Autor Renan Ji

Os fofos encenam o popular

30 de junho de 2014 Críticas

Vol. VII, nº 62, junho de 2014

RESUMO: O texto pretende estabelecer pontos de aproximação e de afastamento que o espetáculo Assombrações do Recife Velho estabelece com a noção tradicional de cultural popular. Esta noção, por sua vez, possui ela mesma dificuldades de definição, e a peça da companhia Os Fofos Encenam se insere precisamente como ponto de articulação dessas questões.

Palavras-chave: Os Fofos Encenam; Gilberto Freyre; Cultura popular.

ABSTRACT: The essay’s intention is to establish elements on the play Assombrações do Recife Velho in which we will find moments of convergence and divergence from the traditional notion of popular culture. In its turn, this notion presents itself difficulties concerning its own definition. The play by the Brazilian theatre company Os Fofos Encenam shows us an interesting articulation of these questions.

Key-words: Os Fofos Encenam; Gilberto Freyre; popular culture.

Ce qui demeure

30 de junho de 2014 En français, Traduções

Critique du spectacle Le Duel (O duelo) par la « Mundana Companhia » (Mondaine Compagnie)

Traduit par Diego Viana.

Aury Porto et Pascoal da Conceição. Image : Renato Magolin.

Pour Alexandre Marçal, Naiara Barrozo et Ricardo Freitas

Le Duel commence par un salut au public: le spectacle va démarrer. Avec cette première révérence faite aux spectateurs, qui situe le jour de la présentation (le 6 mars 2014), le spectacle de la Mundana Companhia, présenté en février et mars dernier au Teatro Tom Jobim de Rio de Janeiro, a les apparences de ce que je nommerais une esthétique foraine. Cette expression est justifiée, non seulement par la présence de quelques signes se rapportant à une piste de cirque (ce qui est effectivement le cas), mais surtout par le fait que soit rendu possible, une certaine façon d’envisager la multiplicité de différentes couches dramaturgiques dans le spectacle. Je pense à la piste du cirque comme une manière d’introduire des impressions sur un travail qui semble rechercher le sensoriel, la proximité viscérale du public avec l’histoire racontée. Une histoire qui par moments, invite le spectateur à danser avec les acteurs, qui se trouvent souvent à quelques millimètres à peine de leur auditoire, parlant souvent de leurs personnages à la troisième personne, devenant ainsi des narrateurs. Au delà de cette absence de quatrième mur – où un spectacle se déclare comme étant un spectacle –, le cirque rend aussi possible l’emploi d’objets quotidiens, d’éléments de la culture populaire, il permet l’utilisation des dispositifs techniques les plus élaborés (sans être pour autant technologiques), avec des enchaînements et des lumières qui font penser au Cirque du Soleil.

Aquilo que fica

31 de março de 2014 Críticas
Aury Porto e Pascoal da Conceição. Foto: Renato Magolin.

Para Alexandre Marçal, Naiara Barrozo e Ricardo Freitas

O duelo começa com uma saudação ao respeitável público: o espetáculo vai começar. Com uma referência direta à plateia, situando o dia da apresentação — 6 de março de 2014 —, o espetáculo da mundana companhia, que cumpriu temporada nos meses de fevereiro e março no Teatro Tom Jobim, parece se filiar ao que chamo de uma estética circense. Esta expressão se aplica não tanto pela presença de alguns signos que remetem ao picadeiro (o que de fato se verifica), mas principalmente por possibilitar uma forma de abordar as várias camadas dramatúrgicas do espetáculo. Penso no palco circense como uma maneira de introduzir impressões sobre um trabalho que parece buscar a sensorialidade, a proximidade visceral do público com a história narrada. Uma história que em determinados momentos convida o espectador a dançar com os atores, os quais, por seu turno, muitas vezes estão a centímetros da plateia e frequentemente falam de seus personagens em terceira pessoa, assumindo as vezes de narradores. Para além dessa quebra da quarta parede — em que um espetáculo se declara como espetáculo —, o circo enseja, também, a possibilidade de utilizar desde objetos cotidianos e elementos da cultura popular, até o mais elaborado aparato técnico (que não é sinônimo de tecnológico), com texturas e luzes à la Cirque du Soleil.

Por um fio

24 de outubro de 2013 Críticas
Foto: Divulgação.

Entro na Sala Glauce Rocha, escura, segurando uma lanterna (dada ao espectador pela produção), e procuro um lugar na plateia. O espetáculo começava com cerca de meia hora de atraso e a sensação era de que o teatro estava por um fio: uma certa náusea que precede a quase desistência, “preciso ir para casa”, “está ficando tarde”, e outras fugas e recusas mais. Nesse contexto, assistir a uma peça seria quase um ato de resistência — ou, ainda, de persistência —, como se o teatro tivesse que ser garimpado, conquistado, buscado nos recônditos das artes, em galpões clandestinos. No entanto, hoje vejo que a peça na verdade já tinha começado naquele momento, do lado de fora, no avesso do teatro. Sem qualquer trilha sonora ou contextualização narrativa, dois homens se encontram e iniciam uma conversa, depois de enxotados a pontapés por uma porta. Foram expulsos do teatro. Fecha-se o círculo: tomando-me como um hipotético microcosmo da plateia, a reação adversa do público espelha a própria expulsão dos dois últimos remanescentes da arte teatral. Minha impaciência muda como espectador se conectava subitamente ao espaço oco do qual aqueles dois personagens estavam sendo banidos.

Ao redor da sala de estar

21 de julho de 2013 Críticas
Foto: Paula Kossatz.

A peça As horas entre nós, que esteve em cartaz no Espaço Cultural Sérgio Porto, provocou minha percepção principalmente pelo cenário, de concepção de Joelson Gusson. Junto com Diego de Angeli, a dramaturgia assinada também por Gusson parece se calcar na estrutura espacial proposta pelo cenário, a partir do qual extrairei algumas possíveis leituras desse trabalho, que buscou ser ele mesmo uma releitura de Mrs. Dalloway, de Virginia Woolf, com ecos inevitáveis do livro e filme As horas, de Michael Cunningham e Stephen Daldry, respectivamente.

Newsletter

Edições Anteriores

Questão de Crítica

A Questão de Crítica – Revista eletrônica de críticas e estudos teatrais – foi lançada no Rio de Janeiro em março de 2008 como um espaço de reflexão sobre as artes cênicas que tem por objetivo colocar em prática o exercício da crítica. Atualmente com quatro edições por ano, a Questão de Crítica se apresenta como um mecanismo de fomento à discussão teórica sobre teatro e como um lugar de intercâmbio entre artistas e espectadores, proporcionando uma convivência de ideias num espaço de livre acesso.

Edições Anteriores