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Um deslocamento do comum para o incomum
No Brasil foram destruídos os documentos da época da escravidão, impossibilitando que as pessoas negras identificassem a sua origem. Desde a escravização, os negros e negras têm sido contados (as) ao invés de contarem a sua própria história. O protagonismo negro na sua própria narrativa é uma possibilidade recente, fruto dos movimentos negros que se reorganizaram na década de 1970 no Brasil, repercutindo artística e culturalmente quando poéticas e estéticas negras foram reconstruídas. Era preciso entender a história para resistir a ela e construir o novo, algo fundamental para a população negra. Contar a versão de si mesmos, que remete ao lema popular negro “nós por nós”, é uma forma de escurecer o futuro. Contar a sua própria história é tornar-se sujeito, fazer jus a um locus social, além de ser uma poderosa maneira de decolonizar os corpos imagética e ideologicamente. “É por aí que o discurso ideológico se faz presente. Já a memória a gente considera como o não saber que conhece, esse lugar de inscrições que restituem uma história que não foi escrita, o lugar da emergência da verdade, dessa verdade que se estrutura como ficção” (RATTS, RIOS, 2010. p.74). Ou então precisa tornar a ficção mais real.