Tag: leonardo corajo

Liberdade pela metade

19 de janeiro de 2018 Críticas
Foto: Ricardo Brajterman.
Foto: Ricardo Brajterman.

A ideia de entrar no teatro para ver uma releitura de Shakespeare, ainda mais com este belo título, O animal que ronda, me deixa sempre numa expectativa prazerosa. Não só porque as releituras dos clássicos são mais raras do que eu gostaria na cena teatral carioca, mas sobretudo porque, ao ver uma nova interpretação de uma obra canônica, duas vertentes muitas vezes antitéticas do meu trabalho, a de crítico teatral e a de professor de filosofia, encontram uma síntese que faz com que eu me sinta menos partido. Afinal, como professor universitário, eu sou fundamentalmente um leitor de releituras de obras clássicas. Nesse sentido, independentemente da minha vontade consciente, me sentei na arquibancada do Espaço Municipal Sergio Porto com duas perguntas (ou exigências) na cabeça.

O trans e a trans: fábula mundo

31 de agosto de 2015 Críticas

Vol. VIII, nº 65, agosto de 2015

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Resumo: Crítica dos espetáculos A geladeira e O homossexual, ou a dificuldade de se expressar, de Raul Damonte Botana, mais conhecido como Copi, à luz do conceito de ator-travesti cunhado pelo próprio artista e retrabalhado nas encenações dirigidas, respectivamente, por Thomas Quillardet e Fabiano de Freitas. Os trabalhos fizeram parte da Ocupação Copi ocorrida no SESC Copacabana e no Museu de Arte do Rio, em julho deste ano.

Palavras-chave: Copi, transgênero, ator-travesti

Abstract: Critical review of the plays A geladeira and O homossexual, ou a dificuldade de se expressar, written by Raul Damonte Botana, known as Copi. Both works – the former directed by Thomas Quillardet and the later by Fabiano de Freitas – shape their own reading of the concept of the “transvestite actor”, a concept created by Copi to define most of his work. The plays were part of the event Ocupação Copi, that took place last July in Rio de Janeiro.

Keywords: Copi, transgender, transvestite actor

 

Observo no google as imagens do argentino Raul Damonte Botana (1939-1987), e tento imaginá-lo em proximidade e concretude. Travestido de drag ou de modelo Tom of Finland, ele incorpora o que normalmente conceberíamos como o “ator-travesti”, conceito cunhado pelo próprio artista para definir estética e ideologicamente boa parte de seus trabalhos. Contudo, acredito que nas imagens do cotidiano podemos também flagrar esse conceito tão central na obra do autor. Vejo no olhar risonho, sardônico mesmo nas poses mais despretensiosas e contidas, uma espécie de humor irreverente que parece denunciar em germe o ator-travesti por trás do corpo franzino e pálido, tão branco que sua avó o chamará “copito de nieve”, originando mais tarde o apelido / nome artístico com que ficaria conhecido: Copi. O olhar do autor de Loretta Strong parece resistir como o próprio enigma do ator-travesti – enredado nos fluxos metamórficos e transitórios, entre as diversas identidades, gêneros e sexualidades –, mas encerrando sempre um inevitável gosto pelo riso debochado e pela crítica ferina dos costumes.

Ao redor da sala de estar

21 de julho de 2013 Críticas
Foto: Paula Kossatz.

A peça As horas entre nós, que esteve em cartaz no Espaço Cultural Sérgio Porto, provocou minha percepção principalmente pelo cenário, de concepção de Joelson Gusson. Junto com Diego de Angeli, a dramaturgia assinada também por Gusson parece se calcar na estrutura espacial proposta pelo cenário, a partir do qual extrairei algumas possíveis leituras desse trabalho, que buscou ser ele mesmo uma releitura de Mrs. Dalloway, de Virginia Woolf, com ecos inevitáveis do livro e filme As horas, de Michael Cunningham e Stephen Daldry, respectivamente.

Entre nós

8 de julho de 2013 Críticas
Foto: Paula Kossatz.

As horas entre nós, atualmente em cartaz no Espaço Cultural Sérgio Porto, é um exemplo interessante da recriação de uma obra literária, que faz uma transposição de ideias e acontecimentos para um contexto diferente do qual se partiu. O termo “adaptação” não me parece exato para definir o trabalho, pois convida a uma comparação infrutífera com um determinado “original”. Existe, de fato, um ponto de partida: Mrs Dalloway, de Virginia Woolf. Mas não parece haver, na montagem, um compromisso de prestação de contas com o romance, e sim uma dinâmica de afastamento e aproximação, de afinidade à distância com a obra, trabalhada com delicadeza na dramaturgia de Diego de Angeli e de Joelson Gusson, que também assina a direção, a adaptação e a concepção, esta junto com Cristina Flores. É possível perceber um excesso de créditos em torno da autoria: concepção, adaptação, dramaturgia, além da observação na capa do programa que diz “livremente inspirado em Mrs Dalloway, de Virginia Woolf”. O título da peça também faz referência ao livro de Michael Cunningham e ao filme de Stephen Daldry, As horas. Essa condição espalhada da autoria pode ser interessante.

O conteúdo da forma

17 de maio de 2012 Traduções
Foto: Divulgação.
Foto: Divulgação.

Tradução de Denisa Václavová e Joelson Gusson para o texto de Marcela Magdová, publicado originalmente na revista Divadelní Noviny em 19 de outubro de 2011.

Grotesco e elegante, com ritmo modernista tipicamente brasileiro, Manifesto Ciborgue, apresentado no Archa Theatre, junta português, inglês e tcheco. Especial diversão – na noite de quarta-feira no Four Days Festival – misturada com gotas de uma reflexão profunda.

Joelson Gusson, um dos diretores proeminentes no atual cenário do teatro experimental do Brasil, diz ter sido inspirado pelo ensaio homônimo, escrito pela bióloga e filósofa norte-americana Donna Haraway durante os anos 80 do século passado, em que a identidade do “ciborgue” é descrita como uma ligação entre o humano e a tecnologia. Ciborgue como uma espécie de estágio intermediário, de transição, entre o homem e a mulher, ou entre o artificial e o natural. A transformação do corpo humano, seja pela mudança de gênero ou através de intervenções na matéria, é o tema principal desta peça criada para dois performers e um esqueleto.

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Questão de Crítica

A Questão de Crítica – Revista eletrônica de críticas e estudos teatrais – foi lançada no Rio de Janeiro em março de 2008 como um espaço de reflexão sobre as artes cênicas que tem por objetivo colocar em prática o exercício da crítica. Atualmente com quatro edições por ano, a Questão de Crítica se apresenta como um mecanismo de fomento à discussão teórica sobre teatro e como um lugar de intercâmbio entre artistas e espectadores, proporcionando uma convivência de ideias num espaço de livre acesso.

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