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Simplicidade em tempos de Broadway
Por uma série de motivos, a passagem de Fragments pode ter uma boa repercussão no teatro carioca. Esses motivos, para mim, dizem respeito principalmente aos questionamentos que a presença dessa peça pode trazer para o teatro que se faz neste momento no Rio de Janeiro. Penso que é importante pensar como nos relacionamos com os espetáculos que passam por aqui, verificar como eles movimentam nossa visão e nossa prática de teatro.
Epílogo, resíduo ou conclusão
O programa 3 do festival Resta pouco a dizer traz as peças de Beckett Eu não e Rascunho para Teatro II, além das performances Luz –, Respiração – e Luz +. Há também outra performance cujo nome não consta no programa da peça. A performance inicial, Luz –, funciona, por semelhança aos programas 1 e 2, como um prólogo. Ela anuncia a polaridade luz/escuridão como tema. O desenvolvimento do tema, no entanto, não vai além do que já está apresentado no prólogo: tanto esta performance como as que vão ser apresentadas a seguir parecem não explorar o tema de fato, elas têm uma função apenas ilustrativa. A simplicidade das performances do programa 2 se tornou simplificação no programa 3.
Um pouco de fôlego
O programa 1 do festival Resta pouco a dizer apresentou, como uma espécie de prólogo no térreo do Oi Futuro, a performance Respiração +, em que dois atores, cada um em um tanque cheio d’água, alternam suas falas com momentos de imersão. Depois deste primeiro momento, o público vai para a sala de espetáculo e vê apenas as peças de Beckett no palco. A projeção das rubricas no tecido translúcido que cobre a boca de cena já indica a valorização da escrita do autor – ou eu deveria dizer da escrita de autor. Com isso, quero dizer que a montagem parece mostrar um interesse em revelar a voz do dramaturgo como pensador da cena e não apenas como criador de cenas. Aquela performance que foi vista no térreo fica quase esquecida – mas apenas quase. O folder que apresenta a programação completa anuncia para os próximos programas outras performances que prometem, pelo título, dialogar com aquela: A repetição da primeira, além de Respiração I, Respiração II e Respiração embolada no programa 2 e, ainda, Respiração – no programa 3.
Resta pouco a dizer, mas o resto é essencial
Assisti no Oi Futuro ao segundo programa do conjunto de peças curtas de Samuel Beckett, apresentadas sob o nome Resta pouco a dizer, dirigidas por Adriano e Fernando Guimarães. O programa se inicia pela apresentação da performance Respiração +. Esta consiste em: duas caixas de vidro, suspensas por uma armação de ferro, contendo água. Dois performers, por meio de escadas, entram nas caixas. Um terceiro performer porta uma campainha e um relógio. A cada ressoar da campainha, um dos performers emerge da água e instantaneamente diz um texto que alude ao ato de respirar (necessidade, capacidade, etc.).
A dizer sobre Beckett
Do que trata a linguagem de Beckett? Do que ela diz? A que se refere? Essas perguntas não tratam simplesmente do conteúdo da escrita do autor, mas daquilo que ele produz no espaço como criação artística. Beckett não escreve, ele produz blocos concretos nos quais se encontra condensado aquilo que chamaríamos de vida. O que são esses blocos? O que chamaríamos de vida? Wittgenstein escreve em seu Tractatus, a última frase: “daquilo que não se pode falar, é melhor calar”. É disso que Beckett fala, insistentemente, compulsivamente. O seu esforço incansável, melancolicamente absurdo e perfeitamente coerente, é falar do que não pode ser dito, sempre.