Autor Daniele Avila Small

Quase nudez X expansão retórica

20 de março de 2008 Estudos

Se eu dissesse aqui simplesmente que o formato peça curta pode ser mais interessante para experimentar uma linguagem ou esboçar uma idéia não estaria dizendo nada demais. Entretanto, digo: pode ser mais interessante experimentar uma linguagem ou esboçar uma idéia em um texto curto do que tentar fazer isso num formato (de tempo) de peça adequado para uma apresentação convencional. Criar uma peça que tenha aproximadamente 90 minutos de duração é a forma padrão de transformar uma idéia de teatro em produto viável. Esta não é a forma mais adequada para toda e qualquer idéia. Mas a viabilidade e adequação ao mercado acabam sendo prioridades.

Me pergunto se é possível dizer que a peça curta é de natureza intervalar. Lembro das peças curtas de Martins Pena, pensadas neste formato devido à natureza intervalar da comédia na época em que ele começou a escrever – o lugar da comédia era o intervalo entre as peças “sérias”. As peças curtas de Beckett têm a sua comicidade – apesar do tratamento solene que o público dá a qualquer coisa que venha com o carimbo de “clássico”. De qualquer forma, colocar a peça curta no centro, no foco do evento – como no festival Resta pouco a dizer – já é sugerir uma reflexão sobre a sua forma e a forma da experimentação no teatro. Mas a experimentação é também de natureza intervalar no teatro carioca? E precisa estar validada por algum carimbo de “clássico” para conseguir seu espaço?

VemVai – O Caminho dos Mortos

20 de março de 2008 Conversas
Foto: divulgação.

Esta conversa foi realizada no dia 1º de março de 2008, durante a breve passagem da Cia Livre pelo Rio de Janeiro. A diretora Cibele Forjaz conta a trajetória da montagem do VemVai, fazendo um relato importante sobre o período de pesquisas do grupo e explicitando como isto se deu na prática, como a pesquisa e a cena estão intrinsecamente conectadas. Num segundo momento, os integrantes da Cia Livre falam sobre o lugar do VemVai na trajetória do grupo, seus pontos em comum com os outros espetáculos e suas características particulares. Falamos ainda sobre a relação da peça com o público carioca e com um público mais específico, a crítica.

Um pouco de fôlego

20 de março de 2008 Críticas
Foto: divulgação

O programa 1 do festival Resta pouco a dizer apresentou, como uma espécie de prólogo no térreo do Oi Futuro, a performance Respiração +, em que dois atores, cada um em um tanque cheio d’água, alternam suas falas com momentos de imersão. Depois deste primeiro momento, o público vai para a sala de espetáculo e vê apenas as peças de Beckett no palco. A projeção das rubricas no tecido translúcido que cobre a boca de cena já indica a valorização da escrita do autor – ou eu deveria dizer da escrita de autor. Com isso, quero dizer que a montagem parece mostrar um interesse em revelar a voz do dramaturgo como pensador da cena e não apenas como criador de cenas. Aquela performance que foi vista no térreo fica quase esquecida – mas apenas quase. O folder que apresenta a programação completa anuncia para os próximos programas outras performances que prometem, pelo título, dialogar com aquela: A repetição da primeira, além de Respiração I, Respiração II e Respiração embolada no programa 2 e, ainda, Respiração – no programa 3.

No trajeto entre uma idéia e sua concretização

20 de março de 2008 Críticas
Atriz: Marcela Moura. Foto: divulgação.

A montagem de André, que esteve em cartaz no Oi Futuro entre novembro de 2006 e fevereiro de 2007, pode ser pensada a partir de alguns pontos: a problemática da trajetória entre uma idéia e sua realização – que terá aqui maior atenção; o lugar da pesquisa de linguagem no circuito carioca; e o interesse de um público não-especializado por este tipo de trabalho. O programa da peça dá ao espectador uma idéia da concepção inicial do trabalho, das expectativas da atriz e idealizadora do projeto Marcela Moura, das intenções da diretora Christiane Jatahy, além de ilustrar um possível contexto teórico do qual o projeto se avizinha, através de citações de autores presentes no universo acadêmico como Michel Maffesoli, Beatrice Picon-Valin e Georges Didi-Huberman. Mesmo apresentando o projeto como parte de uma pesquisa de mestrado, o tom dos textos do programa causa a impressão de que a peça não se dirige apenas a um público especializado, mas antes a um público especialmente interessado.

Ser ou não ser Nelson Rodrigues

20 de março de 2008 Críticas

O espetáculo Cachorro! coloca em evidência dois problemas: o estereótipo rodrigueano e a questão da autoria de textos, quando estes são feitos a partir de um universo de determinado autor. No caso, a peça é livremente inspirada no universo de Nelson Rodrigues. A trama busca uma semelhança com seus textos, os nomes dos personagens são familiares aos seus, o texto tenta imitar uma construção de diálogos característica de suas peças, mas a peça não é de Nelson Rodrigues. A autoria é de Jô Bilac.

Aqui se faz necessário pensar o que é o universo de um autor e se é possível pensar este universo separadamente da sua escrita. Existe um universo de Nelson Rodrigues que prescinde de seus textos, que é autônomo, de domínio público? O que tem de importante e particular num texto deste autor: os jargões, as situações, o impacto sobre as questões morais do público, os desfechos trágicos, as gírias da época? Será que extrair do universo de um autor a sua própria escrita não é como retirar as bases da sua construção? Há um risco nesta escolha, o risco de não conseguir sair de uma espécie de clichê, de uma imagem convencionada pelo senso comum. Mesmo que as intenções sejam as mais sérias.

Newsletter

Edições Anteriores

Questão de Crítica

A Questão de Crítica – Revista eletrônica de críticas e estudos teatrais – foi lançada no Rio de Janeiro em março de 2008 como um espaço de reflexão sobre as artes cênicas que tem por objetivo colocar em prática o exercício da crítica. Atualmente com quatro edições por ano, a Questão de Crítica se apresenta como um mecanismo de fomento à discussão teórica sobre teatro e como um lugar de intercâmbio entre artistas e espectadores, proporcionando uma convivência de ideias num espaço de livre acesso.

Edições Anteriores