957 protagonizado por Henry Fonda, e que depois ganhou um remake em 1992. Há poucos anos o grupo TAPA realizou uma adaptação para o teatro, com a tradução 12 homens e uma sentença, a mesma usada para lançar ambos os filmes no Brasil, que carrega a infeliz escolha de suprimir a raiva do título.
O paradoxo da existência virtual (do teatro)
O fechamento dos teatros, para nós que frequentávamos o teatro três ou quatro vezes por semana (e não me refiro apenas aos críticos e jurados de prêmios, como é o meu caso, mas às atrizes, atores, faxineirxs, diretorxs, iluminadorxs, cenógrafxs, porteirxs, bilheteirxs, seguranças, aficcionadxs de todos os tipos, etc) faz lembrar aquela história da pessoa que teve uma perna amputada, mas que todas as noites sente uma coceira insuportável no membro perdido. Não são poucas as coisas nesta vida que se tornam mais reais e imprescindíveis quando as perdemos. Ou estamos na iminência de perder. (E não me refiro apenas à liberdade em tempos de quarentena e desgoverno…).