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Criaturas portadoras de discurso

18 de janeiro de 2011 Estudos
Espetáculo André, de Philippe Minyana, direção de Christianne Jatahy. Na foto, Marcela Moura.

“Antes de vê-lo por inteiro eu vi primeiro suas costas”

André, de Philippe Minyana


No meu primeiro encontro com André, ele se apresentou de costas, como um bloco sólido de palavras sem pontuação, com alguns espaços entre certos parágrafos. Bloco de palavras estrangeiras, francesas, com seu fluxo alucinante. Ao tentar me aproximar delas, me ludibriavam dando voltas num labirinto, produzindo uma música que desviava minha atenção e faziam com que imagens viessem dançar em meus olhos.

Comecei a ler o texto em voz alta, de forma lúdica, pronunciando as palavras em francês. Prestei atenção no volume de ar necessário para falar o maior número possível de palavras por período. Quando não conseguia terminar um bloco de texto sem pontuação na mesma respiração, percebia as nuances de sentido que apareciam em cada pausa respiratória diferente. Dependendo do fluxo de ar nos pulmões, uma nova musicalidade do texto aparecia e novos sentidos se desenhavam.

No trajeto entre uma idéia e sua concretização

20 de março de 2008 Críticas
Atriz: Marcela Moura. Foto: divulgação.

A montagem de André, que esteve em cartaz no Oi Futuro entre novembro de 2006 e fevereiro de 2007, pode ser pensada a partir de alguns pontos: a problemática da trajetória entre uma idéia e sua realização – que terá aqui maior atenção; o lugar da pesquisa de linguagem no circuito carioca; e o interesse de um público não-especializado por este tipo de trabalho. O programa da peça dá ao espectador uma idéia da concepção inicial do trabalho, das expectativas da atriz e idealizadora do projeto Marcela Moura, das intenções da diretora Christiane Jatahy, além de ilustrar um possível contexto teórico do qual o projeto se avizinha, através de citações de autores presentes no universo acadêmico como Michel Maffesoli, Beatrice Picon-Valin e Georges Didi-Huberman. Mesmo apresentando o projeto como parte de uma pesquisa de mestrado, o tom dos textos do programa causa a impressão de que a peça não se dirige apenas a um público especializado, mas antes a um público especialmente interessado.

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Questão de Crítica

A Questão de Crítica – Revista eletrônica de críticas e estudos teatrais – foi lançada no Rio de Janeiro em março de 2008 como um espaço de reflexão sobre as artes cênicas que tem por objetivo colocar em prática o exercício da crítica. Atualmente com quatro edições por ano, a Questão de Crítica se apresenta como um mecanismo de fomento à discussão teórica sobre teatro e como um lugar de intercâmbio entre artistas e espectadores, proporcionando uma convivência de ideias num espaço de livre acesso.

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